quarta-feira, abril 19, 2006

A NOSSA PÁTRIA


"Se amanhã, os espúrios filhos bastardos de raça tentassem, como ciganos de alborque, vender o património santo que nos legou o montante invencível de D. Afonso Henriques, Os Lusíadas seriam um tremendo libelo acusatório, trovejando cóleras épicas, estigmatizando a traição, chorando perpetuamente sobre as ruínas da nossa glória..."
Olímpio César


Abandonando o seu velhinho "berço",
Na vetusta e histórica Guimarães,
A Pátria de nossos pais,
De nossas mães,
De nossos avós,
De todos nós,
Caminha, alquebrada
(De idade secular),
Ao longo de montes e vales,
E pára, exausta e triste,
Junto ao mar.
Ali uma vez,
Perscrutando o horizonte atlântico,
O que foi o Mar Português,
Ajoelha, e recolhe-se a rezar...
E, quando ao Sol posto,
Se ergue lentamente,
E se queda, de olhar vago, distante,
Naquele nostálgico e imenso areal
- Correm-lhe pelas faces,
Enrugadas
E retesadas,
Lágrimas amargas como o sal!...


João Patrício(1979)

terça-feira, abril 11, 2006

Chama-me camarada

Identificada muitas vezes no Cancioneiro fetista pelo título em epígrafe, tem letra de José María García-Cernuda Calleja e música de Agustín Paíno Mendicoague.

Cubre tu pecho de azul



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Maria da Fonte

Mais um subsídio para a história da resistência ao PREC.
O Zé de novo, com letra de D. Vasco Teles da Gama



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En el pozo Maria Luísa

Santa Bárbara bendita
patrona de los mineros...

Mais uma canção popular usada pelos anarquistas das Astúrias. Não deixa de ser irónico que ao mesmo tempo que penduravam católicos em ganchos de carne, apelassem a santa Bárbara...



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segunda-feira, abril 10, 2006

Eu tinha um camarada...

De novo: Ich hatt'einen Kameraden de ludwig Uhland8 (1786-1862)



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Até amanhã, em Jerusalém...

Meu caro Jans

Hesitei em escrever este postal, sobretudo para evitar contrariar os teus desejos de não voltar a mexer no assunto. Mas o sentido da Justiça e da Verdade está de tal maneira inculcado em mim que não pude resistir ao ímpeto.
*Sabes como ninguém que nunca fui, não sou, não quero ser (e tenho pó a quem o é) nacional-socialista. Não precisei, contudo, para assumir essa convicção de ser influenciado pelas revelações de genocídios provocados pelos alemães; bastava-me a ideologia apregoada, nomeadamente a sua essência e substância...
*Far-me-ás a justiça de acreditar de que tampouco sou anti-semita; sendo militantemente não racista e procurando fazer crescer no meu coração a semente que o Deus de Abraão, pela vida e paixão, do seu Ungido, lá me colocou só por pura miopia poderia ter uma posição contrária.
*Os genocídios provocados pela Guerra, tenham sido pelos alemães, russos, romenos, japoneses, ingleses ou americanos são factos históricos e só uma pequeníssima franja de historiadores (ou equiparados) os contesta (sobretudo no que diz respeito aos alemães e romenos porque quantos aos outros ninguém abre a boca). Parece-me normal se atendermos à chamada distribuição uniforme do tratamento da informação.
É natural que a indignação provocada pelo desequilíbrio ético na condenação de todos os fenómenos de repressão, segregação, humilhação, tortura e execução de seres humanos leve a atitudes exacerbadas que tocam o limiar do admissível.
*Lamento (como poderia ser de outra forma?) o assassínio de grande quantidade de judeus (os seis milhões não são mais do que um cliché como o é o milhão de mortos da GCE), como de ciganos, de católicos e sobretudo de eslavos que pereceram às mãos dos alemães. Como não posso deixar de lamentar os seres humanos que foram violados, torturados e assassinados por comunistas, por ingleses e por franceses. Na morte, não lhes destingo o sangue, a fé, a cor ou as razões.
Dito isto, como prœmio, e face ao manifesto exagero que tem havido na monopolização das vítimas dos genocídios como sendo eminentemente judaicas (como se a vida de um judeu valesse mais do que a de um não judeu) não posso deixar de manifestar a minha repulsa, em nome da Justiça e da Verdade pelo facto de terem transformado num crime a simples reflexão sobre se o genocídio dos judeus durante a Segunda Guerra mundial foi resultado das circunstâncias adversas da guerra e, obviamnete, dos vectores ideológicos que enformavam o regime nazi ou correspondeu de facto a uma sistematizada e projectada Solução Final para o chamado problema judaico do Centro da Europa. Para os mortos e seus familiares e para os sobreviventes a questão é porventura despicienda mas para o registo histórico honesto ela é importante. Impor dogmas em História é, à partida, permitir a mentira e o triunfo do Oblivion.
Porque é que se não pode perguntar porque é que que Rudolf Hess que praticamente não fez a guerra, foi condenado como criminoso de guerra? Ou terá sido por delito de opinião ?
Porque se fala à boca pequena de Katyn, de Trieste e da entrega dos exércitos de Vlasov? Dos criminosos bombardeamentos de Dresden e Hamburgo ? Da sistemática violação de mulheres alemãs, austríacas, polacas, romenas e húngaras pelos russos e pelos americanos (as francesas que o digam)? Justiça Væ Victis?
Muita dessa insistência na Shoa como essencialmente orientada para os Judeus acaba por se virar contra eles como muito bem percebeu Norman Finkelstein e o denunciou na Indústria do Holocausto.
E depois, pela empatia com as vítimas assinadas do genocídio nazi, se concluir que tudo lhes é devido e permitido, parece-me um disparate igualmente grave. Os palestinianos, igualmente semitas e seres humanos, têm o mesmo direito a existir que os judeus como estes o tinham em relação aos alemães.
Tenho-me (ponho de lado qualquer falsa modéstia) por ser um entendido curioso nas coisas judaicas que sempre me apaixonaram (provavelmente por ascendência de que muito me orgulho)e seria dos últimos a considerar-me anti-judaico. Mas não aceito racismos velados nem duplicidade de pesos e medidas.
E creio que nem tu nem o P.C.P. gostariam de estar na mesma fotografia que o caricato Rato mas por vezes o vosso raciocínio é demasiado maniqueista para o meu gosto.

Brevemente iniciarei a postagem de canções da diáspora judaica portuguesa...

NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA !

sexta-feira, abril 07, 2006

Quando se têm dois amores...si us plau

Com Alfonso XIII, à espreita, Hitler à esquerda e Iossif Vissarionovitch Djugatchvilli à direita...



A síntese irónica do marketing da imagem


Buñuel e o pintor numa pose muito almodoveriana...


o Pintor e o amante...

segunda-feira, abril 03, 2006

O BIG BROTHER NUM SONHO DE TARDE DE FIM-DE-SEMANA

Num destes dias, depois de um invulgarmente pesado repasto e enquanto relaxava defronte do écran televisivo, senti-me invadir por um não menos invulgar sonho, que, gradualmente, me foi anestesiando o consciente.
Comecei a sentir-me nauseado e esganado...Uma sensação de desfalecimento invadiu-me...
Focando instintivamente o subconsciente para sincronizar as sensações, senti-me enforcado no nó da gravata e, no sufoco, vi perpassar por mim as últimas imagens da vida que sentia fugir-me.
No meio de toda a agitação, pareceu-me ouvir na televisão o som esganiçado da voz da apresentadora do incontornável Big Brother, deixando denunciar o evidente à-vontade com que se move nos entrefolhos rascas do pseudo-concurso.
A verdade é que essa aparição me distraiu do inventário mental com que no fim contabilizamos os nossos pecados e virtudes e devo confessar que foi com agrado que pus de lado as contas que me conduziriam a um mais que esperado saldo negativo, levando-me a reflectir, em alternativa, sobre o fenómeno. Espelho actual do estado e ambição cultural da nossa sociedade, o espectáculo em causa fidelizou multidões de seres que, fugindo às apagadas e vis tristezas da sua vida real, se deixaram envolver nas teias pegajosas daquela pobreza de espírito. Outros, ou porque se assumam como pertença de classes mais intelectualizadas, ou porque tenham ainda algum resquício de pudor, desculpavam a sua adictividade com o interesse da observação de uma experiência de cariz sociológico ou, mais francamente, com a atracção que o sórdido sempre provoca.
De novo, o pequeno écran atraiu a minha atenção subliminar; numa curta interrupção das cenas, para apresentação do noticiário, um qualquer ministro, votado para abandonar uma outra comuna do Big Brother, vociferava vingativo – Hadem pagá-las todas!!!
Com o crescente aperto da gravata senti, talvez como consequência da maior irrigação sanguínea, o regresso do estado analítico e pus-me, de novo, a reflectir obcecadamente sobre o assunto. Ao relembrar a ficção de Orwell-1984 que dera o mote à iniciativa televisiva, todo o enquadramento me parecia essencialmente pavloviano, mas era obrigado a reconhecer nas expressões de cultura suburbana que caracterizavam o pograma, os primórdios da Novilíngua. Se calhar, sabe-se lá, na sua génese estaria já uma produção menor da Pornosec, uma das subsecções do Ministério da Verdade da Grande Fraternidade.
Com a tarracha final à vista, deu-se um mergulho num outro universo de delírio e os reflexos dos écrans passaram a trazer-me boschianas imagens de degradação e inferno. Vislumbrei então, por entre névoas e sombras, um país sem nome, rebaixado e adormecido, sucedâneo espanhol de uma Nação antiga, contraditória e insegura mas orgulhosa e digna, agora subrepticiamente dissolvida num acidulado banho nihilista, agitado por incontáveis borboletas, esvoaçando invertidas sobre o resultado dessa lenta mas inexorável auto-degradação.
Via a deslealdade ser premiada, a honradez e a abnegação ridicularizadas, a corrupção desvalorizada e a pusilanimidade acarinhada. Via as elites servirem-se em vez de servirem, o compadrio sobrepor-se ao mérito e a mediocridade alinhada grassar. Via o herói ser considerado vilão, o crente mentecapto, o honesto incómodo.
Quebrando a monocromia da imagem, eis que surgiu na visão, em tom pastel, uma esfuziante manifestação de onde sobressaíam os casacos de pele de raposa de algumas senhoras que gritavam desalmadamente: Sim à liberalização do aborto!!! Abaixo os touros de morte!!!
À medida que a Salvatore Ferragamo se ia retesando no pescoço, pude ainda ver senhores com ar cinzento e austera compostura dizerem, ao ver-me soçobrar: - um tolo; é a prova evidente dos falhados, dos que querem “o longe, o Mistério, a Aventura, sinal de todo o impossível querer”. Mas, ao contrário do navio do poeta Couto Viana, não vi “o rapazio vir sonhar as linhas ideais de um outro navio, em busca de outras praias, em busca de outro Mar.”. Entrevi, isso sim, na languidez do desfalecimento que precede a morte, uns quantos mitras a fumar umas legais ganzas terapêuticas, curtindo uma boa e disfarçando na conversa sincopada e abstrusa, o despeito por não poderem tripar com a coca com que, mais além, um grupo de queques socialmente se recreavam.
Subitamente, aparecendo sem que me apercebesse de onde, eis que surge o Zé Eduardo Moniz a pedir-me, in extremis, que tentasse conseguir para a TVI, junto do Demo, a cobertura exclusiva da saddamização de Bush pelo rapaz Osama Bin Laden; oferecer-me-ia em troca, numa vida futura, e obviamente em caso de sucesso, um opíparo jantar no Maxims. Pois não é que minhas orelhas ruborizaram, incrédulas e escandalizadas, ao ouvirem os meus já desfalecidos lábios balbuciar: - Qual deles? O de Paris ou o da Praça da Alegria?...
Entretanto, o ruído do camião do lixo do Carmona acordou-me ao passar e pude erguer-se-me do sofá, combalido e confuso...

Mais Memórias do PREC


Maria Paula foi uma inesquecível voz nas noites de Lisboa dos tempos da resistência à ditadura do MFA. Quando lhe chamavam reaccionária, de direita e outros epítetos semelhantes, a Paulinha respondia: Qual mulher de Direita, qual carapuça... Sempre fui uma mulher livre e é assim que quero continuar a ser; não tenho qualquer inclinação especial pela direita, pela esquerda ou pelo centro.
Habituada, no passado, a pisar os palcos e a Ribalta dos estúdios, nem por isso parecia pouco à vontade no seu papel de entertainer no Botequim ou no Ibéria. Para além de um reportório clássico, adequado a esse tipo de espaços, Maria Paula interpretava canções satíricas, de cunho político, dando-lhes uma feição original, a que não faltava a crítica mordaz e a graça elegante. Acompanhada por personalidades como Natália Correia, Carlos Vilaret, António Vilar, Fernando Teixeira (que escrevia muitas das letras), entoava com vivacidade cançonetas ligeiras como O Cunhal caíu ao mar..., Os Suínos, O Nabo, Ó Zé Povinho, vem à janela... que ficaram célebres na reacção lisboeta (facilmente exportada para o Porto) à MFAda e ao PREC.
Que saudades...

Mais uma peça de museu...

Vinda do baú do Pedro Guedes, (e tão limpo quanto possível pela vetusta idade do registo, com a sua autorização) um exemplar de cante que dedico a um jovem teórico do novo nacionalismo (ver o seu texto publicado sobre o assunto na revista Resistência), um tal José Lúcio. Por onde andará esse alentejano duma figa?


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