quinta-feira, dezembro 10, 2009

O Patria, o mores

Tirando os impérios de além mar que já se foram na tempestade de Abril e as libras agora transformadas em euros, como é actual a profecia de Guerra Junqueiro aqui lembrado pelo saudoso M. Filomeno.

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sexta-feira, novembro 20, 2009

REQUIEM POR JOSÉ ANTONIO PRIMO DE RIVERA

Para o José Luis O., o José Luis R. e o Ricardo Y., amigos e camaradas do mesmo ethos mesmo que com praxis diferentes.
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mi gentil capitán Rodrigo
fuzilado em Alicante a 20 de Novembro de 1936 pelos ascendentes do Sapateiro e, de novo, re-assassinado in Memoriam sob o plácido (ou quiçá bovino) olhar burbónico.

José Antonio Primo de Rivera y Sáenz de Heredia (1903-1936), filho do ditador Gen. Miguel Primo de Rivera , era um advogado madrileno que, associado a outros jovens, inconformados com a permanente oposição entre as forças de esquerda e de direita, tentou um caminho, dito de terceira via, que satisfizesse por um lado, a ânsia de Pão e Justiça Social do povo espanhol e, por outro, garantisse a Autoridade necessária à manutenção da Paz e da Unidade de Espanha. Em 1933 era formalmente apresentada no Teatro de la Comedia, em Madrid, a Falange Española. Como oradores - fundadores deram a cara o Prof. García Valdecasas, o consagrado aviador Ruíz de Alda e José António. Inconformados com a aparentemente inelutável oposição dicotómica entre Esquerda e Direita, cuja superação dialéctica propunham, e ansiosos por restaurar para Espanha o prestígio dos tempos áureos, criaram uma forte dinâmica política que atraiu jovens estudantes e intelectuais que não se reviam nem no marxismo nem no conservadorismo reaccionário.
Após a fusão com as Juntas de Ofensiva Nacional Sindicalista, de Ledesma Ramos e de Onésimo Redondo, surgiu em 1934 a organização política Falange Española de las JONS. Diversas referências contribuíram para esta formação política. Sindicalistas socializantes como Ramiro Ledesma Ramos, activistas católicos e ruralistas como Onésimo Redondo, defensores de um estado autoritário e imperial como Maeztu, etc., estiveram na origem daquela que viria a ser a organização política mais marcante nas hostes apoiantes do futuro Levantamento militar. Ortega y Gasset foi uma das principais, se não mesmo a principal, referência filosófica da Falange, apesar dos problemas pessoais que inicialmente teve com José António, derivados da crítica feroz que o pensador fizera a seu pai, o ditador Primo de Rivera. Entraram então, pouco a pouco, muitos elementos militares, operários e trabalhadores rurais, alguns dos quais ex-anarquistas, consolidando cada vez mais uma política revolucionária e um caminho sui generis.
Após a fusão do movimento que criou, a Falange Española, com as J.O.N.S., José António viria a tornar-se no chefe nacional da nova organização. Detido em Março de 1936 como consequência do Decreto que ilegalizou a F.E. de las J.O.N.S., promovido pela maioria da Frente Popular eleita no mês anterior, foi encarcerado, primeiro em Madrid e depois em Alicante (desde 5 de Junho), onde viria a ser fuzilado a 20 de Novembro de 1936. Quer os seus escritos políticos quer a sua inegável capacidade de atrair e empolgar as massas populares, viriam a transformá-lo num dos míticos símbolos dos insurrectos - el Ausente, sebastianista sombra, omnipresente e incómoda para o autoritário líder do Levantamento militar consolidado – o generalíssimo Franco. José António manifestara sempre uma certa antipatia por Franco, a que não era alheia a desconfiança que nutria pelas iniciativas políticas dos militares que, segundo cria, viam na Ordem um valor absoluto em si mesmo e não uma consequência lógica de uma organização social bem estruturada. Apesar de fidalgo e filho de um dos últimos grandes defensores da Monarquia, José António era amonárquico. Essencialmente, defendia uma revolução, ou seja, uma tomada de consciência de novos valores, que permitissem superar a dicotomia Esquerda – Direita, independentemente do sistema político subjacente.
O triunfo da Frente Popular, no início de 36, fizera aumentar o número de filiados da Falange atraídos certamente pela tenacidade, camaradagem e capacidade de ripostar aos permanentes ataques dos partidos da esquerda marxista. Com a prisão de José António, principal arquitecto da sua estratégia política e líder mitificado do movimento, Manuel Hedilla procurou assegurar a chefia interina. Em Julho de 1936, em vésperas da sublevação, a Falange contava com 5 793 filiados e, eventualmente, com um quíntuplo de simpatizantes em toda a Espanha. Contudo, imediatamente após a insurreição, a Falange e as suas milícias denominadas Primera Línea foram a organização político-militar mais procurada pelos voluntários civis mercê do prestígio forjado pela exposição pública e pela mediatizada resistência à perseguição repressiva do governo da Frente Popular. Em poucos meses a Falange contaria com mais de cem mil membros activos em toda a Espanha, embora o talvez demasiado rápido influxo de camisas nuevas e o pulso de ferro de Franco tenham sido fatais para o destino ambicionado pelos camisas viejas. Os falangistas de José António comungavam de um pensamento de conteúdo popular, social e revolucionário que acreditavam dever permitir à Espanha nacional, em cujo triunfo acreditavam, absorver politicamente a Espanha vermelha sem grandes castigos nem vinganças.
É verdade que muitas vezes estas recomendações e ordens da Direcção Central da Falange não encontravam eco em muitos dos recém filiados. A Falange tornara-se não só num atractivo e carismático movimento político para muitos direitistas, até aí indiferentes às ideias de José António, como num coito seguro para vira-casacas socialistas e anarquistas que, como é habitual em muitos neófitos, se transformaram nos zelotas mais radicais. O rápido influxo desses camisas nuevas e o pulso de ferro de Franco foram fatais para o destino ambicionado pelos camisas viejas que, na altura, julgavam ainda dominar a organização. Do ponto de vista do rigor histórico, durante a GCE e com a criação do domesticado movimento unitário Falange Española Tradicionalista y de las J.O.N.S., será mais apropriado falar em FETistas que em Falangistas. Mas, em nenhuma circunstância, pese embora os excessos, o movimento foi o carrasco sádico e desapiedado do tão propalado imaginário gauchiste.
A iniciativa do Decreto de Unificação teve, logicamente, fundamento na necessidade militar de obter blocos de comando coesos e monolíticos, em contraposição ao que se passava no lado oposto. No entanto, foi também favorecida pelo facto de Franco se rever politicamente mais na direita católica e reaccionária, votante na Acción Popular, cujo líder, Gil Robles o havia nomeado Chefe do Estado-Maior General quando fora Ministro da Guerra, no Governo Lerroux. Desconfiava das formações políticas anti-marxistas mais aguerridas, nomeadamente da Falange de José António e, logo que lhe foi possível, tratou de as submeter, obrigando-as a fundirem-se com os aguerridos carlistas, cujo tradicionalismo não se encaixava muito bem no nacional-sindicalismo daqueles. Na prática, essa medida descaracterizou as duas organizações e veio provocar a sua extinção enquanto movimentos autónomos e independentes, tendo subsistido apenas o lado emblemático, folclórico e mítico. No entanto, face ao elevado prestígio da Falange e dos carlistas que eram, na altura, os maiores canais de recrutamento de voluntários, Franco não os podia hostilizar directamente. Mais tarde, legitimado pela Vitória e erigido em fonte de poder absoluto, tratou de dar o golpe final a esses grupos que tão generosamente o haviam acompanhado no Levantamento, enleando os seus hierarcas em prebendas convenientes e em intermináveis enredos burocráticos. Os notáveis da direita clássica, sonsa e nacional-seminarista, no dizer bem-humorado do poeta Agustín de Foxá, que se haviam abstido de confrontar ou criticar Franco e cujos partidos haviam ficado de fora da mira do Decreto da Unificação, puderam entrar facilmente no Novo Regime que saiu da CGE, sob a observação atenta do cunhadíssimo Serrano Suñer, ex-deputado direitista. Aliás, basta olhar para a posição desde prócer franquista, autêntica pedra de toque da mudança, para compreender a diferença. Apesar de ser um dos melhores amigos (e colega de escritório) de José António e seu testamentário, nunca se havia sentido atraído pelo carácter revolucionário da Falange; sempre preferira a Direita clássica. Contudo, nem por um momento hesitou em aceitar o convite do cunhado, o Gen. Franco, para encabeçar o novo movimento, de roupagens afascizadas, saído do Decreto de Unificação.
Uma das habilidades do Generalíssimo Franco consistia em empregar os seus diversos apoiantes, aliados ou clientes políticos, como sejam os tradicionalistas, os falangistas, os democrata-cristãos, os monárquicos alfonsinos, etc. da forma que considerava mais oportuna, em cada momento, para os interesses que prosseguia.
O caso da Falange é aliás paradigmático. Finda a GCE, Franco aproveita a formação da Divisão Azul, destinada a combater os comunistas soviéticos, para atrair como voluntários os irrequietos militantes falangistas, nomeadamente intelectuais e militares, livrando-se assim, nas estepes russas, de potenciais agitadores políticos. A guerra propiciara a unidade de comando mas agora poderia estar em causa um ajuste de contas ideológico que o Caudillo não podia permitir.
Internamente, a Falange, plasticamente conotada com o regime que saíra da GCE, tinha os seus símbolos e sinais exteriores em quase todas as fachadas significativas de Espanha; contudo, dos sessenta e nove ministros, em 35 anos de governos nacionais, apenas oito fizeram o juramento cerimonial de aceitação do cargo envergando a camisa azul mas, mesmo entre esses, talvez não houvesse mais que três ou quatro falangistas sinceros. Com a chegada ao poder dos ministros do Opus Dei e dos chamados tecnocratas, a influência da Falange ficou praticamente extinta. Assim, de uma forma que talvez não tenha paralelo na História moderna, um partido desapareceu realmente da cena política, embora mantendo oficialmente toda a sua pujança emblemática.
Exemplificativo da repressão que cedo se abateu sobre os mais recalcitrantes foi o episódio que aconteceu em 1938 quando se debatia o projecto da F.E.T. y de las J.O.N.S. de que se haviam encarregado os falangistas Pedro Gamero e Dionisio Ridruejo bem como o tradicionalista Juan José Pradera. A proposta ia no sentido de um reforço do poder do Partido na estrutura e política do Estado. Foi prontamente recusado por Franco, aumentando ainda mais a sua desconfiança face aos movimentos políticos que se haviam fundido por decreto seu. Como suspeitos de deslealdade política foram detidos e afastados dos seus cargos, em Junho de 1938, Agustín Aznar, Fernando González Veléz (conselheiros nacionais) e Narciso Perales que trabalhava em Granada sob a orientação de Fernández Cuesta. Os dois primeiros ficariam confinados durante toda a GCE e o último foi enviado para a frente de combate.
Também como consequência do Decreto de Unificação e após os acontecimentos já descritos, começaram a surgir sob a forma de panfletos alguns sinais da existência de movimentos que se reclamavam falangistas mas que repudiavam a oficial F.E.T. y de las J.O.N.S.. Apareceu a F. E. (Auténtica), diz-se que inspirada por Prieto como manobra de contra-informação, a F. E. (Autónoma) organizada por González de Canales e outras iniciativas sem expressão. Haveria que esperar pelo fim da CGE para que alguns simpatizantes desses grupúsculos criassem organizações falangistas clandestinas como a Ofensiva de Recobro Nacionalsindicalista, fundada por Eduardo Ezquer em 1940 ou a Alianza Sindicalista.
A forma nobre e digna como José António encarou a morte, revelada no seu testamento de que a seguir se reproduzem alguns extractos, não deixou de contribuir, igualmente, para lhe aumentar a fama e o respeito de amigos e adversários.

Condenado ontem à morte, peço a Deus que (...) me permita conservar até ao fim, uma decorosa conformidade com o que antevejo...
• Interrogo-me se será vaidade ou demasiado apego às coisas terrenas o querer prestar, nesta conjuntura, contas sobre os meus actos; mas como, por outro lado, atraí o crer de muitos camaradas numa medida muito superior ao meu próprio valor (demasiado conhecido de mim, até ao ponto de escrever esta frase com a mais simples e convicta sinceridade) e como inclusivamente impeli muitos deles a enfrentar riscos e responsabilidades enormes, parecer-me-ia desconsiderada ingratidão afastar-me de todos sem qualquer explicação...
• Apenas isto pretendi e não alcandorar - me à póstuma reputação de herói. Não assumi a responsabilidade por tudo nem me ajustei a qualquer outra variante do padrão romântico. Defendi-me com os melhores recursos do meu mister de advogado que me é tão querido e que cultivei com tanta assiduidade. Não faltarão, porventura, comentadores póstumos que me acusem de não ter preferido a fanfarronada. Cada um sabe de si...


Várias foram as tentativas para o resgatar do cativeiro mas todas em vão. Pequenos grupos de comandos falangistas, organizados por Agustín Aznar, tentaram chegar clandestinamente a Alicante para libertar José António mas sem sucesso. Também da parte dos comandos militares dos sublevados não parecia haver um grande interesse na libertação de José António, apesar de terem sido efectuadas várias trocas de prisioneiros, entre os quais Serrano Suñer.

Com um ethos e uma praxis cultural de superior entendimento e abrangência, José António foi amigo e admirador de intelectuais com os quais não compartia mundividências como, por exemplo, Federico Garcia Lorca. Apesar de próximo de alguns intelectuais da Frente Popular, o poeta andaluz era uma presença constante em tertúlias culturais de Madrid, onde tinha muitos amigos e sinceros admiradores, sobretudo entre os jovens intelectuais falangistas. Está comprovada a sua amizade com José António Primo de Rivera, Foxá, Santa Marina, Sánchez Mazas e tantos outros intelectuais da órbita falangista com quem confraternizava nas tertúlias da Ballena Alegre . Gabriel Celaya testemunhou que Lorca lhe confidenciou que, em 36, rara era a sexta-feira em que não jantava com José António.
Em sua homenagem permito-me transcrever alguns poemas que lhe foram dedicados por poetas portugueses, de entre os quais me permito salientar um inédito de Carlos Eduardo Soveral, inolvidável plumista que recentemente nos deixou. Num futuro próximo, espero publicar aqui uma Antologia de poemas dedicados a José António por consagrados escultores de frases e letras.



Ode a José António Primo de Rivera

Ao meu amigo Humberto Lima Alves
que andou por terras de Espanha na
Cruzada pelo Ocidente.


Rajada de cinco tiros
Cravou-lhe o tronco do peito
Que ficou incendiado
E o fez cair sobre a sombra
Num círculo iluminado.

A sua camisa azul,
Com cinco flechas bordadas
Desfez-se em cinza poída.
José António! José António!
O eco de Cara al Sol
Voltou de novo a ter vida.

Pelos caminhos iberos...
Pelas estradas romanas
Secam as rosas dando ais...
Na estrada de Santiago
Há cinco estrelas a mais.

Europa, madre e madrinha!
Bandeiras, cravos e loiros
Desfolham-se sobre a fronte
Deste príncipe perfeito.
José António! José António!
Com cinco tiros pelas costas,
As cinco chagas em sangue
São cinco flechas no peito!

Azinhal Abelho (in Eu fui Guadiana abaixo)



Cântico


Em cada flor
Que dia a dia renasce,
o canto negro de uma saudade presente:
esta foi uma carta escrita
ao amanhecer, depois do fuzilamento.
Uma bandeira desfraldada,
crianças, e crianças correndo,
os amados amando-se,
os anciães rindo e sorrindo
- na palma da mão,
o testemunho imenso e vermelho,
que não morre:
essa foi a cidade de todos os tempos,
o amor e o canto das bocas sadias,
a espuma de todas as ondas
o mar de toda a navegação.
(Onde está a barca da alegria,
dos amados amando-se,
das crianças e jovens mulheres
de todas as idades? Onde está?
Onde dorme a barca das manhãs despertas?)
Dia a dia renascem os beijos dados à noite,
em Toledo.

Meu caro Amigo, eu vou morrer,
mas comigo levo a luz de Abril
e as flores de Maio,
e as medalhas dos camaradas
mortos em combate.
Os dias passam pela morte dos tempos.
(Oh, como o tempo passa!)
Ao lado de cada flor da manhã,
uma camisa negra aguarda o corpo do mundo.

José Valle de Figueiredo (in Diário da Manhã, 11/02/65)



JOSÉ ANTÓNIO

Arquetipo del Amor
a la Patria, la Razón y la Justicia,
claro hombre-pundonor
hacia toda cívica estulticia,
no te iba, no, dejar vivir
la inmundicia
de viles intereses y ganancias
que de España, hecha su máscara,
el rostro, miserables, se cubrían.

Otro mío Cid, por ello has muerto
entre todas imposturas aplastado,
que todas las de clase, demofília,
región, mendaz nacionalismo,
todas te han sordamente asesinado,
dejando tu así,
en el sacral combate,
«la piel y las entrañas»,
cual habías, apolíneo
(el corazón nos late),
una vez, anunciado.

Otro mío Cid, de la Fidelidad
y toda la Verdad
Campeador,
aunque sin vellida barba,
sin Tizona y sin Colada,
sin Babieca y sin nada,
mas lleno de Amor
a España, que veías
Una, Grande y Libre
Libre! Libre!... ,
en vernales, almos días
de Propósito y Valor.

Hoy por hoy, sigues ahí,
inmenso y juvenil,
Señor forzosamente aislado,
en el cielo de un sin par añil
de Castilla techo y horizonte
yugo y flechas cuanto monte
de veras recortado.

Alto da Castelhana (Cascais), 97-03-15.

Carlos Eduardo Soveral, livro inédito Da Solidão e do Silêncio

José António

Arquétipo do Amor
à Pátria, à Razão e à Justiça,
claro homem-pudonor
para toda cívica estultícia,
não te iria, não, deixar viver,
a imundície
de interesses e ganâncias vis
que de Espanha, qual sua máscara,
o rosto, miseráveis, se cobriam.

Outro meu Cid, por tal morreste,
pelas imposturas todas esmagado,
que todas as de classe, demofilia,
região, nacionalismo mendaz,
por todas foste surdamente assassinado,
deixando tu assim,
no sacral combate,
“a pele e as entranhas”,
Como havias, apolíneo
(o coração nos late)
uma vez anunciado.

Outro meu Cid, da Fidelidade
e toda a Verdade
Campeador,
sem penugem de barba, embora,
sem Tizona e sem Colada,
sem Babieca e sem nada,
mas cheio de Amor
a Espanha, que vias
Una, Grande e Livre
Livre! Livre!...,
em vernais, almos dias
de Propósito e Valor.

Ora agora, aí prossegues,
imenso e juvenil,
Senhor forçosamente isolado,
no céu de um sem par anil
de Castela tecto e horizonte
jugo e frechas quanto conte
veramente recortado.

Traduzido por Manuel Vieira da Cruz,
em Lisboa, 15 de Setembro de 2006




Requiem por José António

Dizem que fomos vencidos
apenas porque morreste
Loucura do inimigo
foste tu que os venceste

Morreste, não te lamento
És mais feliz do que eu
Em minha alma grita o vento
Foi por ti que ele morreu

Lá longe onde o sangue corre
e rega a terra maldita,
no país onde caíste
tua vida ressuscita

Do pó em que te tornaste
Nasceu um cântico novo
Daqueles que tu juntaste
Pela Pátria e pelo Povo

A vitória já não tarda
A vingança dá-me alento
Lá fora na noite parda
Já se ouvem cantos no vento.

Pedro Corrêa da Silva





«Andamento elegíaco
em louvor e memória de Robert Brasillach
e de José Antonio»


(Heróica triste para os dois)

Deixai-me que eu chore ou cante,
em mais um 6 de Fevereiro,
o poeta enfeitiçante que do mártir d’Alicante
foi irmão e companheiro.

Seu destino lancinante,
seu roteiro rutilante,
sua sorte e paradeiro:
- Deixai, deixai que eu os cante
em mais um 6 de Fevereiro.

Quero, durante um instante
passageiro e... incessante,
exumar do meu tinteiro
o exangue semblante
desse límpido e galante
mosqueteiro.

- afinal, tão semelhante
(em tudo, tão semelhante)
àquele arcanjo arquejante
que, num pátio d’Alicante
prisioneiro,
doou à luz do Levante
o seu olhar derradeiro
e, às falanges da Falange
o seu sangue de guerreiro.

Quero deter-me um instante,
aos pés do 6 de Fevereiro;
e ao poeta militante,
implorar que se alevante,
outra vez, de corpo inteiro,
por sobre o seu cativante
cativeiro!

Rodrigo Emílio (in Poemas de Braço ao Alto, 1982)

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quinta-feira, novembro 19, 2009

Neologismo...

Michaëlis: Ultra-Moderno Dicionário da Língua Portuguesa

So.cra.te.ar
elem comp (lat solu + gr -kratés + ear) 1. Ocultar ou encobrir com astúcia e má-fé; disfarçar com cinismo. 2. Não dar a perceber, esconder, calar. 3. Fingir, simular inocência. 4. Usar a dissimulação; proceder com fingimento, hipocrisia. 5. Desviar o assunto; fugir das responsabilidades. 6. Fazer recair as culpas nos amigos (mesmo que familiares) mais próximos. 7. Negar despudoradamente as evidências. 8. Defraudar, iludir; praticar técnicas de banha-da-cobra. 9. Afirmar coisa que sabe ser contrária à verdade, fazendo crer que os fins justificam os meios. 10. coloquial : sacanear.

terça-feira, novembro 17, 2009

Lógica socialista

Lógica Socialista

Se você tivesse dois apartamentos de luxo, doaria um para o Partido?
- Sim - respondeu o militante socialista
E se você tivesse dois carros de luxo, doaria um para o partido?
- Sim - novamente respondeu o solidário progressista.
E se tivesse um milhão na conta bancária, doaria 500 mil para o partido?
- É claro que doaria - respondeu o orgulhoso companheiro.
E se você tivesse duas galinhas, doaria uma para o partido?
- Não - respondeu o camarada.
Mas… Doaria um apartamento de luxo se tivesse dois, um carro de luxo se tivesse dois e 500 mil se tivesse um milhão, mas não doaria uma galinha se tivesse duas?
- É, porque as galinhas eu já as tenho mesmo.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Valentin de la Sierra

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Enquanto não chega a jeropiga, aqueçamos a alma com mais um corrido cristero.

Para o bardo Campos e Sousa

Para o Zé, uma heterodoxa dedicatória, do P. Alegre

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sexta-feira, outubro 16, 2009

A OMS e gripe dos suínos

Gravíssimas declarações ...na terra gélida do país dos mil lagos.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Dª Maitê e seu Migueo

Vários foram os amigos que me contactaram a pedir esclarecimentos sobre o tal artigo do Miguel Sousa Tavares. Para evitar mais trabalho, ei-lo:

Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:

- É sempre assim, esta auto-estrada?

- Assim, como?

- Deserta, magnífica, sem trânsito?

- É, é sempre assim.

- Todos os dias?

- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.

- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?

- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.

- E têm mais auto-estradas destas?

- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.

- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?

- Porque assim não pagam portagem.

- E porque são quase todos espanhóis?

- Vêm trazer-nos comida.

- Mas vocês não têm agricultura?

- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.

- Mas para os espanhóis é?

- Pelos vistos...

Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:

- Mas porque não investem antes no comboio?

- Investimos, mas não resultou.

- Não resultou, como?

- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.

- Mas porquê?

- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.

- E gastaram nisso uma fortuna?

- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...

- Estás a brincar comigo!

- Não, estou a falar a sério!

- E o que fizeram a esses incompetentes?

- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.

- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?

- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.

Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.

- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?

- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.

- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?

- Isso mesmo.

- E como entra em Lisboa?

- Por uma nova ponte que vão fazer.

- Uma ponte ferroviária?

- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.

- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!

- Pois é.

- E, então?

- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.

Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.

- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...

- Não, não vai ter.

- Não vai? Então, vai ser uma ruína!

- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.

- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?

- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!

- E vocês não despedem o Governo?

- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...

- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?

- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.

- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?

- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.

- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?

- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.

Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:

- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?

- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.

- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?

- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.

- Não me pareceu nada...

- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.

- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?

- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.

- E tu acreditas nisso?

- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?

- Um lago enorme! Extraordinário!

- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.

- Ena! Deve produzir energia para meio país!

- Praticamente zero.

- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!

- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.

- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?

- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.

- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?

- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.

Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:

- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?

- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.

Ela voltou a colocar os óculos de sol e inclinou-se para a frente… Em segundos estava a deliciar-me com um um daqueles bicos que só se fazem em auto-estradas desertas como as nossas. No final suspirou:



- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!

E o burro sou eu?



Muita gente se interroga sobre o porquê da cuspidela no fim?! Recuperem e leiam o artigo de Miguel Sousa Tavares sobre a A6 e as gentilezas on the road de uma sua amiga estrangeira (era Dª Maitê, pois claro!)e perceberão tudo...

segunda-feira, outubro 12, 2009

O crime de Mondim: A vergonhosa desfaçatez de um Governador Civil

Só num país terceiro-mundista a que esta corja socialista nos condenou é possível a desfaçatez de um homem com a responsabilidade de um Governador Civil mentir com quantos dentes tem na boca. E o candidato do seu partido não lhe fica atrás. Que rica gente esta. E o safardana até foi eleito pelas gentes de Mondim!!!


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O atestado médico ou um país de vómito

O atestado médico
por José Ricardo Costa

Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter de fazer uma vigilância. Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa. Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta.
Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la?
Passemos então à parte divertida. A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante. Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias.
A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI. O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente. O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.
Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente. Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.
Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade. Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados. Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o 'ET', que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões.
O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D.Afonso Henriques, que Deus me perdoe. A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados. Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade.
Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal. Fica ofendida se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei. Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja.
Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho. Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.
Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o mundo.
Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.
(Texto escrito por um professor de filosofia que escreve semanalmente para o jornal “O Torrejano”)


Uma ligeiríssima correção: A frase atribuída sistematicamente a Goebbels (ou, por vezes, a Stalin) tem na realidade a sua autoria no cínico Voltaire.

O investimento cultural socialista: Arte de vanguarda



Esta genial tela viria a ser adquirida pelo Joy Bera Ardo, com um empréstimo da Caixa Geral de Depósitos de 20 000 000 de euros sobre uma hipoteca do próprio bem. Após consulta a Paulo Pedroso, reconhecido especialista sobre o colectivo de autores, a magnificente obra de arte foi, entretanto, entregue à Fundação Serralves para guarda e deleite das luminárias sinistras do Porto e arredores. Enjoy it, pategos!

segunda-feira, setembro 28, 2009

Sabedoria cuanhama...

Depois de perceber que afinal a vaca é um boi, só um tonto insiste em ordenhá-l(o)...

Kundi Obocuè
(Pastor cuanhama)

Kem kizer ke enfie a karapussa

Olha o venerável Costa, preclaro e honesto citoyen


Pelos vistos o que o meu povo gosta, continua a ser panem et circenses. O pior vai ser ser quando o pão se acabar porque o circo e as romarias essas nem que sejam virtuais vão continuar.
Como beirão sinto uma tremenda vergonha (e não é alheia, creiam)pela votação dos meus patrícios. A única razão que concebo é terem saudades dos banha-da-cobra das feiras das romarias da Senhora do Almurtão.

quinta-feira, setembro 24, 2009

A gripe dos suínos

De embuste em embuste até à Maçonaria final...
Skull & bones and pigs feet


Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada...

quarta-feira, maio 27, 2009

Porque é que eles gostam tanto de se agarrar por detrás?


A trinidad roja

A revolta dos Apaches?
ou missa cococrática?

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Vatican II

A comemoração da convocação do Concílio Vaticano II merece-me um passo de suavidade contemplativa, tendo por background uma canção de Chieffo de que tanto gosto.

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sexta-feira, janeiro 23, 2009

As aventuras do Siô Jacó, retiradas da arca

A propósito das recentes desavenças semíticas, lá para os lados da Santa Terra, lembrei-me de um post de há dois anos, a que nem tive de sacudir o pó. Intitulei-o então de As aventuras do siô Jacó. Relembro-a aqui, como uma gota de água fria na prósápia vitimizante polarizada apenas a um dos lados, que por aí grassa em meios que tinham obrigação de saber mais.
Quando eu era pequeno minha avó contava-me pequenas histórias e fábulas. Nem todas tinham um final feliz o que me fazia, por vezes, chorar. Para além da história da carochinha que muitos sabem de cor, mesmo na versão do ratão Hamas a cair no caldeirão (merecidamente, pelo atrevimento, ora essa!), minha avó contava-me outra, igualmente triste, igualmente trágica. Ei-la:


Era uma vez um senhor chamado Jacó que vivia afanosamente num vetusto prédio, banhado pelo Sol e refrescado pela Lua. Nesse espaço colectivo, degradado pela incúria de sucessivos proprietários absentistas, viviam também o senhor Abdullah e os seus primos Fareed e Ibrahim. Na cave, sub-alugada pelo senhor Zacaria, dormia ocasionalmente Michel Hadad. Uns residentes trabalhavam no comércio, outros na agricultura e alguns (poucos) nas pequenas indústrias que se iam instalando aqui e acolá.

E um dia o senhor Jacó recebeu um aflitivo telegrama de uma prima que lhe relatava, em breves mas dramáticas palavras, a perseguição que toda a parentela estava a sofrer na terra longínqua em que há muito viviam. Tinham que fugir urgentemente e queriam saber se podiam contar com o parente para os acolher. Jacó pensou, pensou e respondeu que sim; que lhe dessem algum tempo...

Interiorizando o atávico apelo familiar, Jacó assumido descendente de gerações de antigos proprietários do imóvel, provavelmente os seus construtores, idealizou um plano para arranjar espaço para a família em aflição.

Um belo dia em que se cruzou sob uma palmeira com Ibrahim, deixou cair, como quem tem relutância em dizer tudo, que talvez fosse melhor o vizinho andar de olho em Hadad porque lhe tinham dito que este parecia andar a rondar a sua filha Aisha com propósitos inconfessáveis. Acrescentou, é claro, que, provavelmente, tudo não passaria de um boato de gente maledicente. Ibrahim espumou de raiva e, na primeira oportunidade, confrontou Hadad que lhe retorquiu incrédulo e mal-disposto que não estava para lhe aturar insolências e que o melhor era ele ver o que se passava com Mohamed, filho de Fareed. Instalada a intriga, as famílias rapidamente hiperbolizaram a desconfiança e as disputas e os confrontos verbais e físicos tornaram-se habituais. Jacó, com risinho misantrópico, mandou a mulher apresentar queixa na Polícia contra os vizinhos que estavam a tornar a sua vida insuportável. E queixou-se igualmente ao senhorio... Preocupado com a visibilidade que o assunto estava a dar ao prédio, Zacaria disse a Hadad que tinha que ir-se porque ele não tinha contratualmente o direito de sub-alugar. Mas antes que Zacaria visse a sua determinação executada, por denúncia de Jacó, já o senhorio estava ao corrente da situação e rescindiu o contrato com Zacaria dando-lhe ordem de despejo. Jacó, através da aproximação ao senhorio e prometendo-lhe uma renda maior, alugou o espaço devoluto e mandou vir o primo Ytzak e a família.

Passado algum tempo, também Ytzak apresentou queixa ao senhorio sobre o comportamento indesejável dos outros inquilinos. Com Jacó tu-cá-tu-lá com o senhorio, a quem prometia rendas mais elevadas se este lhe alugasse os outros apartamentos, o processo foi rápido e contou com a conivência e colaboração da Polícia que, pela força bruta, despejou do prédio os Fareed, os Abdullah e todos os seus parentes e amigos.

Revoltados, resolveram acampar em frente do prédio, inicialmente como forma de protesto. Como os recém chegados primos e amigos de Jacó tivessem tomado conta de toda a economia local, para sobreviver, muitas mulheres tiveram que ir trabalhar a dias paras as casas em que antes habitavam. Nas suas brincadeiras infantis, os seus filhos carregavam o ódio e aversão aos que haviam ocupado o prédio em que antes as suas famílias haviam vivido e, por vezes, apedrejavam os filhos dos actuais inquilinos que respondiam com tiros de caçadeira invocando o direito de resposta e de defesa. Mercê da vocação (e poder) empreendedor dos seus novos residentes o prédio havia adquirido um novo look, tornara-se mais apresentável e tinha mesmo um heliporto no telhado. Pela gestão de influências, pela firme e contundente forma como respondiam às invectivas dos anteriores residentes foram ficando. Invocando o usocapião, assumiram a posse efectiva de tal forma que o proprietário se viu obrigado a deixar-lhes o prédio em herança... Consolidados nessa posse, ainda hoje manifestam surpresa e indignação por terem de continuar a defender-se das pedradas (hoje, já actualizadas pelas novas tecnologias) dos filhos e netos de Abdullah e seus amigos.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Uma no cravo, outra na ferradura...e outra na mula (da Cooperativa)

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Especialmente dedicada ao Nonas, para se cultivar



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Palestina


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Senhora Cegonha