No conhecido areópago do desestruturalismo, a sala de teatro do Grupo Reich-Brecht (um antigo ring de box dos anos 30, ao Poço dos Negros), meia dúzia de espectadores preparam-se para assistir a mais uma representação teatral experimental interactiva.
O conhecido actor Zecamano, anuncia a função:
quero agracer a todos vocês a vossa presença, só possível pelo generoso subsídio do Ministério da Cultura, tam-a-ver, e convidá-los desde já a comungarem (eh!, eh!)com os profissionais que stamos a pisar este palco que é de todos nós e assim fazer um mingle como dizia o P ao cubo, o Piero Paolo Pasolinni. Queremos fazer uma cena baril e para isso contamos com vocês. Improvisem, libertem-se dos restos de espírito burguês e, sobretudo agora, que os fascistas ressuscitaram o gajo de Boliqueime, a Cultura vai ficar ameaçada. Fd..., bora Vamos começar.
No centro do palco quadrado, dois imigrantes africanos colocam uns painéis de madeira a dar ares de confessionário. No improvisado interior, um jovem Loução senta-se e entre salmúdicos cochichos, prepara-se para receber uma pecadora. Avental Dias ajoelha-se e, qual filha pródiga, diz:
Apalpai-me, Mestre que pequei!
Como penitência, Loução manda-a fazer sexo com a assistência para se libertar dos demónios.
O enurético Fernandinho Rosas mija-se e, com excepção do Chico Matumbo e da Ana Milmulheres, o resto da assistência retira-se apressadamente para intervalo.
Prudentemente, alguém espreita para a sala e como a Avental não está à vista, voltam todos para o lugar. Surge em palco novo personagem (aplausos). É o viril Herman. Baixa o profile e pede de beber ao Mestre. Este manda-o logo para Monchique, para desenfastiar. Mas proibe-o de ingerir garotos que lhe fazem mal ao fígado...
O enurético Rosas faz chichi, de novo, e já tresanda.
Michael Portas, afectado pelo atrasadismo familiar, só então chega e, sentando-se ao lado de Rosas, exclama em voz alta :
Porra pá! Vê lá se tomas banho !
E o enurético Rosas urina-se mais uma vez.
No palco, sozinho, acabrunhado, sem clientela, Loução propõe que cantem em conjunto a Internacional.
Cumprida a função, Zecamano regressa ao palco para anunciar:
Para a próxima há mais !
Entediada, a assistência retira-se...
sexta-feira, janeiro 27, 2006
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