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mi gentil capitán Rodrigo
fuzilado em Alicante a 20 de Novembro de 1936 pelos ascendentes do Sapateiro e, de novo, re-assassinado in Memoriam sob o plácido (ou quiçá bovino) olhar burbónico.
José Antonio Primo de Rivera y Sáenz de Heredia (1903-1936), filho do ditador Gen. Miguel Primo de Rivera , era um advogado madrileno que, associado a outros jovens, inconformados com a permanente oposição entre as forças de esquerda e de direita, tentou um caminho, dito de terceira via, que satisfizesse por um lado, a ânsia de Pão e Justiça Social do povo espanhol e, por outro, garantisse a Autoridade necessária à manutenção da Paz e da Unidade de Espanha. Em 1933 era formalmente apresentada no Teatro de la Comedia, em Madrid, a Falange Española. Como oradores - fundadores deram a cara o Prof. García Valdecasas, o consagrado aviador Ruíz de Alda e José António. Inconformados com a aparentemente inelutável oposição dicotómica entre Esquerda e Direita, cuja superação dialéctica propunham, e ansiosos por restaurar para Espanha o prestígio dos tempos áureos, criaram uma forte dinâmica política que atraiu jovens estudantes e intelectuais que não se reviam nem no marxismo nem no conservadorismo reaccionário.
Após a fusão com as Juntas de Ofensiva Nacional Sindicalista, de Ledesma Ramos e de Onésimo Redondo, surgiu em 1934 a organização política Falange Española de las JONS. Diversas referências contribuíram para esta formação política. Sindicalistas socializantes como Ramiro Ledesma Ramos, activistas católicos e ruralistas como Onésimo Redondo, defensores de um estado autoritário e imperial como Maeztu, etc., estiveram na origem daquela que viria a ser a organização política mais marcante nas hostes apoiantes do futuro Levantamento militar. Ortega y Gasset foi uma das principais, se não mesmo a principal, referência filosófica da Falange, apesar dos problemas pessoais que inicialmente teve com José António, derivados da crítica feroz que o pensador fizera a seu pai, o ditador Primo de Rivera. Entraram então, pouco a pouco, muitos elementos militares, operários e trabalhadores rurais, alguns dos quais ex-anarquistas, consolidando cada vez mais uma política revolucionária e um caminho sui generis.
Após a fusão do movimento que criou, a Falange Española, com as J.O.N.S., José António viria a tornar-se no chefe nacional da nova organização. Detido em Março de 1936 como consequência do Decreto que ilegalizou a F.E. de las J.O.N.S., promovido pela maioria da Frente Popular eleita no mês anterior, foi encarcerado, primeiro em Madrid e depois em Alicante (desde 5 de Junho), onde viria a ser fuzilado a 20 de Novembro de 1936. Quer os seus escritos políticos quer a sua inegável capacidade de atrair e empolgar as massas populares, viriam a transformá-lo num dos míticos símbolos dos insurrectos - el Ausente, sebastianista sombra, omnipresente e incómoda para o autoritário líder do Levantamento militar consolidado – o generalíssimo Franco. José António manifestara sempre uma certa antipatia por Franco, a que não era alheia a desconfiança que nutria pelas iniciativas políticas dos militares que, segundo cria, viam na Ordem um valor absoluto em si mesmo e não uma consequência lógica de uma organização social bem estruturada. Apesar de fidalgo e filho de um dos últimos grandes defensores da Monarquia, José António era amonárquico. Essencialmente, defendia uma revolução, ou seja, uma tomada de consciência de novos valores, que permitissem superar a dicotomia Esquerda – Direita, independentemente do sistema político subjacente.
O triunfo da Frente Popular, no início de 36, fizera aumentar o número de filiados da Falange atraídos certamente pela tenacidade, camaradagem e capacidade de ripostar aos permanentes ataques dos partidos da esquerda marxista. Com a prisão de José António, principal arquitecto da sua estratégia política e líder mitificado do movimento, Manuel Hedilla procurou assegurar a chefia interina. Em Julho de 1936, em vésperas da sublevação, a Falange contava com 5 793 filiados e, eventualmente, com um quíntuplo de simpatizantes em toda a Espanha. Contudo, imediatamente após a insurreição, a Falange e as suas milícias denominadas Primera Línea foram a organização político-militar mais procurada pelos voluntários civis mercê do prestígio forjado pela exposição pública e pela mediatizada resistência à perseguição repressiva do governo da Frente Popular. Em poucos meses a Falange contaria com mais de cem mil membros activos em toda a Espanha, embora o talvez demasiado rápido influxo de camisas nuevas e o pulso de ferro de Franco tenham sido fatais para o destino ambicionado pelos camisas viejas. Os falangistas de José António comungavam de um pensamento de conteúdo popular, social e revolucionário que acreditavam dever permitir à Espanha nacional, em cujo triunfo acreditavam, absorver politicamente a Espanha vermelha sem grandes castigos nem vinganças.
É verdade que muitas vezes estas recomendações e ordens da Direcção Central da Falange não encontravam eco em muitos dos recém filiados. A Falange tornara-se não só num atractivo e carismático movimento político para muitos direitistas, até aí indiferentes às ideias de José António, como num coito seguro para vira-casacas socialistas e anarquistas que, como é habitual em muitos neófitos, se transformaram nos zelotas mais radicais. O rápido influxo desses camisas nuevas e o pulso de ferro de Franco foram fatais para o destino ambicionado pelos camisas viejas que, na altura, julgavam ainda dominar a organização. Do ponto de vista do rigor histórico, durante a GCE e com a criação do domesticado movimento unitário Falange Española Tradicionalista y de las J.O.N.S., será mais apropriado falar em FETistas que em Falangistas. Mas, em nenhuma circunstância, pese embora os excessos, o movimento foi o carrasco sádico e desapiedado do tão propalado imaginário gauchiste.
A iniciativa do Decreto de Unificação teve, logicamente, fundamento na necessidade militar de obter blocos de comando coesos e monolíticos, em contraposição ao que se passava no lado oposto. No entanto, foi também favorecida pelo facto de Franco se rever politicamente mais na direita católica e reaccionária, votante na Acción Popular, cujo líder, Gil Robles o havia nomeado Chefe do Estado-Maior General quando fora Ministro da Guerra, no Governo Lerroux. Desconfiava das formações políticas anti-marxistas mais aguerridas, nomeadamente da Falange de José António e, logo que lhe foi possível, tratou de as submeter, obrigando-as a fundirem-se com os aguerridos carlistas, cujo tradicionalismo não se encaixava muito bem no nacional-sindicalismo daqueles. Na prática, essa medida descaracterizou as duas organizações e veio provocar a sua extinção enquanto movimentos autónomos e independentes, tendo subsistido apenas o lado emblemático, folclórico e mítico. No entanto, face ao elevado prestígio da Falange e dos carlistas que eram, na altura, os maiores canais de recrutamento de voluntários, Franco não os podia hostilizar directamente. Mais tarde, legitimado pela Vitória e erigido em fonte de poder absoluto, tratou de dar o golpe final a esses grupos que tão generosamente o haviam acompanhado no Levantamento, enleando os seus hierarcas em prebendas convenientes e em intermináveis enredos burocráticos. Os notáveis da direita clássica, sonsa e nacional-seminarista, no dizer bem-humorado do poeta Agustín de Foxá, que se haviam abstido de confrontar ou criticar Franco e cujos partidos haviam ficado de fora da mira do Decreto da Unificação, puderam entrar facilmente no Novo Regime que saiu da CGE, sob a observação atenta do cunhadíssimo Serrano Suñer, ex-deputado direitista. Aliás, basta olhar para a posição desde prócer franquista, autêntica pedra de toque da mudança, para compreender a diferença. Apesar de ser um dos melhores amigos (e colega de escritório) de José António e seu testamentário, nunca se havia sentido atraído pelo carácter revolucionário da Falange; sempre preferira a Direita clássica. Contudo, nem por um momento hesitou em aceitar o convite do cunhado, o Gen. Franco, para encabeçar o novo movimento, de roupagens afascizadas, saído do Decreto de Unificação.
Uma das habilidades do Generalíssimo Franco consistia em empregar os seus diversos apoiantes, aliados ou clientes políticos, como sejam os tradicionalistas, os falangistas, os democrata-cristãos, os monárquicos alfonsinos, etc. da forma que considerava mais oportuna, em cada momento, para os interesses que prosseguia.
O caso da Falange é aliás paradigmático. Finda a GCE, Franco aproveita a formação da Divisão Azul, destinada a combater os comunistas soviéticos, para atrair como voluntários os irrequietos militantes falangistas, nomeadamente intelectuais e militares, livrando-se assim, nas estepes russas, de potenciais agitadores políticos. A guerra propiciara a unidade de comando mas agora poderia estar em causa um ajuste de contas ideológico que o Caudillo não podia permitir.
Internamente, a Falange, plasticamente conotada com o regime que saíra da GCE, tinha os seus símbolos e sinais exteriores em quase todas as fachadas significativas de Espanha; contudo, dos sessenta e nove ministros, em 35 anos de governos nacionais, apenas oito fizeram o juramento cerimonial de aceitação do cargo envergando a camisa azul mas, mesmo entre esses, talvez não houvesse mais que três ou quatro falangistas sinceros. Com a chegada ao poder dos ministros do Opus Dei e dos chamados tecnocratas, a influência da Falange ficou praticamente extinta. Assim, de uma forma que talvez não tenha paralelo na História moderna, um partido desapareceu realmente da cena política, embora mantendo oficialmente toda a sua pujança emblemática.
Exemplificativo da repressão que cedo se abateu sobre os mais recalcitrantes foi o episódio que aconteceu em 1938 quando se debatia o projecto da F.E.T. y de las J.O.N.S. de que se haviam encarregado os falangistas Pedro Gamero e Dionisio Ridruejo bem como o tradicionalista Juan José Pradera. A proposta ia no sentido de um reforço do poder do Partido na estrutura e política do Estado. Foi prontamente recusado por Franco, aumentando ainda mais a sua desconfiança face aos movimentos políticos que se haviam fundido por decreto seu. Como suspeitos de deslealdade política foram detidos e afastados dos seus cargos, em Junho de 1938, Agustín Aznar, Fernando González Veléz (conselheiros nacionais) e Narciso Perales que trabalhava em Granada sob a orientação de Fernández Cuesta. Os dois primeiros ficariam confinados durante toda a GCE e o último foi enviado para a frente de combate.
Também como consequência do Decreto de Unificação e após os acontecimentos já descritos, começaram a surgir sob a forma de panfletos alguns sinais da existência de movimentos que se reclamavam falangistas mas que repudiavam a oficial F.E.T. y de las J.O.N.S.. Apareceu a F. E. (Auténtica), diz-se que inspirada por Prieto como manobra de contra-informação, a F. E. (Autónoma) organizada por González de Canales e outras iniciativas sem expressão. Haveria que esperar pelo fim da CGE para que alguns simpatizantes desses grupúsculos criassem organizações falangistas clandestinas como a Ofensiva de Recobro Nacionalsindicalista, fundada por Eduardo Ezquer em 1940 ou a Alianza Sindicalista.
A forma nobre e digna como José António encarou a morte, revelada no seu testamento de que a seguir se reproduzem alguns extractos, não deixou de contribuir, igualmente, para lhe aumentar a fama e o respeito de amigos e adversários.
• Condenado ontem à morte, peço a Deus que (...) me permita conservar até ao fim, uma decorosa conformidade com o que antevejo...
• Interrogo-me se será vaidade ou demasiado apego às coisas terrenas o querer prestar, nesta conjuntura, contas sobre os meus actos; mas como, por outro lado, atraí o crer de muitos camaradas numa medida muito superior ao meu próprio valor (demasiado conhecido de mim, até ao ponto de escrever esta frase com a mais simples e convicta sinceridade) e como inclusivamente impeli muitos deles a enfrentar riscos e responsabilidades enormes, parecer-me-ia desconsiderada ingratidão afastar-me de todos sem qualquer explicação...
• Apenas isto pretendi e não alcandorar - me à póstuma reputação de herói. Não assumi a responsabilidade por tudo nem me ajustei a qualquer outra variante do padrão romântico. Defendi-me com os melhores recursos do meu mister de advogado que me é tão querido e que cultivei com tanta assiduidade. Não faltarão, porventura, comentadores póstumos que me acusem de não ter preferido a fanfarronada. Cada um sabe de si...
Várias foram as tentativas para o resgatar do cativeiro mas todas em vão. Pequenos grupos de comandos falangistas, organizados por Agustín Aznar, tentaram chegar clandestinamente a Alicante para libertar José António mas sem sucesso. Também da parte dos comandos militares dos sublevados não parecia haver um grande interesse na libertação de José António, apesar de terem sido efectuadas várias trocas de prisioneiros, entre os quais Serrano Suñer.
Com um ethos e uma praxis cultural de superior entendimento e abrangência, José António foi amigo e admirador de intelectuais com os quais não compartia mundividências como, por exemplo, Federico Garcia Lorca. Apesar de próximo de alguns intelectuais da Frente Popular, o poeta andaluz era uma presença constante em tertúlias culturais de Madrid, onde tinha muitos amigos e sinceros admiradores, sobretudo entre os jovens intelectuais falangistas. Está comprovada a sua amizade com José António Primo de Rivera, Foxá, Santa Marina, Sánchez Mazas e tantos outros intelectuais da órbita falangista com quem confraternizava nas tertúlias da Ballena Alegre . Gabriel Celaya testemunhou que Lorca lhe confidenciou que, em 36, rara era a sexta-feira em que não jantava com José António.
Em sua homenagem permito-me transcrever alguns poemas que lhe foram dedicados por poetas portugueses, de entre os quais me permito salientar um inédito de Carlos Eduardo Soveral, inolvidável plumista que recentemente nos deixou. Num futuro próximo, espero publicar aqui uma Antologia de poemas dedicados a José António por consagrados escultores de frases e letras.
Ode a José António Primo de Rivera
Ao meu amigo Humberto Lima Alves
que andou por terras de Espanha na
Cruzada pelo Ocidente.
Rajada de cinco tiros
Cravou-lhe o tronco do peito
Que ficou incendiado
E o fez cair sobre a sombra
Num círculo iluminado.
A sua camisa azul,
Com cinco flechas bordadas
Desfez-se em cinza poída.
José António! José António!
O eco de Cara al Sol
Voltou de novo a ter vida.
Pelos caminhos iberos...
Pelas estradas romanas
Secam as rosas dando ais...
Na estrada de Santiago
Há cinco estrelas a mais.
Europa, madre e madrinha!
Bandeiras, cravos e loiros
Desfolham-se sobre a fronte
Deste príncipe perfeito.
José António! José António!
Com cinco tiros pelas costas,
As cinco chagas em sangue
São cinco flechas no peito!
Azinhal Abelho (in Eu fui Guadiana abaixo)
Cântico
Em cada flor
Que dia a dia renasce,
o canto negro de uma saudade presente:
esta foi uma carta escrita
ao amanhecer, depois do fuzilamento.
Uma bandeira desfraldada,
crianças, e crianças correndo,
os amados amando-se,
os anciães rindo e sorrindo
- na palma da mão,
o testemunho imenso e vermelho,
que não morre:
essa foi a cidade de todos os tempos,
o amor e o canto das bocas sadias,
a espuma de todas as ondas
o mar de toda a navegação.
(Onde está a barca da alegria,
dos amados amando-se,
das crianças e jovens mulheres
de todas as idades? Onde está?
Onde dorme a barca das manhãs despertas?)
Dia a dia renascem os beijos dados à noite,
em Toledo.
Meu caro Amigo, eu vou morrer,
mas comigo levo a luz de Abril
e as flores de Maio,
e as medalhas dos camaradas
mortos em combate.
Os dias passam pela morte dos tempos.
(Oh, como o tempo passa!)
Ao lado de cada flor da manhã,
uma camisa negra aguarda o corpo do mundo.
José Valle de Figueiredo (in Diário da Manhã, 11/02/65)
JOSÉ ANTÓNIO
Arquetipo del Amor
a la Patria, la Razón y la Justicia,
claro hombre-pundonor
hacia toda cívica estulticia,
no te iba, no, dejar vivir
la inmundicia
de viles intereses y ganancias
que de España, hecha su máscara,
el rostro, miserables, se cubrían.
Otro mío Cid, por ello has muerto
entre todas imposturas aplastado,
que todas las de clase, demofília,
región, mendaz nacionalismo,
todas te han sordamente asesinado,
dejando tu así,
en el sacral combate,
«la piel y las entrañas»,
cual habías, apolíneo
(el corazón nos late),
una vez, anunciado.
Otro mío Cid, de la Fidelidad
y toda la Verdad
Campeador,
aunque sin vellida barba,
sin Tizona y sin Colada,
sin Babieca y sin nada,
mas lleno de Amor
a España, que veías
Una, Grande y Libre
Libre! Libre!... ,
en vernales, almos días
de Propósito y Valor.
Hoy por hoy, sigues ahí,
inmenso y juvenil,
Señor forzosamente aislado,
en el cielo de un sin par añil
de Castilla techo y horizonte
yugo y flechas cuanto monte
de veras recortado.
Alto da Castelhana (Cascais), 97-03-15.
Carlos Eduardo Soveral, livro inédito Da Solidão e do Silêncio
José António
Arquétipo do Amor
à Pátria, à Razão e à Justiça,
claro homem-pudonor
para toda cívica estultícia,
não te iria, não, deixar viver,
a imundície
de interesses e ganâncias vis
que de Espanha, qual sua máscara,
o rosto, miseráveis, se cobriam.
Outro meu Cid, por tal morreste,
pelas imposturas todas esmagado,
que todas as de classe, demofilia,
região, nacionalismo mendaz,
por todas foste surdamente assassinado,
deixando tu assim,
no sacral combate,
“a pele e as entranhas”,
Como havias, apolíneo
(o coração nos late)
uma vez anunciado.
Outro meu Cid, da Fidelidade
e toda a Verdade
Campeador,
sem penugem de barba, embora,
sem Tizona e sem Colada,
sem Babieca e sem nada,
mas cheio de Amor
a Espanha, que vias
Una, Grande e Livre
Livre! Livre!...,
em vernais, almos dias
de Propósito e Valor.
Ora agora, aí prossegues,
imenso e juvenil,
Senhor forçosamente isolado,
no céu de um sem par anil
de Castela tecto e horizonte
jugo e frechas quanto conte
veramente recortado.
Traduzido por Manuel Vieira da Cruz,
em Lisboa, 15 de Setembro de 2006
Requiem por José António
Dizem que fomos vencidos
apenas porque morreste
Loucura do inimigo
foste tu que os venceste
Morreste, não te lamento
És mais feliz do que eu
Em minha alma grita o vento
Foi por ti que ele morreu
Lá longe onde o sangue corre
e rega a terra maldita,
no país onde caíste
tua vida ressuscita
Do pó em que te tornaste
Nasceu um cântico novo
Daqueles que tu juntaste
Pela Pátria e pelo Povo
A vitória já não tarda
A vingança dá-me alento
Lá fora na noite parda
Já se ouvem cantos no vento.
Pedro Corrêa da Silva
«Andamento elegíaco
em louvor e memória de Robert Brasillach
e de José Antonio»
(Heróica triste para os dois)
Deixai-me que eu chore ou cante,
em mais um 6 de Fevereiro,
o poeta enfeitiçante que do mártir d’Alicante
foi irmão e companheiro.
Seu destino lancinante,
seu roteiro rutilante,
sua sorte e paradeiro:
- Deixai, deixai que eu os cante
em mais um 6 de Fevereiro.
Quero, durante um instante
passageiro e... incessante,
exumar do meu tinteiro
o exangue semblante
desse límpido e galante
mosqueteiro.
- afinal, tão semelhante
(em tudo, tão semelhante)
àquele arcanjo arquejante
que, num pátio d’Alicante
prisioneiro,
doou à luz do Levante
o seu olhar derradeiro
e, às falanges da Falange
o seu sangue de guerreiro.
Quero deter-me um instante,
aos pés do 6 de Fevereiro;
e ao poeta militante,
implorar que se alevante,
outra vez, de corpo inteiro,
por sobre o seu cativante
cativeiro!
Rodrigo Emílio (in Poemas de Braço ao Alto, 1982)
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