segunda-feira, outubro 31, 2005

O Canto do J. César das Neves

O Paulo Porto chamou-me a atenção para um artigo do João César das Neves no DN. Confesso que por razões de sanidade mental e poupança de recursos há muito que não compro jornais. Mas agrada-me sempre ler o João Luís. Será sempre uma voz de liberdade e de diferença mas cheira-me que o não deixarão cantar por muito mais tempo no DN. O melífluo sacrista que o dirige em nome da mafia socialista não demorou tempo nenhum em sanear os comentadores tidos como mais à direita. Mas claro, sem perder aquela postura de tolerante e atinado profissional como mandam as regras de bem censurar e reprimir.

O tema que o João Luís aborda é o tema crucial da nossa época; é, por excelência, o da encruzilhada civilizacional. À tradicional sociedade assente na importância do Ser, sucedeu a burguesa afirmação do Ter; hoje, em que os mundos virtuais se confundem cada vez mais com a realidade, o Parecer é o vector vital da imagética social.

No sistema político, as formações partidárias agrupadas por matrizes ideológicas de há muito que cederam lugar às plataformas formadas pelo menor denominador comum dos interesses individuais ou de grupos limitados. Os partidos, nomeadamente os que configuram o balancé do Poder, são muitas vezes doutrinariamente intermutáveis, partilhando basicamente as mesmas ideias e orientações, apenas se distinguindo pelas cores clubistas, por um diferente património de memória histórica e, sobretudo, por distintas agregações de grupos de interesse. Tendo por referência a característica imobilidade burguesa dos Blocos Centrais, tendem a estratificar uma Liga de Poder estanque em que pontificam o clientelismo e o caciquismo, bloqueando qualquer iniciativa ou movimento que possa pôr em causa as regras do jogo, em particular, e o status quo, em geral. Acresce ainda que muitas outras forças vivas do Estado, nomeadamente as que têm por incumbência exercer funções de árbitro, tendem muitas vezes a constituírem-se em instrumentos políticos quando não partidários. À margem da essência do Direito e da Justiça que deve ser imparcial, simbolicamente cega e igual para todos, manipulam muitas vezes as omissões e o seu poder arbitrário ofendendo a Ética, a Decência e a Harmonia que devem presidir às regras do jogo social. Vê-se, por todo o lado, a pusilanimidade ser premiada, a honradez e a abnegação ridicularizadas, a corrupção mimada e desvalorizada. As elites servem-se em vez de servirem, o compadrio sobrepõe-se ao mérito e a mediocridade alinhada grassa. O herói é considerado tolo, o crente mentecapto, o honesto indesejável.

Embora na acção e participação político-partidárias as questões de natureza ideológica se tenham esbatido, perdendo terreno para a acéfala agregação clubista ou para a oportunística gestão dos interesses particulares, na esfera cultural que condiciona as matrizes do pensamento político, o seu lugar é cada vez mais importante, mesmo que seja percebido como menos aparente. É óbvio que a tradicional e linear dicotomia esquerda - direita começa a dar lugar a um referencial menos reducionista, em que os eixos permitem definir melhor os posicionamentos políticos e filosóficos face a critérios como individualismo-colectivismo, internacionalismo-nacionalismo ou materialismo-espiritualismo.

Aquilo que sentimos hoje é que a afirmação do tipo anti-herói grassa, pervertendo a ética e a estética nacionais, fomentando a dúvida e o desrespeito. Camuflada muitas vezes na exaltação falaciosa do fraco e do objector sistemático, é acintosamente apoiada, amiúde, por campanhas subsidiadas com o dinheiro dos nossos impostos. Tudo isso concorre para provocar uma depressão moral que facilita o desalento, a inércia e o derrotismo. O Bem e os Bons relativizaram-se ideologicamente e o fomento da emulação pelo exemplo dos melhores perdeu-se. O individualismo tem vindo a crescer, a solidariedade humana e a abnegação altruísta a desaparecer e as referências axiais pátrias nem já nos museus se cultivam. O Indivíduo, considerado fora das suas relações com os outros, vê-se despojado da pertença a uma realidade congregante e transformado numa abstracção quantitativa. Os povos submetidos às ditaduras socialistas bem sentiram na carne as consequências terríveis dessa utopia desastrosa a que nem as elites da nomenklatura conseguiam escapar.

Se, na galeria mitológica que ainda nos condiciona mentalmente, Liberdade e Igualdade aparecem hoje irremediavelmente desgastadas, já a Fraternidade internacional subsiste. Reforçada pelas energias recambiadas dos outros dois bastiões filosóficos, cada vez menos apelativos, continua a produzir estragos nas forças centrípetas da coesão nacional. É talvez em nome dela que em Portugal os Poderes dominantes promovem a extinção ou pelo menos atenuação da invocação e comemoração pública dos aniversários das glórias pátrias. Qualquer dia deixaremos de comemorar Aljubarrota para não ofender os espanhóis, ou relembrar os Heróis de Mucaba e Nambuangongo para não irritar os angolanos, ou mesmo evocar Chaimite, Marracuene ou Coolela para não indispor os moçambicanos. O Exército, aliás, já retirou o seu apoio às comemorações de Aljubarrota ajudando assim a dar um passo importante nesse sentido. Resta-nos, obviamente, comemorar as derrotas que essas, aparentemente não ofendem ninguém. Talvez por isso tenha recentemente surgido a insigne ideia de transferir as comemorações do dia do Combatente do significativo e ideologicamente neutro 10 de Junho para 9 de Abril. Como é sabido, esta data evoca apenas a maior derrota que as Forças Armadas Portuguesas sofreram no séc. XX - a batalha de La Lys, consequência da irresponsável política intervencionista dos socialistas de então. Enfim, haja Saúde e Fraternidade e, é claro, subsídios.

Há quem pense que tudo isso são sinais dos tempos, consequências de um progresso que cada vez mais nos faz cidadãos do Mundo, anónimos, obedientes, apáticos e consumidores compulsivos. Outros há que crêem que essas políticas, quase niilistas, são provocadas intencionalmente por aqueles que se escondem nos bastidores de um Poder Oculto, sombrio e sem rosto, que tudo pretende dominar para nos tornar, universalmente, em acéfalos e dóceis governados. Do que eles se esquecem é que, tal como num corpo sujeito a uma infecção se produz espontaneamente uma reacção de resposta, também o tecido social, em desespero, tenderá a reagir ao crescente mal-estar.

O Marketing de uma Nação

Quando a pressão do mundialismo aumenta, a soberania política das Nações é inelutavelmente ameaçada. Cada vez mais limitada e condicionada, apenas a indelével soberania que podemos designar por identitária permite resistir e manter acesa a candeia da independência nacional. Durante séculos países como a Irlanda, a Noruega, a Polónia e povos como o Israelita ou o Checo viveram sob o jugo de outros Estados, guardando, no entanto, bem viva a sua consciência identitária. Estimulados por esses exemplos, importa pois salvaguardar aquilo que nos agrega enquanto Nação. Essa tomada de consciência e a consequente capacidade para a afirmar são hoje peças fundamentais de qualquer estratégia de marketing de uma Nação. A apresentação e divulgação internacional de um País, muitas vezes descuradas ou ignoradas por sistema, são condições sempre subjacentes a qualquer política de projecção de força, de conquista de mercados ou tão simplesmente de afirmação de prestígio e credibilidade. Num mundo cada vez mais concorrencial, o estabelecimento de imagens de marca nacionais é um must de qualquer estratégia de desenvolvimento e afirmação. Ignorar esse facto, confiar na sorte ou na boa vontade dos parceiros é ser arrastado para uma desastrada e naïf política de funestas consequências. No nosso caso, se postos perante a alternativa de comprar um produto técnico grego ou alemão, já nos interrogámos sobre qual não seria o peso do preconceito nacional no processo de tomada de decisão? Estando tão seguros da qualidade de alguns dos nossos produtos, já nos questionámos sobre o que decidirá um vulgar Checo se tiver de escolher entre um vinho produzido em Portugal e outro oriundo de Espanha? E porquê? Efectivamente, como todos reconhecemos, a imagem de um País reflecte-se sempre de forma inequívoca na dura realidade do panorama internacional. Saber vendê-la é, pois, uma tarefa da máxima prioridade, sobretudo quando se perspectiva um afunilamento na hierarquização nos processos de reconhecimento e decisão.
Desde as Grandes Guerras que se tem vindo a perfilar a tendência para a constituição de um Governo Mundial. Mas é sobretudo nos anos cinquenta que se começa a sentir uma intolerável propensão para o controlo centralizado da vida política mundial. Alimentada por dois vectores aparentemente contraditórios, o internacionalismo capitalista multinacional e o internacionalismo socialista, essa corrente apresenta como argumentos fundamentais a necessidade da Paz e Progresso mundiais. Em nome desses ideais, sociedades mais ou menos secretas que já antes haviam representado um papel fundamental na desagregação e independência dos offsprings coloniais ibéricos das Américas, surgem, de novo, como forças de clivagem e poder. Vestindo sedutoras filantrópicas roupagens, são, no entanto, objectivamente, compagnons de route dos grandes interesses internacionais quer políticos quer financeiros com que amiúde se confundem.

BERNARDO GUEDES DA SILVA : PRESENTE !!!

Recebi várias mensagens a dizerem-me que havia morrido o pai do Pedro. Que pena ! Que pena a morte, obviamente, de um crente que irá encontrar junto de Deus o acolhimento misericordioso reservado aos que fazem questão de pertencer ao Seu Povo; mas, sem pôr em causa os méritos inquestionáveis do Pedro, que pena também por o Bernardo ser conhecido como o pai de...
Posso falar com tanto mais à vontade dele porque fui daqueles que não quis fazer parte da organização política que ajudou a fundar. Contudo, sempre o respeitei e pude testemunhar o apoio financeiro que deu, sem exigência de contrapartidas, a muita e muita gente que não vislumbrei nas cerimónias fúnebres. Consciência pesada ? Enterro do Juiz ? De facto, quanto mais conheço os homens mais respeito os animais....
A generosidade e o entusiasmo do Bernardo Guedes da Silva foram sempre proverbiais e deram azo a que muita gente delas se aproveitasse à má-fé. Ah ! essa Direita trituradora e mesquinha que não faz nem deixa fazer e que nem na hora da morte sabe honrar os seus maiores !

Saibamos honrar a memória do Bernardo. Os crentes, pelo menos, que lhe reservem uma presença especial nas suas orações. Eu fá-lo-ei !

segunda-feira, outubro 24, 2005

Nostalgia de Outono

de Luys de Santa Marina


Del 33 a 47
van catorce años, si cuento bien,
mucho ha llovido desde entonces,
mucho ha caído, mucho está en pie,
mucho ha caído como las hojas
que servieron cuando fue su vez...
Quizá justo sea,
pero sólo sé
que de cada cuatro
cayeron tres

Eran locos, violentos,
algo perdularios, y qué?,
ni temían ni debían
y todo lo afrontaban en pie,
mas cuando los irreprochables
- carrerita y mucho quinqué -
chaqueteaban y se escondían,
ellos se fueron com él,
y la fuerza de ir a la fuente
de cada cuatro cayeron tres.

Y los prudentes y los sensatos
cual siempre tiesos quedaran en pié,
es lo de siempre, claro está,
pero esta vez
fue porque de cada cuatro
cayeron tres.

Los veo a veces, serios y amargos,
otras riendo, con o sin mujer,
pero en sus ojos - ojos de antaño -
veo no tienen nada que aprender
de esos caimanes que venir las veen,
porque palacios, templos y fábricas
- ellos lo saben, y bien -
se alzaron, sobre los huesos
de esos tres, y otros tres, y otros tres.


AÑOS DESPUÉS

Los que hicieron a diario cosas propias de arcángeles,
los niños hechos hombres de un estirón de pólvora,
los que con recias botas la vieja pel de toro
trillaron, en los ojos quimeras y romances,
adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

Pocos años bastaron para enfriar sus almas,
aquel sueño glorioso creen que no vivieron,
no yerguen las cabezas ni les brillan los ojos
al mirar como pasan sus marchitas banderas.
Adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

Al florecer la plata de las primeras canas,
piensan ya que pidieron demasiado a la vida,
que va siempre más baja la bala que el deseo.
Escepticismo en suma, final de juventudes...
Adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

Pero no naufragaron ante grandes tragedias,
cayeron entre tedios, roídos por la hormiga
de lo vulgar; penurias, mujer ajada y agria,
el mes que no se acaba, la ilusión de outra hembra...
Adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

Ya no sé si la paz es mejor que la guerra
- quizá sea lo mismo en el pausado péndulo
de la vida y la historia – pero aquella alegría,
aquellos ojos llenos de quimeras y romances,
adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

quarta-feira, outubro 12, 2005

Rui Falcão de Campos

Violência
À memória de Onésimo
Redondo, vítima da F.A.I.

A violência é o que resta,
Quando nos roubaram de tudo.

Quando a voz falece
No fundo da garganta seca;
E quando na confidência da sombra
Se movem sombras inconfidentes;
E quando o cansaço se muda em raiva,
A tristeza se muda em amargura,
A ânsia em fúria,
Fúria em Força
Força Insurrecta...

E quando a justiça soluça
E Mariana calca aos pés as liberdades;
Quando, enfim, a gente se sente mais livre,
Quando se encarna o sobressalto,
Ao desprender-se da própria vida.
Os bosques se enchem de faunos,
E os vampiros rondam de madrugada,
E a suspeita viola a cidade...
Quando nos roubam de tudo,
A honra e a dignidade
Tomam a humana condição
Numa palavra só:
“Violência”.
Lisboa, 1980
Na recente Audição prévia para a confirmação do Juiz John Roberts para o Supremo Tribunal dos States, destacou-se pela sua agressividade a campeã feminista a Senadora Dianne FEINSTEIN, da Califórnia. E, com todas as letras, veio ao de cima todo o peso da concepção ideológica dos abortistas: A impossibilidade de praticar o aborto livre tolhe o direito à Igualdade da mulher ! Porra, porque é que a natureza não nos fez a todos iguais ? Hermafroditas, iguaizinhos, uniformes, clones uns dos outros ? Quantos milhões de mortos não provocou já esta obsessão da Igualdade anti-natural ? Abortistas: confessem como a judia Feinstein as vossas verdadeiras razões para defenderam o aborto e deixem-se de hipocrisias !
Permito-me transcrever alguns mimos do diálogo :

FEINSTEIN :In response to the chairman's question this morning about the right to privacy, you answered that you believed that there is an implied right to privacy in the Constitution.
Do you then believe that this implied right of privacy applies to the beginning of life and the end of life?

ROBERTS: Well, Senator, first of all, I don't necessarily regard it as an implied right. It is the part of the liberty that is protected under the due process clause. That liberty is enumerated...

FEINSTEIN: And in Casey, again, the court stated, and I quote, "The ability of women to participate equally in the economic and social life of the nation has been facilitated by their ability to control their reproductive lives and that this ability to control their reproductive lives was enough of a reliance to sustain Roe."

ROBERTS: That's what the court concluded -- I think you're reading from the plurality opinion -- the joint opinion in the case.

FEINSTEIN: Thank you.
One other reading from Justice Ginsburg's testimony: "Abortion prohibition by the state, however, controls women and denies them full autonomy and full equality with men. That was the idea I tried to express in the lecture to which you referred; that two strands, equality and autonomy, both figure in the full portrayal."

FEINSTEIN: In Bray, you argued on behalf of the government as deputy solicitor general that the right to have an abortion is not specific to one gender.
Specifically, your brief stated, quote, "Unlike the condition of being pregnant, the right to have an abortion is not a fact that is specific to one gender," end quote.
In your oral argument you went on to make this point by comparing Operation Rescue's attempts to prevent a woman from exercising her privacy right to make decisions about her pregnancy to an ecologist's efforts to block an Indian tribe from using their exclusive fishing rights.

Do you think that's an appropriate analogy?

ROBERTS: Well, Senator, it was a position and an argument that the administration made that was accepted by the Supreme Court by a vote of 6-3.

The underlying point was that under the statute at issue in Bray, the Ku Klux Klan Act, required under the Supreme Court's precedent that people engaged in the challenged activity must be motivated by a discriminatory animus.
Obviously, under the Ku Klux Klan Act, the classic case, racial hostility.
And the issue was: Are people opposed -- in the Bray case -- opposed to abortion opposed to women?
And the determination of the court was that, no, that there are people who are opposed to abortion and that does not constitute opposition or discriminatory animus against women and, therefore, that the Ku Klux Klan Act didn't apply.

Many other provisions obviously apply in a case of abortion protester violence, including state law and other provisions of federal law, but the Supreme Court concluded 6-3 that there is no discriminatory animus based on opposition to abortion.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Isto está a dar-me um gozo inaudito !

Apesar da arrogância (quase sempre resultado da ignorância) de alguns comentadores, isto está a estimular-me intelectualmente e a obrigar-me a reflectir sobre temas há muito arrumados. Tenho pena que as suas certezas lhes não permitam entrever o humor que coloco nalgumas interrogações. Rígidos e convencidos, revelam uma total opacidade à discussão de novos ângulos de visão que se afastem do modelo preconcebido a que adaptam os factos.
Discutir se os lusitanos eram ou não indo-europeus é discutir o sexo dos anjos.
Caruso cita Untermann. Este e Prosdocimi são os únicos autores de relevo que classificam o lusitano (língua) como próximo do celtibero e ambos como línguas celtas. O ex-falangista, ex-nacionalsocialista e liberal Antonio Tovar, tal como Gorrochategui consideram-no indo-europeu mas de um sub-grupo diferente do celta. Isto, como o licenciado Caruso reconhece, desde que as inscrições de Lamas de Moledo e de Cabeço das Fráguas sejam lusitanas. Ora, este facto é posto em dúvida por muitos historiadores e linguistas.
De qualquer forma, a maioria destes concorda que os lusitanos não seriam uma etnia mas um conjunto de povos de diferentes origens, vivendo em espaços adjacentes e interligados por processos de aculturação mútuos.
Mas também o que é que isso interessa? No espaço territorial que hoje é Portugal continental co-habitaram celtas da última migração(galaico braccaros, seguramente), asturo-cantabros da primeira migração celta que os levou inclusivamente a chegar à Irlanda (criando a fase astúrica, pré-Tuatha De Danan). A propósito, Irlandeses e Galeses são povos celtas diferentes, genetica e linguisticamente; pensa-se aliás que os últimos, os Cymbros, são descendentes dos tais astúrios derrotados na Irlanda.
E pergunto-me: o que é que ascendência nos traz de particular a não ser exactamente a noção de que resultamos de uma grande mistura e salganhada de povos de diferentes origens ? E que se pesquisarmos bem vamos todos dar aos mesmos antepassados.
A mítica ideia de que os indo-europeus irromperam na Europa vindos das estepes ucranianas e que de uma forma avassaladora subjugaram manu militari as populações pré-indoeuropeias foi posta em causa no fim dos anos 80 por vários paleolinguistas, nomeadamente por Colin Renfrew. Segundo ele, foi a vaga de migrantes vindos do médio oriente, no Neolítico, em resultado da explosão populacional provocada pelo desenvolvimento da agricultura que introduziu as línguas indo-europeias no Velho Continente; no entanto, de acordo com Martin Richard (através de estudos do ADN mitocôndrico que se transmite de mãe para filho) esse influxo genético corresponde apenas a cerca de 20% da actual população europeia. A superioridade técnica, social e cultural da língua mais elaborada desses povos foi o que permitiu que o indo-europeu se afirmasse. Contudo, 80% dos genes dos actuais europeus já cá estavam desde o Paleolítico. À mesma conclusão chegou o estudo de Ornella Semino e Luca Cavalli-Sforza, este um dos pioneiros da antropologia genética, que trabalharam as mutações dos cromossomas Y que passam do pai para filho. Os marcadores das mutações já estavam presentes nas populações que na Ucrânia, nas montanhas do norte dos Balkãs e na Península Ibérica sobreviveram à última Idade do Gelo.
O que estas conclusões significam é que no fim de contas somos (todos os humanos) muito mais próximos do ponto de vista biológico do que alguns gostariam que fossemos. Mas, por outro lado, não deixam de por em evidência a singularidade do que significa ser um ser humano e que a complexidade intangível do indivíduo nega o mito da Igualdade.
Não partilhando o desdém (e, diga-se, incredulidade) de Herculano pelos Lusitanos, sinto-me orgulhoso de todo e qualquer influxo genético e cultural (inclusivamente dos milhares de escravos africanos) que contribuíram para transformar o Portugal europeu na Nação que foi.
A insistir na tese racista ou raciológica da formação do carácter nacional, ver-me-ia obrigado a questionar-me porque é que me sinto melhor acompanhado por um qualquer Cuanhama do que pelo Louçã ou pelo Carrilho...
É que, na realidade há duas weltanschauung ou mundovisões base que há muito se digladiam. Entendem uns que o papel do Homem é ser senhor do seu próprio destino, de modo a contribuir para oferecer à humanidade o bem estar físico através da conquista do mundo material, sem necessidade de qualquer força, anseio ou poder espiritual, no que reputam de obscurantismo. Recusam aceitar a interferência da fé e do sobrenatural pretendendo demonstrar tudo através da razão. Outros concebem os humanos como filhos de Deus, abandonados à gestão do mundo material, em que se devem guiar pelo amor ao próximo e a si mesmo, praticando as virtudes espirituais da fé, da esperança e da caridade. Acreditam numa dimensão sagrada da vida pelo que, para eles, os outros fundam a sua lógica numa admiração egoísta pelo Eu pessoal; mesmo que entre eles existam almas generosas, a maioria apenas espera obter benefícios pessoais, trabalhando por apetite à recompensa terrena. Não é difícil perceber que me filio entre os segundos...

sexta-feira, outubro 07, 2005

Meus caros

Com o azeite bem separado do vinagre, confesso-vos que não tenciono gastar nem mais um minuto com uma polémica que não conduz a lado algum. Permitam-me, no entanto, salientar o seguinte:

  • Um boa parte dos comentadores (seguramente por inépcia minha em fazer-me entender) acabaram por não perceber patavina do que é uma Pátria, uma Nação, um Estado, um Império ou até mesmo uma etnia (conceito essencialmente cultural e não bio-genético que penso que usam em vez de raça; ganda raça a portuguesa, descendente de iberos ou de celtas ? de mouros ou judeus ? de fenícios ? de recolectores de conchas ? de construtores de megalitos ? ah, claro, já me esquecia que as elites são descentes dos germânicos visigodos ou suevos. Qual é que é o essencial e qual o acessório ? É pela língua ariana que se define a Nação? Então, moço, todo o braslêro é ariano! E os moçambicanos ? Onde é que eu tinha a minha cabeça ! E é claro que nos E.U.A. não seriamos tratados como não brancos. Como lá vivi 5 anos, a minha experiência foi seguramente afectada pela minha tez da Beira Baixa que os enganou.
  • Não sou defensor do Portugal artificial de Minho até Timor (um rascunho do projecto de Nação apregoado por quem, no fundo, nele não acreditava) e é mais um pegajoso reducionismo resumir as posições apenas às duas mencionadas por F. G. Santos.
  • Também não tenho qualquer problema com o pronunciamento corporativo do 25 de Abril. Foi o corolário lógico de marcelices, complexos de ventos de mudança e da implosão do regime por telecomando mundialista. Não posso é ignorar as suas terríveis consequências: Centenas de milhares de mortos, milhares de expoliados, enriquecimento cleptocrático de pseudo-elites africanas e europeias, liberdade de pensamento e expressão condicionadas por uma lavagem ao cérebro ideológica facilitada pelo militante apoliticismo do regime deposto, etc., etc., etc.
  • Saudosismo, lamechice, reaccionarismo, direitismo, etc. são epítetos que batem no escudo da minha indiferença.
  • Quanto à ortogénese Volkish, perdão shô Jardim, Volkisch, da Nação espero que a proximidade com as terras do Conde Vlad, certamente mais consentâneas com os seus hábitos higiénicos, lhe permitam reflectir sobre o que é que isso significa no caso de Portugal.

Avante !