segunda-feira, outubro 10, 2005

Isto está a dar-me um gozo inaudito !

Apesar da arrogância (quase sempre resultado da ignorância) de alguns comentadores, isto está a estimular-me intelectualmente e a obrigar-me a reflectir sobre temas há muito arrumados. Tenho pena que as suas certezas lhes não permitam entrever o humor que coloco nalgumas interrogações. Rígidos e convencidos, revelam uma total opacidade à discussão de novos ângulos de visão que se afastem do modelo preconcebido a que adaptam os factos.
Discutir se os lusitanos eram ou não indo-europeus é discutir o sexo dos anjos.
Caruso cita Untermann. Este e Prosdocimi são os únicos autores de relevo que classificam o lusitano (língua) como próximo do celtibero e ambos como línguas celtas. O ex-falangista, ex-nacionalsocialista e liberal Antonio Tovar, tal como Gorrochategui consideram-no indo-europeu mas de um sub-grupo diferente do celta. Isto, como o licenciado Caruso reconhece, desde que as inscrições de Lamas de Moledo e de Cabeço das Fráguas sejam lusitanas. Ora, este facto é posto em dúvida por muitos historiadores e linguistas.
De qualquer forma, a maioria destes concorda que os lusitanos não seriam uma etnia mas um conjunto de povos de diferentes origens, vivendo em espaços adjacentes e interligados por processos de aculturação mútuos.
Mas também o que é que isso interessa? No espaço territorial que hoje é Portugal continental co-habitaram celtas da última migração(galaico braccaros, seguramente), asturo-cantabros da primeira migração celta que os levou inclusivamente a chegar à Irlanda (criando a fase astúrica, pré-Tuatha De Danan). A propósito, Irlandeses e Galeses são povos celtas diferentes, genetica e linguisticamente; pensa-se aliás que os últimos, os Cymbros, são descendentes dos tais astúrios derrotados na Irlanda.
E pergunto-me: o que é que ascendência nos traz de particular a não ser exactamente a noção de que resultamos de uma grande mistura e salganhada de povos de diferentes origens ? E que se pesquisarmos bem vamos todos dar aos mesmos antepassados.
A mítica ideia de que os indo-europeus irromperam na Europa vindos das estepes ucranianas e que de uma forma avassaladora subjugaram manu militari as populações pré-indoeuropeias foi posta em causa no fim dos anos 80 por vários paleolinguistas, nomeadamente por Colin Renfrew. Segundo ele, foi a vaga de migrantes vindos do médio oriente, no Neolítico, em resultado da explosão populacional provocada pelo desenvolvimento da agricultura que introduziu as línguas indo-europeias no Velho Continente; no entanto, de acordo com Martin Richard (através de estudos do ADN mitocôndrico que se transmite de mãe para filho) esse influxo genético corresponde apenas a cerca de 20% da actual população europeia. A superioridade técnica, social e cultural da língua mais elaborada desses povos foi o que permitiu que o indo-europeu se afirmasse. Contudo, 80% dos genes dos actuais europeus já cá estavam desde o Paleolítico. À mesma conclusão chegou o estudo de Ornella Semino e Luca Cavalli-Sforza, este um dos pioneiros da antropologia genética, que trabalharam as mutações dos cromossomas Y que passam do pai para filho. Os marcadores das mutações já estavam presentes nas populações que na Ucrânia, nas montanhas do norte dos Balkãs e na Península Ibérica sobreviveram à última Idade do Gelo.
O que estas conclusões significam é que no fim de contas somos (todos os humanos) muito mais próximos do ponto de vista biológico do que alguns gostariam que fossemos. Mas, por outro lado, não deixam de por em evidência a singularidade do que significa ser um ser humano e que a complexidade intangível do indivíduo nega o mito da Igualdade.
Não partilhando o desdém (e, diga-se, incredulidade) de Herculano pelos Lusitanos, sinto-me orgulhoso de todo e qualquer influxo genético e cultural (inclusivamente dos milhares de escravos africanos) que contribuíram para transformar o Portugal europeu na Nação que foi.
A insistir na tese racista ou raciológica da formação do carácter nacional, ver-me-ia obrigado a questionar-me porque é que me sinto melhor acompanhado por um qualquer Cuanhama do que pelo Louçã ou pelo Carrilho...
É que, na realidade há duas weltanschauung ou mundovisões base que há muito se digladiam. Entendem uns que o papel do Homem é ser senhor do seu próprio destino, de modo a contribuir para oferecer à humanidade o bem estar físico através da conquista do mundo material, sem necessidade de qualquer força, anseio ou poder espiritual, no que reputam de obscurantismo. Recusam aceitar a interferência da fé e do sobrenatural pretendendo demonstrar tudo através da razão. Outros concebem os humanos como filhos de Deus, abandonados à gestão do mundo material, em que se devem guiar pelo amor ao próximo e a si mesmo, praticando as virtudes espirituais da fé, da esperança e da caridade. Acreditam numa dimensão sagrada da vida pelo que, para eles, os outros fundam a sua lógica numa admiração egoísta pelo Eu pessoal; mesmo que entre eles existam almas generosas, a maioria apenas espera obter benefícios pessoais, trabalhando por apetite à recompensa terrena. Não é difícil perceber que me filio entre os segundos...

3 comentários:

Caturo disse...
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Caturo disse...

Ora a arrogância ignara demonstrada anteriormente, levou a que o Monarca Em Pelota se despisse de preconceitos e fosse perguntar algo a um amigo que leu uns livritos jeitosos ou, porque não, ir ele próprio passar as vistas por umas páginas impressas que falassem dos Lusitanos e afins, essa gente que não interessa nada porque viveu antes dos Descobrimentos.

Salva-se o sempre presente humor corrosivo, de uma tal finura que lhe toma por completo a mente, não lhe permitindo sequer perceber o contra-humor que se lhe atirou à prosa.

Vamos directo ao assunto:
«Discutir se os lusitanos eram ou não indo-europeus é discutir o sexo dos anjos.»

Não é discutir o sexo dos anjos. É discutir uma das questões mais debatidas pela Arqueologia e Linguística relativas à Ibéria antiga, debate esse que, diga-se de passagem, parece encerrado quanto ao carácter indo-europeu dos Lusitanos - já nem se põe em causa que fossem indo-europeus; o que se discute ainda é a que ramo dos Indo-Europeus pertencem:
- ao celta;
- ao grande ramo celto-italiota (dado que o Lusitano, em virtude da sua suposta troca do D pelo R (Witzclaf), parece ter algo a ver com o Úmbrico, que pertence ao grupo Italiota, do qual aliás faz parte o Latim);
- ao ramo traco-frígio;
- e, teoria mais ousada mas com muito interesse, ao ramo indo-ariano.



«Caruso cita Untermann»

Caruso era o pato. O pato Caruso. Mas como aqui o pato é outro, mais bravo, ou talvez amansado, parece que os nervos do Rei Sem Roque Nem Roupa lhe afectam a capacidade de reprodução de um nome, erro esse que ainda não tinha sido dado.



«Este e Prosdocimi são os únicos autores de relevo que classificam o lusitano (língua) como próximo do celtibero e ambos como línguas celtas.»

E já não é mau... se entretanto houver outros grandes autores de relevo que classifiquem o Lusitano como não indo-europeu, eu gostava de saber quem são...




«O ex-falangista, ex-nacionalsocialista e liberal Antonio Tovar,»

Está tramado, foi politicamente identificado, a teoria dele está ferida de morte... será?



«tal como Gorrochategui consideram-no indo-europeu mas de um sub-grupo diferente do celta. Isto, como o licenciado Caruso reconhece, desde que as inscrições de Lamas de Moledo e de Cabeço das Fráguas sejam lusitanas. Ora, este facto é posto em dúvida por muitos historiadores e linguistas.»

Bem, da última vez que falei com quem está especificamente dentro do assunto, a esmagadora maioria dos historiadores e linguistas considera que essas inscrições foram de facto feitas em língua(s) lusitana(s), ou, pelo menos, local, e, uma vez que tudo nela indica um carácter indo-europeu, tem-se que a gente que ali vivia há dois mil anos, era de facto indo-europeia...




«a maioria destes concorda que os lusitanos não seriam uma etnia»

Não, a maioria dos autores concorda que os Lusitanos não seriam uma única tribo, mas sim um conjunto de tribos que formaria uma espécie de «nação» lusitana, etnicamente aproximada, senão mesmo afim, da galaica. Daí que os maiores Deuses de ambos os povos, Reva e Band, por exemplo, fossem comuns a Galaicos e a Lusitanos.




«Mas também o que é que isso interessa? No espaço territorial que hoje é Portugal continental co-habitaram celtas da última migração(galaico braccaros, seguramente), asturo-cantabros da primeira migração celta que os levou inclusivamente a chegar à Irlanda (criando a fase astúrica, pré-Tuatha De Danan)»

Essa para mim é que é nova, a de haver Asturo-Cantábricos em Portugal. Não contesto, mas vou procurar informar-me sobre o assunto.
De qualquer modo, toda essa gente é indo-europeia.



«A propósito, Irlandeses e Galeses são povos celtas diferentes, genetica e linguisticamente; pensa-se aliás que os últimos, os Cymbros, são descendentes dos tais astúrios derrotados na Irlanda.»

Os Astúrios derrotados na Irlanda, e anteriores aos Tuatha de Danann, só podem ser ou os Fomor ou os Firbolg. Mas ao que tudo indica, a grande ligação entre a Irlanda e a Ibéria verifica-se no caso dos Filhos de Mil (também chamados «Miles Easpain«, isto é, os Soldados da Hispânia), a quinta «raça» invasora, posterior, e não anterior, aos Tuatha de Danann.



«E pergunto-me: o que é que ascendência nos traz de particular a não ser exactamente a noção de que resultamos de uma grande mistura e salganhada de povos de diferentes origens ?»

Traz-nos outra coisa de realmente particular e não inventado pelos mundialistas para destruir as identidades: para já, traz-nos a consciência de que, do norte ou do sul, somos de raiz indo-europeia, o que é uma grande chatice para quem teve tanto trabalho em baralhar e voltar a dar para depois verificar que afinal continua na estaca zero, porque praticamente tudo no nosso passado pré-romano é indo-europeu, isto é (para os abrigos que a bomba vai estoirar!), somos arianos.

Traz-nos também a consciência de que temos uma identidade com raízes arcaicas, que constitui o veio central do Povo que somos e que desaparecerá se continuar a ser miscigenado com outros povos ao ponto de se diluir completamente.

O dogma disfarçado de conclusão científica segundo o qual somos todos uma misturada, logo, não podemos ter orgulho étnico e rácico, não passa de areia para os olhos atirada por quem está disposto a destruir todas as identidades em nome de um projecto mundialista mutilador, seja ele esquerdista, cristão ou muçulmano.




«E que se pesquisarmos bem vamos todos dar aos mesmos antepassados.»

Sim - ao fundo do mar, donde veio toda a vida.
Direito de nacionalidade para a ameba e para o esturjão - já!



«mítica ideia de que os indo-europeus irromperam na Europa vindos das estepes ucranianas e que de uma forma avassaladora subjugaram manu militari as populações pré-indoeuropeias foi posta em causa no fim dos anos 80 por vários paleolinguistas, nomeadamente por Colin Renfrew.»

Não é bem assim. O que Colin Renfrew pôs em causa, foi que os Indo-Europeus fossem originalmente uma sociedade pastoril e guerreira que se tivesse disseminado a partir do sul da Rússia desde o terceiro milénio, que é a teoria tradicional.
O que Colin Renfrew veio dizer foi que os Indo-Europeus, na verdade, vieram da Ásia Menor (actual Turquia) ainda antes disso, isto é, uns milhares de anos antes, com o começo do Neolítico, numa movimentação de «oleadas», ocupando progressivamente toda a Europa.
Alguns dos seus leitores não perceberam bem, mas isto significaria que a Europa era ainda mais indo-europeia do que se pensava, dado que, a confirmar-se esta teoria, tudo o que fosse povos do neolítico, do calcolítico, da Idade do Bronze, do Ferro, era tudo indo-europeu. É que assim, até os construtores de megálitos seriam indo-europeus...



«no entanto, de acordo com Martin Richard (através de estudos do ADN mitocôndrico que se transmite de mãe para filho) esse influxo genético corresponde apenas a cerca de 20% da actual população europeia.»

É uma teoria, apenas. Ainda hoje, não se sabe ao certo qual é o gene propriamente indo-europeu, se é que tal gene unitário existe.

Nem a respeito do aspecto físico dos Indo-Europeus há acordo. O único ponto em comum entre todas as partes do debate, é que os Indo-Europeus eram todos de raça branca.



«A superioridade técnica, social e cultural da língua mais elaborada desses povos foi o que permitiu que o indo-europeu se afirmasse»

Há quem conteste essa teoria, pura e simplesmente porque, nesses recuados tempos pré-históricos, uma língua não se disseminava nem se impunha por meio do comércio, da televisão ou de programas culturais de companhias teatrais, mas sim por presenças étnicas significativas. Ou seja, os Indo-Europeus teriam de ter invadido a Europa em números significativos para conseguirem impor, em toda a parte (excepto no País Basco) a sua família linguística. Nesses tempos, a superioridade tecnológica, social e cultural não era tão grande da parte de nenhum povo que permitisse a total absorção de um por outro sem que houvesse números populacionais significativos da parte do ocupante.



«O que estas conclusões significam é que no fim de contas somos (todos os humanos) muito mais próximos do ponto de vista biológico do que alguns gostariam que fossemos»

O que estas conclusões significam é que, afinal, não somos assim tão irmãos como alguns quereríamos que fossemos, dado que há três vezes mais proximidade entre os povos da Europa do que entre qualquer destes povos e os norte-africanos.

Ah maldita genética!, que ainda não foste devidamente domesticada pelo mundialismo afro-tuga, nem sequer pelo fraternalismo esquerdista...
Porque tu, Raça, tu és a última grande barreira para se poder deitar abaixo todas as fronteiras, porque, quando já não existires, ou não interessares, qualquer nigeriano ou esquimó pode ser inglês ou tailandês, bastando para isso naturalizar-se e já está, é limpinho... e, se quiser ser português, ainda melhor!, põe-se-lhe à frente um questionário gizado nos seguintes modos:
«Jovem africano/asiático/, se tens uma irresistível vontade de fazer parte de um clube que se chama Portugal, basta que aprendas a falar a língua, ames toda a gente sem limites de raça, consideres os Descobrimentos como a fundação do verdadeiro Portugal e já está, agora só resta tratar dos papéis! Viva Portugal, o Eusébio, a Amália, a Marisa, a tourada, o bacalhau, o Deco e nunca esquecer que Angola é nossa!»

Assim, acabam-se de vez todas as diferenças reais, passando cada qual a criar as suas próprias diferenças, conforme lhe dê na gana. Qualquer Sousa pode por exemplo decidir chamar-se Barata Feio e obrigar os Barata Feio a aceitá-lo como irmão ou pelo menos como primo.




«A insistir na tese racista ou raciológica da formação do carácter nacional, ver-me-ia obrigado a questionar-me porque é que me sinto melhor acompanhado por um qualquer Cuanhama do que pelo Louçã ou pelo Carrilho...»

Ah, entendo, agora a Nação faz-se por simpatias ideológicas ou afinidades em matéria de gostos individuais. Eu por acaso gosto de Folk italiano - portanto, os gajos da Itália que fazem Folk é que são da minha nação. Podem não falar Português, mas são da Europa e acabou, a partir de agora vivemos na União Europeia. Além disso, a cultura latina é que está na base da Portuguesa. O Louçã, o Portas e o Jerónimo de Sousa, não partilham das minhas ideias, se calhar nem gostam dos mesmos pratos, por isso urge retirar-lhes a nacionalidade. Só é português quem concordar comigo.



«Outros concebem os humanos como filhos de Deus,»

Mas qual Deus? Deuses há muitos... o de Israel? O dos muçulmanos? O dos cristãos? O(s) dos Hindus? O dos muçulmanos e dos cristãos, diz que somos todos iguais, mas o de Israel, que seria o mesmo (um só Deus para as três religiões), continua, segundo os Judeus, a dizer que eles são o povo eleito ao qual será dado, um dia, o controle do mundo. Mas talvez esta visão seja errada porque o Nacionalismo é para ser abatido. Logo, os Judeus estão enganados.

Portanto, a boa nação é formada pelos que concordam comigo; e a boa religião, é a daqueles que têm a mesma definição de Deus que eu tenho.

AnubiS disse...

"Nao percamos tempo com gente que navega no nevoeiro do passado!"

Que pessoa culta... Formada, inclusive. Que haverá de ser a criatura mais popular da escolinha básica.

Gostei do artigo e do comentário do cartugo. A parte da "boa religiao" é que... Gostaria que me definisse Boa. O que é que é Bom e o que nao é? Atenção às afirmações falaciosas. Podem cair no ridiculo e estragar até um aceitável discurso.