sexta-feira, dezembro 02, 2005

Caminhando sobre estilhaços

Tantos tombaram ao longo do caminho!
Tantos caíram inertes, ingloriamente,
Sem nada a recordá-los!

Pelo mesmo caminho vou agora,
Olhos postos na vida e no triunfo.
E quando penso naqueles que tombaram
E para sempre ficaram esquecidos,
Eu sinto uma ânsia enorme de vencer ...

Sei!: o caminho é longo e difícil.
E dizem que os ladrões, altas horas da noite,
Espreitam nos pinhais.
Mas também sei
Que trago nos meus olhos as distâncias
Que me deram as noites em luar.
Mas também sei que poderei chegar ao fim
E alcançar a vitória ambicionada.

E então,
Verei que não foi nulo o meu esforço,
Ante a certeza do triunfo
E a apoteose dos deuses a esperar-me!

Júlio Evangelista

O advento do Salvador


A Visitação, Jakob ou Hans Strüb, c. 1505

Strüb representa Maria no seu encontro com sua prima Santa Isabel, deixando literalmente transparecer, em imagem, as vidas de que ambas eram veículo de criação.
Reconhecimento, no dealbar do séc. XVI, de uma realidade ainda hoje contestada em nome de interesses, ideológicos e materiais, incofessáveis. A abstrusa negação do natural em nome de uma obtusa e abstracta igualdade entre sexos, ou como eles dizem, entre géneros. Porque raio não fomos criados (ou evoluimos) hermafroditas ?

quarta-feira, novembro 30, 2005

Justicia cubana



No paraíso cubano, tão em voga, o Comandante Raul Castro, irmão do tiranosauro, e Che Guevara executam um prisioneiro.

terça-feira, novembro 29, 2005

A Tide que lava mais branco

Durante décadas a macacada que nos controla tem vindo persistentemente a branquear factos e procedimentos de natureza política que condicionaram e condicionam a nossa história e a nossa vivência diária. Fazem-nos crer que somos sidadãos livres e soberanos mas obrigam-nos a comer um caldo de lentilhas feita com os seus dejectos diarreicos com que há muito garantem uma generalizada lavagem ao cérebro. Vem isto a propósito do 25 de Novembro e das suas pífias comemorações, do género todos iguais todos diferentes. Ficamos a saber pelo napoleónico Eanes que não fora ele e sus muchachos e tudo teria continuado na mesma. (parece-me, aliás, que a sua contribuição de bastidores foi para que tudo continuasse na mesma, livrando-se apenas de uma extrema esquerda de difícil controlo bem assim como, num soberbo passe de mágica, dos spinolistas e da direita que remeteram para um ghetto de onde nunca mais saíram). A generalizada indignação popular que levou a movimentações contra a ditadura social-comunista parece que, afinal, foi uma miragem e é colocada na prateleira da agitação marginal. A Rosa e as Setas da II Internacional social-democrata que viriam a dar origem à União Central, não estavam murchas nem acabrunhadas, escondidas nas saias da mamãcia mas, segundo rezam os manuais, viçosas e na frente do combate pela Santa Liberdade. Comandos ? gente rufia e brigona, sem valor acrescentado. Padre Melo ? um sotaina perigoso de má-catadura, dado a iniciativas individualistas e marginais. MDLP ? um bando de criminosos de delito comum (que outros haverá?) que procuravam desestabilizar o regime democrático propugnado pelo MFA; segundo reza a estória, a eles e às suas provocações se deve, aliás, a agitação exacerbada da extrema esquerda. Pff...
Qualquer dia sairá uma biografia do Mário Soares com uma G3 nas mãos, como aquela do camarada Agostinho Neto que pôs os angolanos todos a rir.
Enfim, marés de branqueamento da nossa história recente para proteger conluios, interesses e compromissos que nada têm a ver com a Verdade histórica. Mas são eles que têm o poder para a escrever e ponto, ókapa e prontos, pá !
Avui, ouvi que afinal em Timor os culpados foram os americanos. O envio propositado pelo MFA de um grupo de estudantes maoístas para fundarem a Fretilin ( Abílio Araújo, do you remenber him ?) assessorados pelos inefáveis majores Mota e Jónatas foi apenas um passo grande para a liberdade do povinho timor. Claro que a atitude tíbia e racista do hoje general comentador Lemos Pilatos Pires foi apenas um equívoco ou um erro de casting, como soe dizer-se. Não, os americanos é que foram os culpados da invasão indonésia.
Ouvi, para gáudio meu, o premiozinho Nobel da Paz, o rapaz Avental Horta, afirmar que a descolonização portuguesa foi, quiçá, precipitada ! Vale mais tarde do que nunca ! Pena é que seja no seio daqueles que mais de perto viveram as consequências dessa vergonha que continuem a surgir vãsglórias pela participação de alguns dos seus membros na dita. Refiro-me a alguns padrecos de pacotilha, desavergonhados desabridos que são capazes de vender pai e mãe para que as luzes da ribalta lhe lambam gratamente o perfil. Uns safardanas...

segunda-feira, novembro 14, 2005

Enquanto houver Portugueses....

Salvé, Nobre Padroeira

Ó glória da nossa terra
Que tens salvado mil vezes,
Enquanto houver portugueses
Tu serás o seu Amor

Ave maria
Ave Maria, tão pura
Virgem nunca maculada
Ouvide a prece tirada
No meu peito de margura.

Vós que sois cheia de graça
Escutai minha oração,
Conduzi-me pela mão
Por esta vida que passa.

Oh! Senhor, que é vosso filho
Que seja sempre connosco,
Assim como é convosco
Eternamente seu brilho

Bendita sois vós, Maria,
Entre as mulheres da Terra,
E voss'alma só encerra
Doce imagem d'alegria.

Mais radiante do que a luz
E bendito, oh Santa Mãe!
É o fruto que provém
Do vosso ventre, Jesus!

Ditosa Santa Maria,
Vós que sois a Mãe de Deus
E que morais lá nos céus
Orai por nós cada dia.

Rogai por nós, pecadores,
Ao vosso filho, Jesus,
Que por nós morreu na cruz
E que sofreu tantas dores.

Rogai, agora, oh Mãe querida!
E (quando quiser a sorte)
Na hora da nossa morte
Quando nos fugir a vida.


Fernando Pessoa

sexta-feira, novembro 11, 2005

Jornal do Crimideia: Pe. Nuno S. Pereira em Tribunal

Começa a sistematiza-se a perseguição à livre expressão. Desta vez é o Pe. Nuno Serras Pereira que vai responder em Tribunal por num artigo publicado num Jornal regional. Nesse artigo, o Pe. Nuno põe a nu as relações pouco claras da vanguarda caceteira da APF (Associação de Promoção das Fodas, perdoem-me o vernáculo)com os lobbies das farmaceuticas produtoras de materiais abortivos. Realce-se que a APF é generosamente subsidiada pelos nossos impostos para explicar aos nossos filhos, explicitamente, que há várias alternativas na orientação sexual para além das naturais (ditas heterosexuais ou, na prática, homofóbicas) que reputam de antiquadas e castradoras. Que pena não ter sido no meu tempo de liceu; se calhar ainda me tinha calhado uma ou outra aula prática com uma inesquecível professora de História. Claro, porque as sapatonas frustradas da APF nem com almofada...

Começa de facto a ser extremamente inquietante a conivência do Sistema com organizações que mais não são que pontas de lança de interesses pouco claros em que a ideologia niilista se associa com os mais desbragados interesses capitalistas. Ou então, organizações fantoches como o SOS Racismo cujo comportamento e postura até dá vontade aos mais entranhada e convictamente não racistas virarem racistas.

E a Comunicação Social, com a sua cúmplice cortina de silêncio, lá os vai ajudado a moldar a opinião pública através da hegemónica e tirânica opinião que se publica...

Pela Santa Liberdade, lutar, lutar até vencer....

sexta-feira, novembro 04, 2005

A RR e a padralhada que a controla

Não é segredo para nenhum observador isento que o principal órgão de comunicação da Igreja Católica em Portugal, a Rádio Renascença, sempre se comportou um pouco como um órgão oficioso socialista; pelo menos, a subserviência é manifesta. Se o equívoco que dá pelo nome de Guterres permitia justificar superficialmente tal posicionamento, no passado, já a evolução subsequente é escabrosa. Vem isto a propósito de numa das raras vezes em que a sintonizei (normalmente oiço a Class FM do Montijo)ter sido surpreendido com uma lição da abortista Miss Piggy Star, a ensinar-nos como falar correctamente a nossa língua.
Confesso que já há muito me habituei às absonâncias da Igreja Portuguesa, face ao rumo que seria de esperar. Bispos complexados pela sua humilde extracção social?, carreiras assentes em seminarismo à força sem vocação? Ignorância? Aggiornamentos saloios ? Alinhamento com a opinião que se publica ? A verdade é que o que o crente pretende é um pastor, orientador espiritual, e não um tecnocrata da religião com homilias redondas e abstractas que mais não merecem que um bocejo.
Aliás, a constatação do disfarce da condição de sacerdote adoptado pela maioria da padralhada é aquilo que, na gíria da aplicação das Normas técnicas dos sistemas de Qualidade, se designaria por uma não conformidade. Como falar em Nova Evangelização se quem deveria dar o exemplo em manifestar em todas as circunstâncias a sua condição de católico o não faz ? Fica-se por vezes com a sensação que alguns gastam mais tempo no cabeleireiro ou nas Tie Rack do que a pastorear os respectivos rebanhos; a excepção vai para os sacerdotes mais novos e geralmente ditos de vocação tardia (que eufemismo !)

quinta-feira, novembro 03, 2005

Sobre o tempo que passa

Como os meus estimados amigos já devem ter percebido a minha fluidez e conhecimento bloguístco é inconstante e desequilibrada. Por isso, sempre que alguém me chama a atenção para um blog especial lá vou eu a correr, como quem vai a um restaurante novo. Vem isto a propósito da sugestão do Paulo Porto para visitar o blog em epígrafe que descubri ser do meu conhecido de longa data (desde o Círculo de Estudos Ultramarimos)Zé Adelino, ou melhor, o Senhor Prof. Doutor Maltez. Fiquei encantado com as iguarias; partilho com ele o radicalismo da Liberdade...embora não, numa primeira impressão, os eufemismos do liberalismo.
A Censura... Pois é quando se tem na Constituição limitações claras à liberdade de expressão e de pensamento, quando a polarização política, a mentira descarada e as cortinas de fumo fazem parte do dia a dia da Comunicação Social (deles)pouco mais há a acrescentar. Quando, num regime que se afirma de liberdade, partidários declarados e contumazes dos atentados a essa mesma liberdade como o são os comunistas da III (PC) e IV (Bloco de Esq.)Internacional são geralmente divulgados (na Comunicação Social e no Ensino) como os seus grandes defensores nada pode espantar.
Espantado estou eu pela brandura da repressão censória...
No regime anterior quando alguém era demitido da Função Pública ou de uma empresa do Estado, apenas pelas ideias que professava logo encontrava um capitalista cosmopolita ou a solidariedade maçónica (envolvendo o próprio regime)e internacionalista que lhe dava a mão e protecção. Hoje esse tipo de perseguição existe como nunca, escondida numa cínica cortina de fumo de liberdade fingida; gestos solidários não se vislumbram, por medo das consequências nos negócios, na clientela e até face à pressão social do politicamente correcto.

O Centralão de hoje que abarca PS e PSD é constituído pelos mesmos que suportaram o salazarismo e o marcelismo. A nomenklatura que os dirige e ilumina não varia muito em espírito, atitude e interesses. A geração é outra (hoje são os filhos) mas o carneirismo é o mesmo.

quarta-feira, novembro 02, 2005

O Quarto Estado....de espírito


Nesta gravura futurista italiana, na volta do séc. XIX par o XX, concentro toda a minha frustração pelo actual momento nacional e anseio pelo dia em que os descamisados defenestrem os fanqueiros dos Palácios ocupados e em vez deles homens verdadeiros sejam monges, poetas e soldados...

SÓ ARES: pela paz contra a guerra

O Novo Banco de Dados do MNE

CANÇÕES DA PIQUENA PÁTRIA,
AFONSO LOPES VIEIRA

(EXTRACTO DO POEMA MOUZINHO)


Contemplando a memória do Bernardo Guedes da Silva
...
Foram eles, os novos Amadises,
gentilíssimos ânimos
de modernos lusíadas
(alguns já nos morreram,
outros, o que é mais triste, envelheceram,
mas há um sempre moço e sempre bravo!)
foram esses rapazes
que, numa Europa chata de caixeiros
e lojistas de Estado,
resgataram a nossa decadência
em tempo tão mesquinho,
e fizeram com que esse
César do férreo norte
que amava as artes bélicas
a seus braços chamasse
o capitão Mousinho!

segunda-feira, outubro 31, 2005

O Canto do J. César das Neves

O Paulo Porto chamou-me a atenção para um artigo do João César das Neves no DN. Confesso que por razões de sanidade mental e poupança de recursos há muito que não compro jornais. Mas agrada-me sempre ler o João Luís. Será sempre uma voz de liberdade e de diferença mas cheira-me que o não deixarão cantar por muito mais tempo no DN. O melífluo sacrista que o dirige em nome da mafia socialista não demorou tempo nenhum em sanear os comentadores tidos como mais à direita. Mas claro, sem perder aquela postura de tolerante e atinado profissional como mandam as regras de bem censurar e reprimir.

O tema que o João Luís aborda é o tema crucial da nossa época; é, por excelência, o da encruzilhada civilizacional. À tradicional sociedade assente na importância do Ser, sucedeu a burguesa afirmação do Ter; hoje, em que os mundos virtuais se confundem cada vez mais com a realidade, o Parecer é o vector vital da imagética social.

No sistema político, as formações partidárias agrupadas por matrizes ideológicas de há muito que cederam lugar às plataformas formadas pelo menor denominador comum dos interesses individuais ou de grupos limitados. Os partidos, nomeadamente os que configuram o balancé do Poder, são muitas vezes doutrinariamente intermutáveis, partilhando basicamente as mesmas ideias e orientações, apenas se distinguindo pelas cores clubistas, por um diferente património de memória histórica e, sobretudo, por distintas agregações de grupos de interesse. Tendo por referência a característica imobilidade burguesa dos Blocos Centrais, tendem a estratificar uma Liga de Poder estanque em que pontificam o clientelismo e o caciquismo, bloqueando qualquer iniciativa ou movimento que possa pôr em causa as regras do jogo, em particular, e o status quo, em geral. Acresce ainda que muitas outras forças vivas do Estado, nomeadamente as que têm por incumbência exercer funções de árbitro, tendem muitas vezes a constituírem-se em instrumentos políticos quando não partidários. À margem da essência do Direito e da Justiça que deve ser imparcial, simbolicamente cega e igual para todos, manipulam muitas vezes as omissões e o seu poder arbitrário ofendendo a Ética, a Decência e a Harmonia que devem presidir às regras do jogo social. Vê-se, por todo o lado, a pusilanimidade ser premiada, a honradez e a abnegação ridicularizadas, a corrupção mimada e desvalorizada. As elites servem-se em vez de servirem, o compadrio sobrepõe-se ao mérito e a mediocridade alinhada grassa. O herói é considerado tolo, o crente mentecapto, o honesto indesejável.

Embora na acção e participação político-partidárias as questões de natureza ideológica se tenham esbatido, perdendo terreno para a acéfala agregação clubista ou para a oportunística gestão dos interesses particulares, na esfera cultural que condiciona as matrizes do pensamento político, o seu lugar é cada vez mais importante, mesmo que seja percebido como menos aparente. É óbvio que a tradicional e linear dicotomia esquerda - direita começa a dar lugar a um referencial menos reducionista, em que os eixos permitem definir melhor os posicionamentos políticos e filosóficos face a critérios como individualismo-colectivismo, internacionalismo-nacionalismo ou materialismo-espiritualismo.

Aquilo que sentimos hoje é que a afirmação do tipo anti-herói grassa, pervertendo a ética e a estética nacionais, fomentando a dúvida e o desrespeito. Camuflada muitas vezes na exaltação falaciosa do fraco e do objector sistemático, é acintosamente apoiada, amiúde, por campanhas subsidiadas com o dinheiro dos nossos impostos. Tudo isso concorre para provocar uma depressão moral que facilita o desalento, a inércia e o derrotismo. O Bem e os Bons relativizaram-se ideologicamente e o fomento da emulação pelo exemplo dos melhores perdeu-se. O individualismo tem vindo a crescer, a solidariedade humana e a abnegação altruísta a desaparecer e as referências axiais pátrias nem já nos museus se cultivam. O Indivíduo, considerado fora das suas relações com os outros, vê-se despojado da pertença a uma realidade congregante e transformado numa abstracção quantitativa. Os povos submetidos às ditaduras socialistas bem sentiram na carne as consequências terríveis dessa utopia desastrosa a que nem as elites da nomenklatura conseguiam escapar.

Se, na galeria mitológica que ainda nos condiciona mentalmente, Liberdade e Igualdade aparecem hoje irremediavelmente desgastadas, já a Fraternidade internacional subsiste. Reforçada pelas energias recambiadas dos outros dois bastiões filosóficos, cada vez menos apelativos, continua a produzir estragos nas forças centrípetas da coesão nacional. É talvez em nome dela que em Portugal os Poderes dominantes promovem a extinção ou pelo menos atenuação da invocação e comemoração pública dos aniversários das glórias pátrias. Qualquer dia deixaremos de comemorar Aljubarrota para não ofender os espanhóis, ou relembrar os Heróis de Mucaba e Nambuangongo para não irritar os angolanos, ou mesmo evocar Chaimite, Marracuene ou Coolela para não indispor os moçambicanos. O Exército, aliás, já retirou o seu apoio às comemorações de Aljubarrota ajudando assim a dar um passo importante nesse sentido. Resta-nos, obviamente, comemorar as derrotas que essas, aparentemente não ofendem ninguém. Talvez por isso tenha recentemente surgido a insigne ideia de transferir as comemorações do dia do Combatente do significativo e ideologicamente neutro 10 de Junho para 9 de Abril. Como é sabido, esta data evoca apenas a maior derrota que as Forças Armadas Portuguesas sofreram no séc. XX - a batalha de La Lys, consequência da irresponsável política intervencionista dos socialistas de então. Enfim, haja Saúde e Fraternidade e, é claro, subsídios.

Há quem pense que tudo isso são sinais dos tempos, consequências de um progresso que cada vez mais nos faz cidadãos do Mundo, anónimos, obedientes, apáticos e consumidores compulsivos. Outros há que crêem que essas políticas, quase niilistas, são provocadas intencionalmente por aqueles que se escondem nos bastidores de um Poder Oculto, sombrio e sem rosto, que tudo pretende dominar para nos tornar, universalmente, em acéfalos e dóceis governados. Do que eles se esquecem é que, tal como num corpo sujeito a uma infecção se produz espontaneamente uma reacção de resposta, também o tecido social, em desespero, tenderá a reagir ao crescente mal-estar.

O Marketing de uma Nação

Quando a pressão do mundialismo aumenta, a soberania política das Nações é inelutavelmente ameaçada. Cada vez mais limitada e condicionada, apenas a indelével soberania que podemos designar por identitária permite resistir e manter acesa a candeia da independência nacional. Durante séculos países como a Irlanda, a Noruega, a Polónia e povos como o Israelita ou o Checo viveram sob o jugo de outros Estados, guardando, no entanto, bem viva a sua consciência identitária. Estimulados por esses exemplos, importa pois salvaguardar aquilo que nos agrega enquanto Nação. Essa tomada de consciência e a consequente capacidade para a afirmar são hoje peças fundamentais de qualquer estratégia de marketing de uma Nação. A apresentação e divulgação internacional de um País, muitas vezes descuradas ou ignoradas por sistema, são condições sempre subjacentes a qualquer política de projecção de força, de conquista de mercados ou tão simplesmente de afirmação de prestígio e credibilidade. Num mundo cada vez mais concorrencial, o estabelecimento de imagens de marca nacionais é um must de qualquer estratégia de desenvolvimento e afirmação. Ignorar esse facto, confiar na sorte ou na boa vontade dos parceiros é ser arrastado para uma desastrada e naïf política de funestas consequências. No nosso caso, se postos perante a alternativa de comprar um produto técnico grego ou alemão, já nos interrogámos sobre qual não seria o peso do preconceito nacional no processo de tomada de decisão? Estando tão seguros da qualidade de alguns dos nossos produtos, já nos questionámos sobre o que decidirá um vulgar Checo se tiver de escolher entre um vinho produzido em Portugal e outro oriundo de Espanha? E porquê? Efectivamente, como todos reconhecemos, a imagem de um País reflecte-se sempre de forma inequívoca na dura realidade do panorama internacional. Saber vendê-la é, pois, uma tarefa da máxima prioridade, sobretudo quando se perspectiva um afunilamento na hierarquização nos processos de reconhecimento e decisão.
Desde as Grandes Guerras que se tem vindo a perfilar a tendência para a constituição de um Governo Mundial. Mas é sobretudo nos anos cinquenta que se começa a sentir uma intolerável propensão para o controlo centralizado da vida política mundial. Alimentada por dois vectores aparentemente contraditórios, o internacionalismo capitalista multinacional e o internacionalismo socialista, essa corrente apresenta como argumentos fundamentais a necessidade da Paz e Progresso mundiais. Em nome desses ideais, sociedades mais ou menos secretas que já antes haviam representado um papel fundamental na desagregação e independência dos offsprings coloniais ibéricos das Américas, surgem, de novo, como forças de clivagem e poder. Vestindo sedutoras filantrópicas roupagens, são, no entanto, objectivamente, compagnons de route dos grandes interesses internacionais quer políticos quer financeiros com que amiúde se confundem.

BERNARDO GUEDES DA SILVA : PRESENTE !!!

Recebi várias mensagens a dizerem-me que havia morrido o pai do Pedro. Que pena ! Que pena a morte, obviamente, de um crente que irá encontrar junto de Deus o acolhimento misericordioso reservado aos que fazem questão de pertencer ao Seu Povo; mas, sem pôr em causa os méritos inquestionáveis do Pedro, que pena também por o Bernardo ser conhecido como o pai de...
Posso falar com tanto mais à vontade dele porque fui daqueles que não quis fazer parte da organização política que ajudou a fundar. Contudo, sempre o respeitei e pude testemunhar o apoio financeiro que deu, sem exigência de contrapartidas, a muita e muita gente que não vislumbrei nas cerimónias fúnebres. Consciência pesada ? Enterro do Juiz ? De facto, quanto mais conheço os homens mais respeito os animais....
A generosidade e o entusiasmo do Bernardo Guedes da Silva foram sempre proverbiais e deram azo a que muita gente delas se aproveitasse à má-fé. Ah ! essa Direita trituradora e mesquinha que não faz nem deixa fazer e que nem na hora da morte sabe honrar os seus maiores !

Saibamos honrar a memória do Bernardo. Os crentes, pelo menos, que lhe reservem uma presença especial nas suas orações. Eu fá-lo-ei !

segunda-feira, outubro 24, 2005

Nostalgia de Outono

de Luys de Santa Marina


Del 33 a 47
van catorce años, si cuento bien,
mucho ha llovido desde entonces,
mucho ha caído, mucho está en pie,
mucho ha caído como las hojas
que servieron cuando fue su vez...
Quizá justo sea,
pero sólo sé
que de cada cuatro
cayeron tres

Eran locos, violentos,
algo perdularios, y qué?,
ni temían ni debían
y todo lo afrontaban en pie,
mas cuando los irreprochables
- carrerita y mucho quinqué -
chaqueteaban y se escondían,
ellos se fueron com él,
y la fuerza de ir a la fuente
de cada cuatro cayeron tres.

Y los prudentes y los sensatos
cual siempre tiesos quedaran en pié,
es lo de siempre, claro está,
pero esta vez
fue porque de cada cuatro
cayeron tres.

Los veo a veces, serios y amargos,
otras riendo, con o sin mujer,
pero en sus ojos - ojos de antaño -
veo no tienen nada que aprender
de esos caimanes que venir las veen,
porque palacios, templos y fábricas
- ellos lo saben, y bien -
se alzaron, sobre los huesos
de esos tres, y otros tres, y otros tres.


AÑOS DESPUÉS

Los que hicieron a diario cosas propias de arcángeles,
los niños hechos hombres de un estirón de pólvora,
los que con recias botas la vieja pel de toro
trillaron, en los ojos quimeras y romances,
adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

Pocos años bastaron para enfriar sus almas,
aquel sueño glorioso creen que no vivieron,
no yerguen las cabezas ni les brillan los ojos
al mirar como pasan sus marchitas banderas.
Adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

Al florecer la plata de las primeras canas,
piensan ya que pidieron demasiado a la vida,
que va siempre más baja la bala que el deseo.
Escepticismo en suma, final de juventudes...
Adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

Pero no naufragaron ante grandes tragedias,
cayeron entre tedios, roídos por la hormiga
de lo vulgar; penurias, mujer ajada y agria,
el mes que no se acaba, la ilusión de outra hembra...
Adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

Ya no sé si la paz es mejor que la guerra
- quizá sea lo mismo en el pausado péndulo
de la vida y la historia – pero aquella alegría,
aquellos ojos llenos de quimeras y romances,
adónde están ahora? – decidme – qué se hicieron?

quarta-feira, outubro 12, 2005

Rui Falcão de Campos

Violência
À memória de Onésimo
Redondo, vítima da F.A.I.

A violência é o que resta,
Quando nos roubaram de tudo.

Quando a voz falece
No fundo da garganta seca;
E quando na confidência da sombra
Se movem sombras inconfidentes;
E quando o cansaço se muda em raiva,
A tristeza se muda em amargura,
A ânsia em fúria,
Fúria em Força
Força Insurrecta...

E quando a justiça soluça
E Mariana calca aos pés as liberdades;
Quando, enfim, a gente se sente mais livre,
Quando se encarna o sobressalto,
Ao desprender-se da própria vida.
Os bosques se enchem de faunos,
E os vampiros rondam de madrugada,
E a suspeita viola a cidade...
Quando nos roubam de tudo,
A honra e a dignidade
Tomam a humana condição
Numa palavra só:
“Violência”.
Lisboa, 1980
Na recente Audição prévia para a confirmação do Juiz John Roberts para o Supremo Tribunal dos States, destacou-se pela sua agressividade a campeã feminista a Senadora Dianne FEINSTEIN, da Califórnia. E, com todas as letras, veio ao de cima todo o peso da concepção ideológica dos abortistas: A impossibilidade de praticar o aborto livre tolhe o direito à Igualdade da mulher ! Porra, porque é que a natureza não nos fez a todos iguais ? Hermafroditas, iguaizinhos, uniformes, clones uns dos outros ? Quantos milhões de mortos não provocou já esta obsessão da Igualdade anti-natural ? Abortistas: confessem como a judia Feinstein as vossas verdadeiras razões para defenderam o aborto e deixem-se de hipocrisias !
Permito-me transcrever alguns mimos do diálogo :

FEINSTEIN :In response to the chairman's question this morning about the right to privacy, you answered that you believed that there is an implied right to privacy in the Constitution.
Do you then believe that this implied right of privacy applies to the beginning of life and the end of life?

ROBERTS: Well, Senator, first of all, I don't necessarily regard it as an implied right. It is the part of the liberty that is protected under the due process clause. That liberty is enumerated...

FEINSTEIN: And in Casey, again, the court stated, and I quote, "The ability of women to participate equally in the economic and social life of the nation has been facilitated by their ability to control their reproductive lives and that this ability to control their reproductive lives was enough of a reliance to sustain Roe."

ROBERTS: That's what the court concluded -- I think you're reading from the plurality opinion -- the joint opinion in the case.

FEINSTEIN: Thank you.
One other reading from Justice Ginsburg's testimony: "Abortion prohibition by the state, however, controls women and denies them full autonomy and full equality with men. That was the idea I tried to express in the lecture to which you referred; that two strands, equality and autonomy, both figure in the full portrayal."

FEINSTEIN: In Bray, you argued on behalf of the government as deputy solicitor general that the right to have an abortion is not specific to one gender.
Specifically, your brief stated, quote, "Unlike the condition of being pregnant, the right to have an abortion is not a fact that is specific to one gender," end quote.
In your oral argument you went on to make this point by comparing Operation Rescue's attempts to prevent a woman from exercising her privacy right to make decisions about her pregnancy to an ecologist's efforts to block an Indian tribe from using their exclusive fishing rights.

Do you think that's an appropriate analogy?

ROBERTS: Well, Senator, it was a position and an argument that the administration made that was accepted by the Supreme Court by a vote of 6-3.

The underlying point was that under the statute at issue in Bray, the Ku Klux Klan Act, required under the Supreme Court's precedent that people engaged in the challenged activity must be motivated by a discriminatory animus.
Obviously, under the Ku Klux Klan Act, the classic case, racial hostility.
And the issue was: Are people opposed -- in the Bray case -- opposed to abortion opposed to women?
And the determination of the court was that, no, that there are people who are opposed to abortion and that does not constitute opposition or discriminatory animus against women and, therefore, that the Ku Klux Klan Act didn't apply.

Many other provisions obviously apply in a case of abortion protester violence, including state law and other provisions of federal law, but the Supreme Court concluded 6-3 that there is no discriminatory animus based on opposition to abortion.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Isto está a dar-me um gozo inaudito !

Apesar da arrogância (quase sempre resultado da ignorância) de alguns comentadores, isto está a estimular-me intelectualmente e a obrigar-me a reflectir sobre temas há muito arrumados. Tenho pena que as suas certezas lhes não permitam entrever o humor que coloco nalgumas interrogações. Rígidos e convencidos, revelam uma total opacidade à discussão de novos ângulos de visão que se afastem do modelo preconcebido a que adaptam os factos.
Discutir se os lusitanos eram ou não indo-europeus é discutir o sexo dos anjos.
Caruso cita Untermann. Este e Prosdocimi são os únicos autores de relevo que classificam o lusitano (língua) como próximo do celtibero e ambos como línguas celtas. O ex-falangista, ex-nacionalsocialista e liberal Antonio Tovar, tal como Gorrochategui consideram-no indo-europeu mas de um sub-grupo diferente do celta. Isto, como o licenciado Caruso reconhece, desde que as inscrições de Lamas de Moledo e de Cabeço das Fráguas sejam lusitanas. Ora, este facto é posto em dúvida por muitos historiadores e linguistas.
De qualquer forma, a maioria destes concorda que os lusitanos não seriam uma etnia mas um conjunto de povos de diferentes origens, vivendo em espaços adjacentes e interligados por processos de aculturação mútuos.
Mas também o que é que isso interessa? No espaço territorial que hoje é Portugal continental co-habitaram celtas da última migração(galaico braccaros, seguramente), asturo-cantabros da primeira migração celta que os levou inclusivamente a chegar à Irlanda (criando a fase astúrica, pré-Tuatha De Danan). A propósito, Irlandeses e Galeses são povos celtas diferentes, genetica e linguisticamente; pensa-se aliás que os últimos, os Cymbros, são descendentes dos tais astúrios derrotados na Irlanda.
E pergunto-me: o que é que ascendência nos traz de particular a não ser exactamente a noção de que resultamos de uma grande mistura e salganhada de povos de diferentes origens ? E que se pesquisarmos bem vamos todos dar aos mesmos antepassados.
A mítica ideia de que os indo-europeus irromperam na Europa vindos das estepes ucranianas e que de uma forma avassaladora subjugaram manu militari as populações pré-indoeuropeias foi posta em causa no fim dos anos 80 por vários paleolinguistas, nomeadamente por Colin Renfrew. Segundo ele, foi a vaga de migrantes vindos do médio oriente, no Neolítico, em resultado da explosão populacional provocada pelo desenvolvimento da agricultura que introduziu as línguas indo-europeias no Velho Continente; no entanto, de acordo com Martin Richard (através de estudos do ADN mitocôndrico que se transmite de mãe para filho) esse influxo genético corresponde apenas a cerca de 20% da actual população europeia. A superioridade técnica, social e cultural da língua mais elaborada desses povos foi o que permitiu que o indo-europeu se afirmasse. Contudo, 80% dos genes dos actuais europeus já cá estavam desde o Paleolítico. À mesma conclusão chegou o estudo de Ornella Semino e Luca Cavalli-Sforza, este um dos pioneiros da antropologia genética, que trabalharam as mutações dos cromossomas Y que passam do pai para filho. Os marcadores das mutações já estavam presentes nas populações que na Ucrânia, nas montanhas do norte dos Balkãs e na Península Ibérica sobreviveram à última Idade do Gelo.
O que estas conclusões significam é que no fim de contas somos (todos os humanos) muito mais próximos do ponto de vista biológico do que alguns gostariam que fossemos. Mas, por outro lado, não deixam de por em evidência a singularidade do que significa ser um ser humano e que a complexidade intangível do indivíduo nega o mito da Igualdade.
Não partilhando o desdém (e, diga-se, incredulidade) de Herculano pelos Lusitanos, sinto-me orgulhoso de todo e qualquer influxo genético e cultural (inclusivamente dos milhares de escravos africanos) que contribuíram para transformar o Portugal europeu na Nação que foi.
A insistir na tese racista ou raciológica da formação do carácter nacional, ver-me-ia obrigado a questionar-me porque é que me sinto melhor acompanhado por um qualquer Cuanhama do que pelo Louçã ou pelo Carrilho...
É que, na realidade há duas weltanschauung ou mundovisões base que há muito se digladiam. Entendem uns que o papel do Homem é ser senhor do seu próprio destino, de modo a contribuir para oferecer à humanidade o bem estar físico através da conquista do mundo material, sem necessidade de qualquer força, anseio ou poder espiritual, no que reputam de obscurantismo. Recusam aceitar a interferência da fé e do sobrenatural pretendendo demonstrar tudo através da razão. Outros concebem os humanos como filhos de Deus, abandonados à gestão do mundo material, em que se devem guiar pelo amor ao próximo e a si mesmo, praticando as virtudes espirituais da fé, da esperança e da caridade. Acreditam numa dimensão sagrada da vida pelo que, para eles, os outros fundam a sua lógica numa admiração egoísta pelo Eu pessoal; mesmo que entre eles existam almas generosas, a maioria apenas espera obter benefícios pessoais, trabalhando por apetite à recompensa terrena. Não é difícil perceber que me filio entre os segundos...

sexta-feira, outubro 07, 2005

Meus caros

Com o azeite bem separado do vinagre, confesso-vos que não tenciono gastar nem mais um minuto com uma polémica que não conduz a lado algum. Permitam-me, no entanto, salientar o seguinte:

  • Um boa parte dos comentadores (seguramente por inépcia minha em fazer-me entender) acabaram por não perceber patavina do que é uma Pátria, uma Nação, um Estado, um Império ou até mesmo uma etnia (conceito essencialmente cultural e não bio-genético que penso que usam em vez de raça; ganda raça a portuguesa, descendente de iberos ou de celtas ? de mouros ou judeus ? de fenícios ? de recolectores de conchas ? de construtores de megalitos ? ah, claro, já me esquecia que as elites são descentes dos germânicos visigodos ou suevos. Qual é que é o essencial e qual o acessório ? É pela língua ariana que se define a Nação? Então, moço, todo o braslêro é ariano! E os moçambicanos ? Onde é que eu tinha a minha cabeça ! E é claro que nos E.U.A. não seriamos tratados como não brancos. Como lá vivi 5 anos, a minha experiência foi seguramente afectada pela minha tez da Beira Baixa que os enganou.
  • Não sou defensor do Portugal artificial de Minho até Timor (um rascunho do projecto de Nação apregoado por quem, no fundo, nele não acreditava) e é mais um pegajoso reducionismo resumir as posições apenas às duas mencionadas por F. G. Santos.
  • Também não tenho qualquer problema com o pronunciamento corporativo do 25 de Abril. Foi o corolário lógico de marcelices, complexos de ventos de mudança e da implosão do regime por telecomando mundialista. Não posso é ignorar as suas terríveis consequências: Centenas de milhares de mortos, milhares de expoliados, enriquecimento cleptocrático de pseudo-elites africanas e europeias, liberdade de pensamento e expressão condicionadas por uma lavagem ao cérebro ideológica facilitada pelo militante apoliticismo do regime deposto, etc., etc., etc.
  • Saudosismo, lamechice, reaccionarismo, direitismo, etc. são epítetos que batem no escudo da minha indiferença.
  • Quanto à ortogénese Volkish, perdão shô Jardim, Volkisch, da Nação espero que a proximidade com as terras do Conde Vlad, certamente mais consentâneas com os seus hábitos higiénicos, lhe permitam reflectir sobre o que é que isso significa no caso de Portugal.

Avante !

sexta-feira, setembro 30, 2005


Olá, eis-me de volta !

Pelos comentários que recebi em relação às últimas bocarras vejo que não consegui explicitar muito bem o conceito de Pátria. Caturo usa uma distinção de base joseantoniana com uma identificação da Pátria ao Estado no caso do fascismo que nãó é correcta, na minha modesta opinião, embora esteja de acordo quanto ao resto.
Como seria óbvio Rebatet topou perfeitamente que não pertencemos à mesma família nacionalista, aliás não compreendo mesmo porque é que aqueles que não reconhecem a singularidade da Nação portuguesa insistem em denominar-se nacionalistas. (Talvez por mentalidade reaccionária ?) A sua matriz ideológica é manifestamente metanacional... A Nação como concepção "Volkish", como afirma, é redutora, estática e diria mesmo absurda pelo papel que a interpenetração de culturas e idiosincrasias que afectou sempre no tempo e no espaço territorial todos os países.
Se se não reconhece um desígnio nacional, traço de união espiritual entre as gerações que se revêm numa comunidade de destino histórica, então o que nos diferencia das outras Nações ? Se se não reconhece a forma sui generis como ousámos avançar à descoberta de novos mundos, e por uma condimentada receita de Deus, Ouro e Glória, estabelecer, dando e recebendo, pontes entre culturas e civilizações (isto é formas diferentes de ver o Cosmos) então o que somos? Meia dúzias de badamerdas enquistados na Espanha à espera que o nosso anúncio para empregados de balcão ou domésticas seja lido num qualquer El País ? É isso que somos ?
É verdade que o 25 de Abril estilhaçou a Pátria mas não a Nação porque essa se sublima exactamente, não nos Estados cleptocráticos que surgiram, mas no conceito de Portugalidade.
Rebatet cita Spengler, e muito bem ("Uma cultura tem uma alma, enquanto que uma civilização é o estado mais artificial de que a humanidade é capaz"). Fico sem perceber se cita por concordância ou por discordância, já que logo a seguir invoca a superioridade civilizacional, ou seja o tal estado mais artificial, para fundamentar a colonização !?
Claro meu caro Rebatet que "é preciso cortar amarras com o passado", há que esquecer a 2ª guerra mundial e passar ao séc. XXI. Nunca se esqueça porém que uma Nação sem passado é uma Nação sem futuro, lá dizia o Blair, mas o Eric Arthur.
A essência matricial de Portugal está na Europa, diz-me. Geograficamente é uma tautologia. Politicamente é como que deitar pela janela a biblioteca que se acumulou ao longo de uma vida.

Sinto que o ausência de pensadores nacionalistas (muitos dos mais preparados e com mais obrigações andaram nestes últimos anos apenas a tratar da vida, a ganhar consideração social e alguns mesmo a bajular o Poder para serem convidados para os seus repastos) durante as duas últimas décadas levou a um hiato cultural arripiante. E só assim se compreendem ridículas manifestações arregimentadas por marxistas-leninistas reciclados, mentecaptos e bufos da polícia (as categorias não são necessariamente mutuamente exclusivas).
Vejo hoje muita gente, com informação (mas por vezes sem o conhecimento) enfileirar nos que advogam a integração em Espanha, ou na mítica Europa. Não falta quem, nostálgico não se sabe bem de quê, pretendendo que a nossa Saga Nacional foi apenas um colossal atoleiro, nos pretenda enfileirar numa Europa dita das Pátrias, com argumentos que rescendem a grosseiro pan-germanismo ou a vertigem neo-napoleónica. Muitos deles, left-overs dos movimentos neo-paganistas e nietzschianos da última metade do séc. XIX, defendem uma Europa ariana depurada de todos os elementos contaminantes, em nome de uma mítica Civilização Ocidental que umas vezes pretendem de raiz cristã e, noutras ocasiões mais íntimas, fundada no paganismo pré-cristão. São, na generalidade, de uma ignorância confrangedora nomeadamente no que diz respeito às questões de natureza antropológica, histórica ou social. No caso português, renegam ou desconsideram a nossa História, acentuando e valorizando apenas as menções ao exercício do domínio imperial sobre raças e civilizações que pretendem inferiores. Embora se mascarem com a espiritualidade exaltante do Herói e do superior interesse do Colectivo, acabam por ser tão internacionalistas e anti-nacionais quanto o são os adversários que dizem pretender combater.
Uns três meses de férias pagas no Alabama curavam-nos rapidamente. Quando os tratassem como não brancos cairiam em si...

sexta-feira, julho 22, 2005

Estimado Rebatet

Quanto à questão da soberania mínima ou inexistente, depende do que se considera hoje Soberania. Poderíamos fazer um tratado sobre isso, concomitante com uma Teoria do Estado e do Poder (v.g. a tese de doutoramento de Jaime Nogueira Pinto ou os textos de Martim de Albuquerque, Blanco de Morais ou Adelino Maltez, p.e.). Voltarei ao assunto um destes dias, prometo-lhe (como será de esperar o case study da nação hebraica virá à colação). Mas antes tenciono abordar o tema da Raça, do multiculturalismo e do mundialismo.
Permita-me clarificar alguns conceitos antes de responder à sua questão sobre o Estado Novo. (A propósito, não é nada chato mas sim clarividente e estimulante; tenho uma enorme curiosidade de conhecer a sua idade !)

Pátria e Nação
Os Gregos clássicos confundiam amiúde as designações dos deuses com os próprios domínios destes. De forma análoga, também para nós a Pátria surge muitas vezes confundida com a sua encarnação, a Nação. A Pátria é o Altar memorial da nossa Alma colectiva. Encontramos nela a crepitante e perene lareira do arquétipo Lar que nos aconchega e revigora. Grande Solar mítico, construído por gerações sucessivas de antepassados, a Pátria, de natureza politicamente primordial, é a nossa referência axial no plano do colectivo. A sua evocação, enche-nos de ânimo, marca-nos o rumo e robustece-nos o coração. A sua conceptualização aplicou-se, no passado, às Cidades-Estado da Grécia ou da China como hoje abarca as referências fundamentais das modernas comunidades nacionais.
Por seu lado, a Nação tornou-se a sua carne, o seu corpo e moldura. É a Nação que, consciente de si própria, permite manter a salvaguarda do Fogo sagrado da Pátria, garantindo a sobrevivência do ideal colectivo. Renovada sob os auspícios da verdadeira liberdade, da igualdade de deveres e da fraternidade mais pura, a ideia nacional foi sempre cultivada como um ideal que podia exigir, em caso de extrema necessidade, o sacrifício da própria vida. Embora o conceito lato de Nação se perca nas brumas da memória histórica, é, sobretudo, na Idade Moderna do Mundo Eurocêntrico que ele ganha forma e estrutura quase universal, no corolário da agitação socio-política que levou à queda do Antigo Regime e à nacionalização das monarquias. Construída e sedimentada como um organismo imutável, idealmente idêntico a si mesmo através das vicissitudes do Tempo, a Nação é globalmente definida, para cada comunidade nacional, como uma unidade de destino colectivo projectada na História universal. É por isso meu caro amigo que não concordo consigo quando diz que a Suiça não é uma nação. Quanto à Bélgica ...
Onde desapareceu a Figura Real como elemento de aglutinação identitária procurou-se preencher o vazio com um conjunto de ideias chave das quais sobressaía a substituição de súbditos por cidadãos, em nome da Igualdade. Se bem que saibamos hoje pela etologia, pela sociobiologia ou pela simples observação empírica da realidade que, de facto, haverá sempre uns mais iguais que outros, a adesão colectiva àquela ficção não deixou de empolgar as massas populares, projectando assim uma argamassa nova no edifício nacional. A fim de lhe dar consistência, muitos intelectuais resolveram assumir o que chamaram o exigente dever patriótico de fornecer à Nação todos os elementos que lhe permitissem reconhecer-se como tal. Os sucessos marcantes do seu historial passaram a ser fruto de um proselitismo tenaz, ensinando aos indivíduos o que são, enquadrando-os e incitando-os a difundir, por sua vez, esse valor colectivo como coisa própria sua. O sentimento nacional, nascido da diferenciação cultural ou política, sedimenta-se e consolida-se com a permanente invocação e difusão da herança colectiva, permitindo ganhar consciência da individualidade e singularidade da Nação. No nosso caso, o sentimento diferenciador começara a surgir na agitada Marca de Entre Douro e Minho, provocando o destaque da Galiza, e, como corolário, o fim do seu sonho de independência. Mas é na gesta e na glória dos Descobrimentos e da conquista dos Impérios que a Razão de ser da Nação se afirmou; 1640 deu-nos, finalmente, a prova suprema da Vontade inquebrantável em ser Portugal que, desde então até aos conturbados dias de hoje, jamais perdeu consciência de si próprio.
E o Estado ?
Mas a gestão concreta das actividades da comunidade organizada é conseguida através do recurso a uma estrutura dinâmica, o Estado, cuja concepção, âmbito e estrutura de poder são motivo de divisão ideológica e doutrinal. Idealmente, como forma de justiça, equilíbrio e estabilidade nas relações internacionais, a cada Nação deve corresponder um Estado. Inversamente, pela mesma razão, uma Associação de Estados deve ser, antes de mais, uma Comunidade de Nações. Os Estados multi-nacionais, chamemos-lhes impérios, uniões ou comunidades, sem uma referência identitária que vá para além da figura do Imperatore, real ou virtual, são estruturas frágeis que rapidamente podem entrar em colapso.
A passagem da Nação, real ou embrionária, como princípio intemporal sui generis, a Estado-Nação, organização que não pode perdurar senão adaptando-se, faz emergir a adormecida contradição entre fixidez e evolução. E, no paradoxo, o Estado, instrumento que, em muitos casos serviu a construção da Nação, acaba por engendrar, na sua complexidade ontológica, uma angústia latente — o potencial desaparecimento da Nação. A Nação eterna, ao ajustar-se à estrutura conjuntural do Estado, fica exposta à morbidade e à mortalidade.
A criação de um Estado-Nação foi, na generalidade dos casos, formalmente homologada pelo estabelecimento de uma Constituição submetida ao sufrágio universal, podendo a sua aplicação variar consoante a evolução dos vectores internos de tensão e de poder. A fundamentação moderna e a concomitante formalização das estruturas institucionais e jurídicas, reguladoras organizacionais do Estado, foram ganhando coerência no meio de um processo de agitação turbulenta de reajustamento social. As Nações estrebuchavam, em pleno séc. XIX, numa atmosfera enevoada em nostalgia de glórias passadas, por um lado, e ânsia de afirmação no presente, por outro. No seu seio, a urgente necessidade de reformas sociais surgia descompassada da pusilânime atitude das elites snobs[1] instaladas, não havendo condições adequadamente asseguradas para a sua necessária renovação. À pobreza e à fome, aos anseios e à violência, às promessas e à demagogia de um lado opunham-se, do outro, a surdez, a sobranceria, a inoperância e o temor. O aparecimento do capitalismo industrial veio impor um novo modo de produção e a expansão de um grupo social, o proletariado operário, que fez surgir uma linha de fractura social e uma nova referência identitária. Concorrente da Nação, o Internacionalismo de Proletários de todo o Mundo, uni-vos! surge e difunde-se, tendo por base a pertença de classe contra a união inter-classista em que assenta a pertença nacional. Deste confronto, que constituiu o eixo principal da história europeia do séc. XX, saiu, no entanto, a Nação manifestamente vitoriosa. Se o resultado histórico tem demonstrado uma supremacia incontestável do capitalismo nas relações económicas intra e inter-Estados e o fracasso das tentativas para o substituir por outras formas de produção, não é menos verdade que trouxe também a afirmação persistente da ideia nacional como comunidade fraterna, solidária e protectora. Não foi pois surpresa que quando, no fim do séc. XX, a mundialização do capitalismo começou a ameaçar a soberania dos Estados-Nação, a Nação tenha aparecido como um refúgio e o seu eventual desaparecimento seja percebido como uma terrível e desestabilizante ameaça para a coesão social e para as condições de existência dos mais fracos. É a pertença à Nação que dá ao indivíduo um outro estatuto que não o de simples produtor/consumidor ou utente de serviços.
Tendo subjacente esta maçadora clarificação de critérios conceptuais, permita-me dizer-lhe que o Estado Novo não soube resolver o problema da Nação Portuguesa do séc. XX.
A mentalidade dos seus dirigentes estava ligada a arquétipos e mitos de superioridade civilizacional (que não racial) de origem anglo-saxónica com o permanente complexo de afirmação perante os outros (o vulgar pôr-se em bicos dos pés) tão característico dos franceses. O Estado Novo herdou um complexo territorial e cultural sui generis, a que não soube (por insuficiências culturais e políticas dos seus principais dirigentes, permitindo-me excluir Oliveira Salazar) dar destino. Era tecnicamente um Imperium atípico, com falta de homogeneidade das partes e onde as designações não conseguiam disfarçar a verdadeira realidade colonial (se bem que lá, os cidadãos não tribais, de origem europeia, africana ou asiática tivessem o mesmo tratamento face à lei a sua crioulagem era vista com sobranceria). Ao Imperium faltava-lhe a cabeça (o Rei ou o Imperador) capaz de federar as sensibilidade. Alguns intelectuais procuraram substituir essa lacuna pela ideia da Portugalidade Multicultural mas os pilares de suporte do regime, nomeadamente os militares e os camaleónicos situacionistas (mais salazaristas que Salazar) não permitiram o desenvolvimento dessa ideia- projecto de Nação do séc. XXI, cuja prossecução considero que teria permitido um fim diferente, com uma ideia de futuro genial, solidário e um exemplo para o mundo e sobretudo para África. (não há aqui ingenuidade como alguns estarão neste momento a pensar). Explicitarei melhor a ideia se a isso for desafiado...
Por agora tenho de regressar ao trabalho.

[1] Não deixa de ser interessante notar que o termo de origem inglesa, snob, é um acrónimo que resulta da contracção da designação neo-latina de sine nobilitas. S. nob. era a marca que a secretaria das universidades inglesas apunham nos processos de candidatura dos estudantes que não pertenciam a famílias nobres.

quinta-feira, julho 21, 2005

Tuttavia l' identità nazionale

È l'antica tradizione
In un popolo che vive
Che dà il nome di nazione
Alla sua identità.
E talvolta certe immagini
Perse dentro un'illusione
Dal passato, poi ritornano
Sulla scena immortale
Della loro verità


Do Poema Maschere de Leo Valeriano

A Identidade Nacional

Meu caro Rebatet

Muitas comunidades possuem uma referência identitária, de uma forma que poderíamos designar por Certificado de Origem ou de Fabrico, mas que, em muitos casos, não é suficiente para que se possam constituir em Nação. Como já é vulgar dizer-se, identidade também a têm os índios. Não basta falar de identidade; há que perceber que o qualificativo nacional lhe dá uma dimensão holística que arrasta, necessariamente um grau mínimo de soberania. O resultado da construção colectiva das identidades nacionais não apresenta um molde único na definição da alma nacional e no conjunto de procedimentos necessários à sua elaboração. Estes constroem-se na complexidade dos parâmetros culturais, políticos e históricos de que fazem parte o povo, o território, a língua, a religião, o património cultural e histórico comuns, etc., bem como as próprias interacções entre todos estes factores[1].
As formações políticas ou ideológicas estabelecem geralmente relações complexas entre a Identidade Nacional e as outras determinações identitárias. As perspectivas liberais, por exemplo, afirmam insistentemente a Nação como uma criação moderna, indissociável do triunfo da Democracia liberal. Contudo, a ideia intrínseca de Nação, parece ir, a priori, contra essa presunção visto que o seu princípio se baseia no primado de uma comunidade atemporal cuja legitimidade reside na preservação de uma herança colectiva. É, sem dúvida, por depender da tradição mais entranhada, e menos contingente, que a Nação se assume como uma categoria política eminentemente apta a suportar a evolução e os sobressaltos das relações económicas, sociais e políticas. Tudo pode mudar, excepto a Nação; ela é a referência tranquilizadora que permite a formação de uma continuidade, não obstante todas as mutações. O culto da tradição e a celebração do património ancestral, constituíram sempre um lastro eficaz que permitiu às sociedades efectuar mutações radicais sem cair na anarquia e na desagregação. A Nação, ao instalar uma fraternidade e, consequentemente, uma solidariedade de princípio entre herdeiros do mesmo legado indiviso, afirma a existência de um interesse colectivo. Constitui um Ideal e uma instância protectora, considerada superior às solidariedades resultantes de outras identidades, sejam elas de geração, sexo, religião ou condição social. A existência de uma herança comum, mito necessário embora não suficiente, raramente é posta em causa; o que varia é a sua composição, consoante as opções políticas e a época. Os conflitos podem traduzir-se em controvérsias sobre a composição do património ou sobre os acrescentos ou cortes nesse conjunto eminentemente plástico. A exegese sobre este ou aquele elemento da lista identitária, sobre a sua autenticidade, sobre as suas conotações expressas em termos contemporâneos é mesmo, muitas vezes, uma das causas mais comuns da luta política e ideológica.

[1] Muitas vezes, não basta um só destes parâmetros de referência identitária para definir a Nação. Países como a China, a Índia, a Suiça ou a Bélgica são multilingues. Outros povos, como por exemplo os Judeus, não necessitam de um território para se assumirem como uma comunidade de destino perante os outros. Os Ossetas, um ramo dos Alanos que, fugindo dos Hunos, se fixou no séc. V no Cáucaso, apesar de se encontrar dividido por duas religiões (os do Norte são maioritariamente muçulmanos e estão integrados na Rússia enquanto que os do Sul são, em grande parte, cristão ortodoxos, na Geórgia) nem por isso se consideram menos solidários em termos nacionais; o mesmo se passa, de certa forma, com os Albaneses.

quarta-feira, julho 20, 2005

O nacionalismo

A ironia agridoce de Duarte de Viveiros, no seu poema A Morte da Epopeia, dedicado ao neo-realista Ferreira de Castro, em 31 de Agosto de 1923.



Ao clarão do futuro, no horizonte,
Eu vejo o mar azul, serena a vida:
Caminha a humanidade sobre a ponte,
Enfim, da pátria universal, querida!

Como em plana paisagem, sem um monte,
A gente nova irmana-se na lida...
Ouve-se o rouxinol, a frauta, a fonte,
E o ritmo ideal do coração da vida...

O ódio morreu. O orgulho sucumbiu...
Mas, se a ventura humana se atingiu,
Branca nau navegando à lua cheia,

Partiu-se a espada que escreveu a história
Perdeu-se a fé na luta, a fé na glória
O génio da Energia e da Epopeia!



É no fim do séc. XX, no momento em que o Estado-Nação triunfa como forma de organização política por excelência, que os discursos sobre a decadência ou obsolescência das nações começa também a adquirir toda a sua força. Uns, pregoeiros do pessimismo, procuram denunciar o desmoronamento interno, atribuindo o facto a uma patologia que afecta o corpo da Nação. E sugerem os correspondentes diagnósticos: — invasão do organismo por agentes externos, estranhos e/ou agressivos ou então simples consumpção, cansaço ou desgaste pelo tempo. E, concomitantemente, procedem ou à denúncia dos germes deletérios ou dos parasitas que convém expulsar, ou atribuem o enfraquecimento ao facto de os nacionais se terem gradualmente esquecido das suas origens, da sua tradição, da sua alma, nas quais se deveriam permanentemente retemperar. Outros, dos púlpitos dos areópagos dominantes, anunciam o fim das Nações, não como uma constatação da degradação mas como uma necessidade promissora de remover pretensos obstáculos ao desenvolvimento normal dos Povos. É esse, por exemplo, o caso das correntes federalistas europeias, em que a exacerbação das interrogações sobre as identidades nacionais e a sua preservação no contexto actual, está sem dúvida, menos relacionada com questões de segurança ou com a presença significativa de mão de obra de origem estrangeira do que com a falaciosa sugestão de que as novas formas de vida económica exigem a constituição de conjuntos soberanos, mais vastos que os Estados-Nação. O escondido mas real complexo de inferioridade de algumas elites europeias face aos E.U.A., bem como a generalizada crença materialista no progresso ilimitado favorecem a convicção de que não só é desejável como inevitável a criação de espaços políticos meta-nacionais. O ideário da União proclama insistentemente que o conceito de Nação é já obsoleto e limitativo da tão desejada afirmação colectiva europeia. Mas a realidade é que a entidade supranacional União Europeia se pode ter transformado num espaço jurídico, económico, financeiro, policial, monetário mas nunca num bloco identitário. Falta-lhe todo o património simbólico através do qual as nações põem à disposição dos indivíduos uma memória e um interesse colectivos, uma fraternidade e uma protecção com provas dadas. O voluntarismo, consciente e militante, que tem sido praticado nas elaborações identitárias da União acaba, implicitamente, por denunciar que elas não decorrem espontaneamente de simples reorganizações do espaço político, cultural ou económico. Não engendram, ipso facto, um sentimento de identidade comum entre os indivíduos que nelas participam ou que a elas estão sujeitas. Criações como o Euro, por exemplo, não constituem, em si mesmo, um Ideal. No presente estado de coisas, os Europeus parecem estar tão desprovidos de identidade europeia quanto estão providos de identidades nacionais. As ilustrações de obras fictícias gravadas em algumas variantes da nova moeda acabam por demonstrar isso mesmo, sendo um reconhecimento da inexistência de um património que possa ser percebido por todos como colectivo. Tentativas artificiais de criação de um Exército, de uma estrutura judicial única ou de uma Constituição comum apenas trarão mais clivagens e frustrações.

As tendências atrás caracterizadas são sugeridas pela opinião que se publica (tantas vezes apresentada como a Opinião Pública) como quase hegemónicas. Contudo a reacção natural das populações mais avisadas e mais livres tem demonstrado não só a falsidade do facto como a insensatez da pretensão. Perante a mundialização uniformizante, aniquiladora das nações, despertam as forças centrífugas do nacionalismo. O refúgio crescente nas identidades nacionais é, pois, inevitável e amplamente compreensível e desejável, como garante da estabilidade política internacional. O nacionalismo surge hoje, quando não qualitativamente adjectivado (português, alemão, americano, etc.), como um método de análise política, bem como uma sageza e um princípio pedagógico. A singularidade do nacionalismo deriva do facto de ele localizar a fonte da identidade individual no seio da Nação que é vista como portadora de soberania, objecto central da lealdade e base da solidariedade colectiva. Na sua essência conceptual, obriga a ter em conta a Nação, enquanto resultante das singularidades concretas dos Povos soberanos, como categoria política fundamental na dialéctica do relacionamento internacional. Face às correntes materialistas dominantes, o nacionalismo aparece como um princípio criador de modernidade e de diferenciação qualitativa, reafirmando o valor moral e social das Nações.
Como muitos autores têm provado, e contrariamente à incutida convicção generalizada, não há oposição entre o nacionalismo e o cosmopolitismo intelectual. Quanto mais aberta for uma Nação às brisas temperadas que soprem do exterior, maior será a sua capacidade de se auto-regenerar, absorvendo o que no mundo se tiver construído de mais vital, elevado e são, e eliminando o que, no seu seio, for defeituoso ou caduco. Essa saudável virtude não deve contudo ser confundida com o deplorável cenário com que frequentemente nos confrontamos em que se desvaloriza tudo o que é nacional e se advoga a sua substituição pelo que é estrangeiro. Esta atitude, infelizmente tão vulgar, tem geralmente origem em elites que procuram ou afirmar snobmente o seu novo-riquismo cultural ou concretizar as suas convicções ideológicas anti-nacionais. Pelo contrário, em vez dessas forças desagregadoras, a pedagogia de massas do nacionalismo teve sempre como suporte privilegiado o património identitário que marca a Nação. Em todas as épocas, a pesquisa das fontes nacionais foi sempre uma obra de vanguardas culturais. Nos períodos românticos chegou mesmo a ser uma compulsiva demanda do Graal nacional; não só se buscavam âncoras míticas no passado remoto como se apresentavam parábolas que dessem, eufemisticamente, suporte à afirmação nacional contra um hipotético opressor ou uma cultura hegemónica. Quando necessário, uma perseverante demanda das fontes ancestrais, mesmo que apenas parcial ou degeneradamente vivas na tradição popular, era fomentada para suporte consistente de um passado que pudesse fundamentar a legitimidade da Nação. Já então se intuía que o que dá valor a uma cultura não é a sua maior ou menor proximidade a um modelo dominante mas, pelo contrário, a sua originalidade, a sua autenticidade[1]. Conhecermo-nos a nós próprios, enquanto colectividade nacional, antes de nos preocuparmos em exaltar os outros era o lema. Em Portugal, no séc. XIX, a geração de 70 acabou por ser uma geração de transição, de charneira entre a anterior, ainda muito marcada e empolgada pelos tições ardentes da republicana Revolução Francesa e seus corolários, e a geração de 90 que arrancou com a reacção que poderemos chamar de aportuguesamento ou re-aportuguesamento. Às preocupações hegemónicas de afirmação do civismo e da liberdade suceder-se-ia o exaltamento do modernismo e do nacional. Para os de 30-50, à laia do entendimento que os comunistas têm actualmente do conceito, a Pátria era a própria República; se para a conseguir fosse necessária a união com Espanha isso seria perfeitamente aceitável[2]. A geração de 90, formada por intelectuais que na sua maioria haviam estudado ou trabalhado no estrangeiro, mantendo embora o seu republicanismo tendencial, soube, no entanto, sobrepor à comunidade de cidadãos, livres mas anacionais, governados pelo materialismo económico, verdadeiro ênfase das que a haviam precedido, a sentimental adesão a uma herança patrimonial nascida da Tradição primordial e o reconhecimento de uma idiossincrática forma de estar no Mundo. A Nação cultural constituiu uma subversiva reacção e um dos movimentos intelectuais mais radicalmente modernos e cosmopolitas; de certa forma, foi também um processo de democratização cultural ao procurar substituir as vagas e elitistas referências greco-latinas anteriores por novos modelos de arte e conhecimento. Contudo, apesar de muitos desses intelectuais terem estado nos primórdios do Poder, depois da implantação da República, não conseguiram manter a sua influência por muito tempo. Os radicalismos, nomeadamente o anti-religioso e a contínua agitação política, levaram ao regresso das correntes culturais jacobinas que, de novo, vieram procurar submeter a "Pátria eterna" à consciência internacional, como foi o propósito declarado do movimento dos Seareiros. E, salvo raros apontamentos e honrosas excepções, nem mesmo o Estado Novo, com os seus complexos culturais e com a sua estreita e insuficiente política educativa, conseguiu inverter tal influência.
Com efeito, em nenhum âmbito da vida social essa realidade tem tido tão funestas implicações como na Educação e na Cultura. A pedagogia do sentimento de pertença tem de passar pelo emprego repetitivo dos possessivos na primeira pessoa do plural: o nosso país, a nossa Pátria, são expressões que fazem recordar constantemente que a identidade é colectiva. Os manuais escolares constituem um poderoso factor de integração não só porque são difundidos em grandes quantidades mas também por se dirigirem a seres humanos em estado de formação, com capacidade para apreenderem os conhecimentos morais e cívicos e os exemplos dos grandes antepassados. Inculcar as manifestações da Pátria nos seus traços mais nobres e mostrá-la grande pela honra, pelo trabalho e pelo respeito profundo do dever e da justiça é tarefa de todas as instituições que concorrem na Nação, nomeadamente do Estado e da Família. Mas a matriz de referência para essa acção prosélita está cada vez mais condicionada pelos clubismos ideológicos e pela forma como a evolução do Homem e das sociedades é, por eles, considerada. Apesar disso, não deixa de ter algum fundo de verdade afirmar-se que a construção identitária nacional nunca esteve associada a um determinado tipo de regime ou sistema de governação específico.
Mas, perante a inegável pressão dos instrumentos de domínio mundial, não estarão as identidades nacionais ameaçadas pela globalização económica e pelo mundialismo, sua consequência política?
Se a pergunta persiste em ser válida, embora fragilizando o nosso wishful thinking, a verdade, porém é que a capacidade de adaptação das forças que reagem contra essa tendência evolutiva encontrou até uma nova vitalidade graças, por exemplo, ao próprio símbolo da mudança em curso — a Internet. A utilização desta rede de comunicação cibernética tem permitido difundir, sobretudo junto dos mais jovens, os principais vectores da natureza identitária das Nações, suprindo afinal parte do papel educativo e divulgador do Estado. Mas todos os dias continuamos a ser expostos à questão de saber se a função social e política que elas têm desempenhado durante séculos irá perdurar. Há quem diga que a ultrapassagem histórica da Nação talvez não signifique a sua morte, pois a sua construção também não destruiu outras formações colectivas, que simplesmente se ajustaram e reconverteram, embora tenham sido quase sempre relegadas para um papel secundário[3].

[1] No caso do nosso País, parafraseando Leibniz mais vale ser um Português original que a pretensa cópia de um europeu. Note-se a acção desses senhores que, tentando agarrar a sombra europeia, deixam escapar a consistência da realidade portuguesa, incapazes de perceber como é insípido e artificial, seja onde for, tudo o que é condicionado e copiado…

[2] Antero chegou a declarar que nas nossas actuais circunstâncias, o único acto possível e lógico de verdadeiro patriotismo consiste em renegar a nacionalidade.

[3] Há quem entenda, como Jaime Magalhães Lima o fazia na viragem para o séc. XX, que Quando a Nação acabar, ficam ainda cinco milhões de portugueses, homens sadios e belos, trabalhadores, sóbrios, duma maravilhosa organização moral, amoráveis, resignados, almas de poetas com eternos amores, cantos de sublime saudade que em todo o mundo não têm iguais. E eu creio nesse povo, na sua resistência, na sua grandeza, nos seus destinos. Foi conduzido por maus pastores à escravidão; mas não se perverteu. Aspirações e energias conservam-se intactas, puras.

A Segurança Pública e o desgaste da solidariedade social

Identificar as ameaças e as vulnerabilidades é o primeiro passo para estabelecer uma sólida e coerente política de segurança. As ameaças podem derivar de causas naturais, de acidentes ou desastres ou de actos intencionais. Quando estes são causados por uma violação voluntária de uma disposição legal que regulamenta ou proíbe um acto para a protecção da sociedade nas suas componentes e estruturas humanas são considerados crimes. Podem ter uma expressão isolada, contextual ou organizada. De qualquer forma, mesmo os actos criminosos individuais podem ser indirectamente influenciados pelo panorama criminal geral que caracteriza a sociedade onde eles ocorrem. A validade desta afirmação é ainda mais significativa nos dias de hoje, com a irreversível tendência para a globalização.
Recentemente, quando me encontrava à janela de casa, assisti a um episódio que me marcou de maneira profunda. Impotente pela distância, pude ver uma criança, com pouco mais de dez anos, ser assaltada em pleno dia, por um marginal. O episódio é já habitual na zona em que vivo e faz seguramente parte do quotidiano de muitas famílias portuguesas, apesar de os esteticistas governamentais e autárquicos insistirem em negá-lo. Embora indignado, porventura anestesiado pela habituação estatística, não fiquei particularmente admirado.
O que efectivamente me impressionou foi a atitude dos transeuntes adultos que passavam e que, cobardemente, se afastavam olhando para o lado, apressando o passo. A recusa de ajuda a uma criança ameaçada é manifestamente um indicador do baixo nível de solidariedade humana que a sociedade portuguesa de hoje apresenta. E isso deve-nos obrigar a reflectir profundamente sobre as causas que levaram a um tal estado de coisas. Uma delas é certamente o descurar, umas vezes por pusilanimidade e outras intencionalmente, as virtudes cívicas e patrióticas.
A insegurança, que nas grandes urbes aparece quase sempre associada aos grupos marginais e, nomeadamente, à toxicodependência, tem, tal como esse mesmo fenómeno, razões bem complexas. Em última análise, a droga deteriora, corrói ou destrói o nosso melhor recurso social - a juventude. As doutrinas sociais que nos governam, herdeiras da teoria do Bom Selvagem de Rousseau, tendem a auto-culpabilizar a Sociedade pela situação de marginalidade de muitos cidadãos que, voluntariamente, se degradam e afastam das regras mínimas da convivência em comunidade. Sob a capa de doentes[1], embora sem especificação definida, é gasta com eles uma soma importante dos recursos sociais, sem que se veja qualquer diminuição do consumo ou da criminalidade que ele engendra. Em compensação, doentes involuntariamente dependentes de fármacos para sobreviver, como os hemofílicos, os diabéticos, os que sofrem de esclerose múltipla, etc. são pouco mais que ignorados. Por incapacidade, conveniência judicial e policial do mal menor ou por pretensa piedade, toleram-se os toxicodependentes que todos os dias intimidam, agridem e maltratam sobretudo os mais novos e os mais velhos. Passa-se por cima desse factor de insegurança generalizado mas em compensação, talvez como manobra de diversão, lança-se o estigma sobre quem bebe álcool, independentemente do consumo, como se esse fosse o verdadeiro problema que socialmente nos afecta em termos de segurança. É óbvio que a dependência do álcool foi, é e será sempre um grave problema e um importante factor de insegurança, sobretudo quando escondido no seio do lar, mas por mais areia que nos atirem para os olhos, as suas consequências não são comparáveis às da toxicodependência.
Para a maioria, o conceito de Segurança implica um ambiente estável e relativamente previsível no qual um indivíduo ou um grupo possa prosseguir os seus objectivos sem medo de distúrbios ou agressões. As Autoridades tendem a avaliar o nível de segurança pela análise dos dados obtidos através da participação efectiva dos crimes. Mas, na realidade a percepção do nível de Insegurança é muito mais importante para a definição da necessidades de segurança que a estatística do crime. Praticamente em todo o Mundo, está-se a notar um aumento significativo na extensão e âmbito da criminalidade internacional desde os anos 90, ao mesmo tempo que os indicadores dão nota de uma ligeira descida na interna, nomeadamente nos segmentos da chamada baixa criminalidade. No entanto, o cidadão comum tem uma perspectiva diferente como o demonstram as inúmeras sondagens e inquéritos realizados. O que acontece, amiúde, é que, por falta de confiança no sistema judicial, as pessoas já não se dão ao trabalho de apresentar queixa, introduzindo assim, sem o quererem, uma distorção nas estatísticas do crime.

[1] Será uma nova categoria de morbidade, a doença social? Se fossem considerados doentes mentais certamente haveria lugar a internamentos forçados. Em vez disso, com a desculpa de lhes diminuir o seu sofrimento e lhes aumentar a esperança de vida são gastas somas astronómicas em estruturas e medicamentos enquanto se deixa ao cuidado das famílias os encargos para as tentativas de recuperação. Não deixa de ser sintomático que as maiores taxas de recuperação de toxicodependentes se verifiquem em comunidades terapêuticas suportadas pela Igreja que são também aquelas que menos apoios estatais recebem.

terça-feira, julho 19, 2005

Sobre a actual vaga de criminalidade

A irreflectida onda de descolonizações provocada sobretudo pelos interesses dos contendores da Guerra Fria está na origem da profunda desestabilização que, de maneira tão trágica, tanto tem afectado os chamados países do terceiro mundo. Impuseram-se artificialmente Nações em espaços e a povos sem qualquer património identitário comum. Nem a melhor das boas vontades permite esconder o facto de que a genuína revolta individual contra um poder colonial arbitrário e paternalista nada tem que ver com os levantamentos nacionalistas que na Europa haviam ocorrido no século anterior. Com uma arrogância irresponsável, fruto da mais profunda ignorância e do mais intolerante preconceito ideológico, inventaram-se caricaturas de Estado, desprezando a verdadeira natureza da Nação como comunidade de destino colectivo, sedimentada e coesa. Um neo-monroenismo, ditado pela confrontação entre as potestades mundiais, votou à miséria, ao extermínio e à servidão um número incalculável de populações a quem, em nome dos mais elevados interesses da Humanidade, havia sido outorgada a Liberdade. Mas cedo essa liberdade abstracta se viu substituída pela falta de liberdades concretas e, de uma forma geral, o caos, o genocídio e a cleptocracia se instalaram de forma inequívoca. Dessa conflitualidade permanente e da subsequente débacle do Bloco Soviético respingam continuamente fluxos de pessoas em busca de uma vida melhor ou, pelo menos, da esperança de sobreviver. A sua entrada incontrolada nos espaços tradicionalmente mais abertos e deficitários de mão-de-obra, como é o caso dos países da Comunidade Europeia, arrasta todo um conjunto de novos problemas que, directa ou indirectamente, afectam a nossa segurança global. Quase sempre o insucesso na inserção no tecido social dessas sociedades leva à marginalidade e, por vezes, quando as comunidades expatriadas são significativas, à auto-exclusão. Esta evolui, com facilidade, para a ghettização, com toda a conhecida panóplia de comportamentos e atitudes que fazem gala em buscar em sub-culturas marginais inspiração e energia.
Incapazes de acompanhar a evolução das ameaças que, em muitos casos, conflituam com entranhadas convicções ideológicas, os governantes, e as autoridades em geral, manifestam face aos problemas da segurança pública um comportamento quase autista, como recentemente comprovámos. Esta atitude confrangedora é motivadora de reacções de indignação que conduzem, muitas vezes, a legítimas alterações da Ordem e a uma potencial escalada da violência, nada características do nosso quotidiano.
A insegurança aparece nas grandes urbes cada vez mais associada a grupos marginais. Mas as doutrinas sociais que nos governam, herdeiras da teoria do Bom Selvagem de Rousseau, tendem a auto-culpabilizar a Sociedade pela situação de marginalidade desses cidadãos que, voluntariamente, se degradam e afastam das regras mínimas da convivência.
As autoridades tendem a avaliar o nível de segurança pela análise dos dados obtidos através da participação efectiva dos crimes. Mas, na realidade a percepção do nível de insegurança é muito mais importante para a definição da necessidades de segurança que a estatística do crime. Esta está ferida de credibilidade, já que, amiúde, por falta de confiança no sistema judicial, as pessoas já não se dão ao trabalho de apresentar queixa, introduzindo assim, como efeito perverso, uma distorção naqueles valores.
Por outro lado, as forças encarregadas da prevenção e repressão do crime encontram-se muitas vezes fragilizadas pela falta de orientação e apoio da própria tutela. A credibilidade das polícias é extremamente vulnerável à ausência de solidariedade das altas esferas políticas muitas vezes formadas por gente que não se consegue libertar da matriz ideológica dos anos 60, normalmente assente num substrato que oscila entre o marxismo pacifista e o socialismo mata-frades. É por demais evidente que o medo que as pessoas têm do crime quer ele corresponda ou não à realidade dos factos, provoca uma alteração substancial nas suas actividades e formas de vida, com trágicas consequências para a coesão identitária colectiva.

segunda-feira, julho 18, 2005

Ynestrillas

Filho de um militar assassinado pela ETA, o meu amigo Ricardo cumpre pena numa prisão de Segóvia por alegadamente ter baleado um traficante de droga. Protestando sempre a sua inocência, decidiu não fugir e resolveu enfrentar a Justiça Espanhola de cara al sol. Lixou-se e apanhou 7 anos.
Ricardo que entretanto concluiu a licenciatura em Direito, desespera pela mudança de estatuto que normalmente é atribuída a detidos com bom comportamento depois de metade da pena cumprida. Com a impetuosidade que o caracteriza, Ynestrillas resolveu iniciar hoje uma greve de fome até que as instâncias judiciais (provavelmente de férias) respondam aos seus pedidos.
Não o esqueçam nas vossas orações !

quarta-feira, julho 13, 2005

OS CHINESES

SODOMA DIVINISADA


Segundo Raul Leal, o irmão Henoch, ...

O fascista mais avançado ...

Quem havia de dizer; segundo Jesus Suevos, Humberto Delgado, dotado de grande ambição, pouca paciência e menos prudência, era o fascista mais avançado que conheceu em Portugal.

...
Era então chefe da Legião Portuguesa o jovem e muito inteligente Costa Leite Lumbrales, que depois foi muitos anos ministro dda Presidência às ordens imediatas de Salazar. Fomos ele e eu os oradores de um ressoante acto público em plena Lisboa. Porém, poucos dias depois, num banquete que aos espanhóis dedicou a Legião, no Casino do Estoril, não tendo Costa Leite podido comparecer por motivo de uma ocupação inesperada, em seu lugar ofereceu o banquete um capitão da Aviação, comissário da Mocidade Portuguesa, que se chamava Humberto Delgado. Almoçámos, pois, juntos e, como é natural, falámos todo o tempo de política. O então capitão Delgado era um homem entre os trinta e cinco e os quarenta anos, muito moreno, corpulento e com uma enorme vitalidade. Expressava-se com grande veemência e pareceu-me pouco prudente, pois sem encomendar-se a Deus nem ao diabo começou a dizer-me que achava o regime português “pouco fascista”. Confessou-me que admirava Mussolini e que lhe parecia necessário “endurecer” a Legião portuguesa e, sobretudo, a Mocidade. O agora chefe da oposição “democrática” ao Estado Novo edificado por Salazar cria que ainda havia demasiadas reminiscências liberais nas junturas das instituições e fórmulas do novo regime, e advogava “maior força e severidade”.

Tradução de um artigo de Jesus Suevos, no Arriba de 29 de Janeiro de 1961

terça-feira, julho 12, 2005

Ganda fascista ! É o Delgado pois !

olá pessoal

Aqui o velhadas resolveu dar uma de cibernauta e arrotar postas de pescada na bloggosfera.