terça-feira, janeiro 31, 2006




THE TRUTH

Here, in this little bay,
Full of tumultuous life and great repose,
Where, twice a day,
The purposeless, glad ocean comes and goes,
Under high cliffs, and far from the huge town,
I sit me down.
For want of me the world's course will not fail;
When all its work is done, the lie shall rot.
The truth is great, and shall prevail,
When none cares whether it prevails or not.
Coventry Patmore (1823-1896)








MAGNA EST VERITAS

A VERDADE


Aqui, nesta pequena baía,
Cheia de bulício de vida e grande serenidade,
Onde, duas vezes ao dia,
O alegre Oceano vai e vem, sem finalidade,
Sob altas falésias, e longe do burgo opulento,
Aqui me sento.
Não é por mim que o Mundo desfalecerá;
Quando a Obra estiver acabada, a Mentira irá apodrecer.
A Verdade é grande e prevalecerá,
Quando ninguém se preocupar que ela possa ou não prevalecer.
Coventry Patmore

Sobretítulo pedido emprestado à tradução para francês do mesmo poema, feita por Paul Claudel.

SONETO A JOSE ANTONIO V

SONETOS EN LAS HONRAS A JOSE ANTONIO


El rastro de la Patria, fugitivo
en el aire sin sales ni aventura,
fue arrebatado, en fuego, por la altura
de su ágil corazón libre y cautivo.

De la costra del polvo primitivo
alzó la vena de su sangre pura
trenzando con el verbo su atadura
de historia y esperanza, en pulso vivo.

Enamoró la luz de las espaldas,
armó las almas, sin albergue, frías,
volvió sed a las aguas olvidadas.

Dio raíz a la espiga y a la estrella,
y, por salvar la tierra con sus días,
murió rindiendo su hermosura en ella.


Dionisio Ridruejo

Um país de parolos

Se não fosse consistente com toda a sua prática histórica, seria surpreendente ver a forma ridícula (teria dito saloia mas o Sobre o tempo que passa não me perdoaria. Aliás, como também me considero saloio na significação que o termo étnico (socio-cultural) adquiriu na snóbica Lisboa, até prefiro o regionalismo da minha terra com indêntica conotação: sagorro)com os súcias da nossa praça celebram a vinda aos seus domínios do homem mais rico do Planeta. A fraternal associação, embevecida pelo altruísmo do homem, rejubila e resfolega como mula ajoujada, desejando-lhe saúde e mais proventos. O Grande Samaritano que tanto tem feito pelos mais desfavorecidos (sobretudo desfavorecê-los ainda mais) é como todos sabemos um fervoroso adepto do malthusianismo; concomitantemente, tem financiado campanhas de esterilização (que não de germes)por esse mundo fora bem como a promoção e efectivação do aborto. Adorador do Bezerro d'Ouro, Gates mal pode conceber que a felicidade na vida não advenha da sua posse. Em África, tem apoiado as chamadas campanhas humanitárias que, a serem conduzidas da forma que o são, demagógicas, para a fotografia, e pontuais, apenas contribuem para o empobrecimento geral das populações e para a sua dependência de produtos importados. A intervenção centrada nos cuidados de saúde primários conduz efectivamente à diminuição da taxa de natalidade e ao aumento da esperança de vida; como, no entanto, a população activa não aumenta porque não há incremento da actividade económica o ratio entre activos e não activos piora e com ele o empobrecimento. As medidas eficazes mas difíceis passam por correr com as oligarquias cleptocráticas que enriquessem à medida que os povos empobrecem. Só que isso significava cortar com os amigos e irmãos, de onde surgem quase sempre boas maquias para financiar campanhas de conquista ou, mais recentemente, manutenção do Poder. Projectos de extensão rural, infra-estruturas de irrigação, redes de frio e silagem, projectos comunitários de criação de gado ou produção e transformação de bens primários... Bah ! para que é que isso interessa ? E os gajos até não são capazes !
Que triste o nosso embasbacamento e subserviviência; transformados numa República das Cenouras, ele é dar condecorações a trouxe mouxe. O Comendador Gates agradece e se calhar até envia uns centuriões do Ministério da Fraternidade para ajudar no controlo. Triunfo do Porcos até à Revolta contra o Mundo Moderno...

segunda-feira, janeiro 30, 2006

E A NEVE AGASALHOU FÁTIMA....


Ave Maria

Ave Maria
Dos teus andores
Rogai por nós
Os pecadores

Abençoai estas terras morenas
Seus rios, seus campos.
E as noites serenas
Abençoai as cascatas.
E as borboletas que enfeitam as matas

Ave Maria
Cremos em vós
Virgem Maria
Rogai por nós

Ouvi as preces, murmúrios de luz
Que aos céus ascendem
E o vento conduz, conduz a vós
Virgem Maria
Rogai por nós

Vicente Paiva e Jayme Redondo

SONETO A JOSE ANTONIO IV

EPITAFIO A JOSE ANTONIO

Cisne fue. Cisne esbelto que agoniza
y mueve estrellas conmoviendo el aire,
derrumbando las alas de los pájaros
y en la ceniza derrumbando el fuego.

Vivió, clamó y murió verticalmente,
cambiando con el plomo la sonrisa.
Y conmovida en lágrimas, la noche
al alba lo encontró, muerto, a sus plantas.

Su sangre ya salpica las estrellas.
Su sangre enturbia el rumbo de los peces.
Donde su cuerpo, fulminado, yace,

su fuente es acueducto de la Patria
con la cal destilada de sus huesos
fundadores de rosas y laureles.

Adriano del Valle

Esperteza de um filho da Arca

O Sr. Samuel, dirigiu-se ao banco onde tem todos os
>seus depósitos e poupanças, pediu para falar com o Gerente, e
>disse-lhe:
>
>
>- Eu precisava de um crédito de 5 Euros a 30 dias.
>
>
>- Oh, Sr Samuel! ... um crédito de 5 Euros a 30 dias??? ...
>mas ficava-lhe muito menos dispendioso levantar os 5 Euros
>numa das suas contas à ordem - disse-lhe o Gerente, muito
>espantado
>
>
>- Bem, ... se não me concedem o crédito de 5 Euros a 30 dias,
>
>eu acabo com todas as minhas poupanças e depósitos
>neste banco, e vou para outro
>
>
>- Nem pensar nisso, Sr Samuel! ..o seu crédito está concedido
>desde já!
>
>
>O Sr. Samuel começou a preencher a papelada toda, para o
>crédito que pretendia de 5 Euros a 30 dias, e pergunta então
>ao Gerente:
>
>
>-Quanto vou pagar de juros?
>
>
>- Ora, 5 Euros a 30 dias, vai pagar 30 cêntimos de juros -
>responde-lhe o Gerente.
>
>
>- Bem, então eu queria deixar o meu BMW
> > >de garantia.
>
>
>- Oh Sr. Samuel, não é preciso! O Banco confia plenamente!
>
>
>- Bom, ... se não posso deixar o meu BMW como
>garantia de
>pagamento do crédito concedido, eu desisto do
>crédito e acabo com todas as minhas poupanças e
>depósitos neste banco, e vou para outro .
>
>
>- Nem pensar nisso, Sr Samuel! ... claro que nós
>aceitamos o
>seu BMW como garantia! Faça o favor de estacionar o
>seu BMW na nossa garagem, e ele ficará lá durante os
>30 dias do crédito!
>
>
>Chegado
>a casa, diz o Sr Samuel à mulher:
>
>
>- Pronto, já resolvi o problema para estacionar o
>carro durante os 30 dias em que vamos de férias, e
>só pago 30 cêntimos de parque!!!



PS- Num confrangedor processo de auto-censura, retirei do texto a extracção étnica do Sr. Samuel.

SONETO A JOSE ANTONIO III

Será eterna en nosotros tu memoria.
Y puesto en el dorado y alto asiento
defenderás mejor tu patrio suelo.

Fernando de Herrera





JOSE ANTONIO, mi voz acostumbrada
a renovar la duda en la alegría,
tierna y secreta en el umbral del día,
también ha sido fiel a tu llamada.

Para alcanzar la cumbre deseada
quebraba ya su albor mi poesía,
cuando tu aurora coronó la mía
y tuve a España por tu voz granada.

Privilegiando el cielo en la memoria
la forma de su claro mandamiento
tu abierto corazón cumple en la historia.

Y mientras gime mi postrer lamento,
torres de juventud cantan tu gloria
sobre la airada majestad del viento.

Luis Felipe Vivanco

SONETO A JOSE ANTONIO II

Si por murallas, pasión nunca sabida,
voces proclaman tu carne como escena,
¿qué tu boca sin sed, de tierra llena,
responde a nuestro amor y enorme vida ?

¿Escucharás siquiera la florida
rama de encina, por siglos tan serena,
o el vidrio que derrama en dura pena
peña sufriendo ríos sin medida ?

Muerte cegó tus ojos y usó el frío
hierro en tus pies, cadenas destinadas
a privarte del aire y del rocío.

José Antonio, señor, yacen desesperadas,
olvido del invierno y del estío,
las naves mozas por tu canto armadas.

Alvaro Cunqueiro

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Sonetário repassado para o saco do Rodrigo

A 21 dias do aniversário do Rodrigo, resolvi postar um soneto por dia, dedicado ao meu mestre escola político, um ícone que ele tanto adorava : José António Primo de Rivera.

Muita da recolha é do próprio Rodrigo.

SONETO A JOSE ANTONIO

Ese muro de cal, lívido espejo
en que araña su luz la madrugada,
de infame gloria y muerte blasonada
coagula y alucina alba y reflejo.

Para siempre jamás. La suerte echada.
El grito de la boca en flor rasgada
- en el cielo, un relámpago de espada –
y, opaco, en tierra, el tumbo. Después, nada.

Y ahora es el reino de las alas. Huele
a raíces y a flores. Y el decirme,
decirte con tu sangre lo que sellas.

Por ti, porque el aire el neblí vuelve,
España, España, España está en pie, firme,
arma al brazo y en lo alto las estrellas.



Gerardo Diego

A polémica da Guarda Cigana

To my dear philoArmacanus friend

Tenho andado a hesitar mas tenho que te dizer que efectivamente o Azinhal é quem tem razão.

Como tu próprio afirmaste (eu sei onde estavas e, que me recorde, não era por medo), não te encontravas no Camões.

O problema reside na credibilidade do teu informante. Esse menino é tão bom observador que um dia apareceu numa festa nossa acompanhado por um travesti, pensando que tinha feito um engate. Noutra oportunidade, escreveu-me para me pôr de sobreaviso em relação à piquena com que então namorava (e que é hoje minha mulher) pois tinha provas de que era uma infiltrada do PC. Ainda hoje nos rimos bastante os três com essa missiva que guardei religiosamente.

Quanto ao assunto propriamente dito, o facto de um homem se chamar Trancoso e ser de Chaves não faz dele um cigano e muito menos capitão de ciganos (de jagunços, talvez).

Ah ! é verdade. Em determinada altura das porradas liceais, esse teu informante havia anunciado a toda a direitagem do Pedro Nunes que não era preciso ter medo dos apaniguados do Grande Educador porque vinham aí as brigadas da Comissão Operacional do Partido do Progresso. Vim a descobrir dolorosamente que afinal as míticas brigadas de super-homens eram apenas... a minha humilde pessoa. E não fora uma providencial papelaria que por ali havia, tinha levado uma carga de pancada das antigas. Enfim...

Mas nada disso tem que ver com o carinho, a amizade e a camaradagem que a ele me ligam.

Marcha Triunfal Cavaquista III

No remanso do avoengo lar, o Avô Cantigas acariciava nervosamente a sua amada viola, confidente de tantes combates, companheira de tantas glórias. Estava ainda a remoer o desaguisado que tinha tido com o presidente da mesa da 3ª secção a quem havia solicitado a devolução do boletim de voto, pois tinha-se esquecido de acrescentar ao Viva o Rei que escrevera no papelito um Viva o Senhor D. Duarte .
Hesitara; pensara em pôr Viva o Senhor D. Miguel mas, realista e cosmopolita, achou que talvez não fosse perceptível e, zás!, não pôs mais nada. Mas o remorso fê-lo voltar atrás porque naquele curto hiato tinha-se decidido. E o estupor do presidente da Mesa a dizer-lhe que não, que não podia ser, só com autorização do Dr. Soares ou do Xô Nabeiro. Zé Cantigas, irritado e contristado, regressou a casa e pegou na banza. Aconchegando-se no sofá de orelhas próximo da lareira, procurou acalmar a mágoa, cantando baixinho:

Senhor capitão
Sou dos primeiros
Da Revolução
Militei na Banca
Estive na prisão
Agarrei um facho
Quero agora um tacho
Não diga que não
Senhor capitão

Senhor capitão
Está um belo dia
E a Revolução
É uma alegria
Passeei seu cão
Trago o seu almoço
Coma com cuidado
Olhe algum caroço
Senhor capitão

Trago o seu jantar
Coma devagar
Olhe a digestão
Não berre não grite
Peço que não se excite
Olhe o coração

Senhor capitão
Dizem que é quem manda
No que p’r aí anda
É preciso pôr-lhe a mão
Não vá isto descambar
E a gente perder o lugar
Na chefia da Nação
Senhor capitão

Senhor capitão
Trago a sua ceia
E uma lista
De homens p’ra cadeia
E da reacção
Muita, muita pista
Muita, muita teia
Mas que bela ideia
Senhor capitão

Senhor capitão
Olhe a reacção
Espreita nas janelas
Espia nas esquinas
Pára nas vielas
E vai às meninas !
É uma aflição
Senhor capitão

Senhor capitão
O país é um osso
Escave com cuidado
Roube bem fardado
Pois a reacção
Anda a abrir um poço
Venda as suas casas
Compre um par de asas
Salve o seu pescoço

Senhor capitão !




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E uma enternecedora lágrima de saudade desceu-lhe pela face e perdeu-se no infinito do seu enobrecido Ser.

Marcha Triunfal Cavaquista II

No conhecido areópago do desestruturalismo, a sala de teatro do Grupo Reich-Brecht (um antigo ring de box dos anos 30, ao Poço dos Negros), meia dúzia de espectadores preparam-se para assistir a mais uma representação teatral experimental interactiva.
O conhecido actor Zecamano, anuncia a função:

quero agracer a todos vocês a vossa presença, só possível pelo generoso subsídio do Ministério da Cultura, tam-a-ver, e convidá-los desde já a comungarem (eh!, eh!)com os profissionais que stamos a pisar este palco que é de todos nós e assim fazer um mingle como dizia o P ao cubo, o Piero Paolo Pasolinni. Queremos fazer uma cena baril e para isso contamos com vocês. Improvisem, libertem-se dos restos de espírito burguês e, sobretudo agora, que os fascistas ressuscitaram o gajo de Boliqueime, a Cultura vai ficar ameaçada. Fd..., bora Vamos começar.

No centro do palco quadrado, dois imigrantes africanos colocam uns painéis de madeira a dar ares de confessionário. No improvisado interior, um jovem Loução senta-se e entre salmúdicos cochichos, prepara-se para receber uma pecadora. Avental Dias ajoelha-se e, qual filha pródiga, diz:

Apalpai-me, Mestre que pequei!

Como penitência, Loução manda-a fazer sexo com a assistência para se libertar dos demónios.

O enurético Fernandinho Rosas mija-se e, com excepção do Chico Matumbo e da Ana Milmulheres, o resto da assistência retira-se apressadamente para intervalo.

Prudentemente, alguém espreita para a sala e como a Avental não está à vista, voltam todos para o lugar. Surge em palco novo personagem (aplausos). É o viril Herman. Baixa o profile e pede de beber ao Mestre. Este manda-o logo para Monchique, para desenfastiar. Mas proibe-o de ingerir garotos que lhe fazem mal ao fígado...


O enurético Rosas faz chichi, de novo, e já tresanda.

Michael Portas, afectado pelo atrasadismo familiar, só então chega e, sentando-se ao lado de Rosas, exclama em voz alta :

Porra pá! Vê lá se tomas banho !


E o enurético Rosas urina-se mais uma vez.

No palco, sozinho, acabrunhado, sem clientela, Loução propõe que cantem em conjunto a Internacional.

Cumprida a função, Zecamano regressa ao palco para anunciar:

Para a próxima há mais !

Entediada, a assistência retira-se...

No aftermath da Triunfal Marcha Cavaquista

Em, surdina, muito ao longe ouve-se um bater ritmado de botas cardadas, sincronizado com o Grândola Vila Morena.

No purgatório, Mário Cesarinny de Vasconcelos grita desalmadamente pelo Serviço de Quartos: Tragam-me lápis e papel ! Tragam-me lápis e papel !

Satisfeito o gracioso pedido, desata a escrevinhar, surrealisticamente:

Pim ! Pam ! Pum !
E agora já só fala um !

Blog, Leitão da Meta
O Alegre é um pateta !

Blog, oblog, Oblast
E, afinal, o Soares é um traste !



Enquanto isso, noutra dimensão, no cinzento twilight do nosso crepuscular inverno, Medeiros Ferreira, com uma grossura de fazer vir lágrimas aos olhos do Velho Cenoura, rolando os olhos focados para o infinito, com todo o peso do simbolismo ilhéu do seu querido San Miguel, afaga as mágoas, cantarolando a modinha Ponha aqui o sê pezinho:

Não há Vila como ela
tan corisca e tan cadela
cuma Vila d' Alcaïns
deu à lüz nüma grande grüta
o maïor filhe de püta
q'já teve este païs


No antro neo-realista que é o Cabaret de Dámeumcoxe, Jerónimo de Sousa, revoluciona na pista ao som de um Pasodoble vermelho, alapado ao generoso corpo da camarada Odete.
A um canto, um jovem velho (porra !, como é que se chama ? é qualquer coisa como chefe da bancada para lamentar, não sei...)faz exercícios de multiplicação num moderno ábaco, produto da mais moderna indústria nortecoreana, que o camarada Kim Il Sung lhe mandara uns natais atrás.
De supetão, rangem os gonzos da porta que o Jaquim da Bia tinha instalado nos tempos heróicos da Cintura Industrial, recuperada de um casarão de um Legionário que fugira para o Brasil. Um embuçado, coberto de um escarlate manto diáfono que deixa entrever um alvo roupão que já tivera melhores dias, penetra e senta-se atento e vigilante ao que o rodeia.
Será PIDE ?, será agente ?, agente não é certamente que um agente não se veste assim, interrogam-se os presentes.
O barista, o T'Zé Chouriço repara subitamente na imagem que surgia no écran da velha televisão a preto e branco. Na Praça Vermelha, junto ao Kremlin, uma multidão agita-se e ondulam bandeiras. Zé Chouriço, emocionado e saudoso grita : Chiu ! camaradas.
Na pantalha, surge um jovem que sobe para cima de um tanque e canta num megafone, aplaudido pela multidão. Extasiados, os clientes param, alguém desliga o gramofone, e prestam atenção. Aqui e ali, alguns rostos deixam verter uma lágrima de nostalgia.
E eis que surge, em primeiro plano da imagem, o repórter correspondente Ievgueni Serpavitch que procura traduzir para português a tão aplaudida canção:

Um kumunistaa vuava, vuava, duma janhiela du dezimu andar
Cume él, cume él, ainda ya muiitos par'þ atirar


Como se todos tivessem levado um murro colectivo no estômago rebentam, em uníssono a berrar:

Morte ao faxismu ! Morte ao faxismu ! Morte ao faxismu !


Inácio Lãbranca, desempregado desde que nascera e que, entornado , dormitava a um canto, acorda e grita :

Foi golo ? Foi golo ?

Com toda a assistência em estado de choque, à beira de um ataque de nervos, de novo se houvem os gonzos ranger. E o espectral embuçado clama:

'Até amanhã camaradas !

terça-feira, janeiro 24, 2006

Meu caro Immanuel Cornelius

Não precisavas de confirmar. Como te disse, fiquei muito contente e podes estar descansado que não porei a boca na corneta. Como é óbvio, não és nenhum gálico estrangeirado e só não te peço desculpa porque fez tudo parte de um jogo de denúncia. Até em termos de hermenêutica, tinha reduzido os possíveis candidatos a três. Confesso que acertei à primeira. O Misantropo não me largava, sempre com a sua curiosidade feminina, e como a minha ainda é porventura maior, resolvi de uma vez por todas tirar a prova dos nove. Um grande abraço amigo. Vamos deixá-los continuar a roer-se...
Qualquer dia, quando estiver mais repousado, abordarei contigo a obra de um tipo de que gosto muito e que é geograficamente próximo do local de nascimento da tua emanação fotográfica -Levinas, o outro Emmanuel.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Contribuição para o arquivo do Azinhal



O Manel tem falado dos antigos 10 de Junho. Os veteranos continuam a reunir-se...

Fotos de antigos 10 de Junho

Camarada Azinhal

Devido a um longo afastamento da blogosfera, por razões profissionais, alertou-me o Enjaulado para umas photos de uns longínquos 10 de Junho. Gostei de rever a força e capacidade de mobilização do único e verdadeiro movimento nacionalista que desde os anos setenta existiu em Portugal. Confesso que na última foto apenas reconheço o Goularzinho e o Rodrigo (que Deus tenha...).
Se porventura a tua douta argúcia detectou mais alguém, gostaria que o indicasses.
Saudações

Os ursos da guerra maçónica

Habituados durante muito tempo à actuação eficaz mas discreta da Maçonaria, íamos dando como adquirido o controlo quase monopolista pela mesma das administrações da Empresas Públicas e dos órgãos de comunicação social. Nos últimos tempos, quiçá picados pelas demonstrações de força da Igreja (ultrapassando até as expectativas da passiva e contemporizante hierarquia, cada vez mais desajustada face aos anseios dos fiéis, influenciados, convertidos e reintegrados por João Paulo II)a Maçonaria entrou em desvario e forçou o Governo a enveredar por uma rançosa e trauliteira campanha crucifixofóbica. Para re-afirmação dos seus pergaminhos maçónicos, vieram chafurdar num problema há muito resolvido pela separação da Igreja e do Estado, aceite por todos.
A paranóia atingiu tal amplitude que a Administração do Metropolitano de Lisboa chegou ao ridículo de, durante o período natalício, montar na estação da Alameda, uma cena em que a Sagrada Família se encontrava substituída por ursos polares.
Ninguém os obriga a comemorar o Natal que é uma festa religiosa, convencionada para recordar e rejubilar com o nascimento de Jesus, o Cristo. É óbvio que se espera que sejam suficientemente coerentes e se recusem a receber os chorudos subsídios de Natal, pagos por todos nós.

O Centrão ecológico

Neste querido país cada vez mais acéfalo e insípido, o povão votou no Centrão. O grupo dos chinocas levou um abanão mas ainda lá restou a Leonor agarradinha ao novo leader para salvar os interesses do Polvo.
O Eanito ficou por casa a esfregar as mãos de contente e mandou logo a Manela tirar os velhos fatos para ver se ainda lhe servem, para aparecer a devido tempo na fotografia de família. Rocha Vieira, impaciente por se vingar das canalhas humilhações do Cenoura, não resistiu e por lá andou feliz e contente, no CCB. Qualquer deles não é grande preocupação, sobretudo o Vasco Rocha Vieira de quem o país ainda é credor. Mas confesso que me irritou ver tantos transfugas das anteriores comissões de apoio a Soares e a Sampaio. Eram resmas, a fazer-se à fotografia como lesmas a agarrarem-se ao talo.
Sinceramente, gostava muito que Cavaco tivesse aprendido com os erros do passado, nomeadamente sobre o tipo de pessoas de que se rodeia... Cá ficamos a aguardar...
Com esta eleição tecnocrática (o que será isso?), o cinzentismo e a abstrusão ideológica vão seguramente campear e o caciqueiro condicionamento da nossa liberdade não será interrompido. Quer os que se reveem num contrato político sobrejacente à comunidade histórica de mais de oito séculos quer os que apenas o invocam nas circunstâncias do Presente, nomeadamente através dos seus impostos, não podem esperar qualquer alteração posicional do mainstream da cultura política dominante. A promoção do aborto continuará, o roubo da inocência infantil com o estímulo da actividade sexual precoce e invertida evoluirá sem rebuço, a defesa dos direitos do infractor em detrimento da vítima ou a perseguição à liberdade de pensamento, em nome do comportamento politicamente correcto, não sofrerão inflexão.O prestígio das FA levará apenas um tratamento cosmético mas os dossiers essenciais (o que é óbvio, pois são da estrita competência do Governo mafio-socialista)continuarão a arrastar-se ao sabor dos interesses corporativos e/ou inconfessáveis.

Haja Saúde e Fraternidade