Quando eu era pequeno minha avó contava-me pequenas histórias e fábulas. Nem todas tinham um final feliz o que me fazia, por vezes, chorar. Para além da história da carochinha que muitos sabem de cor, mesmo na versão do ratão Hamas a cair no caldeirão (merecidamente, pelo atrevimento, ora essa!), minha avó contava-me outra, igualmente triste, igualmente trágica. Ei-la:
Era uma vez um senhor chamado Jacó que vivia afanosamente num vetusto prédio, banhado pelo Sol e refrescado pela Lua. Nesse espaço colectivo, degradado pela incúria de sucessivos proprietários absentistas, viviam também o senhor Abdullah e os seus primos Fareed e Ibrahim. Na cave, sub-alugada pelo senhor Zacaria, dormia ocasionalmente Michel Hadad. Uns residentes trabalhavam no comércio, outros na agricultura e alguns (poucos) nas pequenas indústrias que se iam instalando aqui e acolá.
E um dia o senhor Jacó recebeu um aflitivo telegrama de uma prima que lhe relatava, em breves mas dramáticas palavras, a perseguição que toda a parentela estava a sofrer na terra longínqua em que há muito viviam. Tinham que fugir urgentemente e queriam saber se podiam contar com o parente para os acolher. Jacó pensou, pensou e respondeu que sim; que lhe dessem algum tempo...
Interiorizando o atávico apelo familiar, Jacó assumido descendente de gerações de antigos proprietários do imóvel, provavelmente os seus construtores, idealizou um plano para arranjar espaço para a família em aflição.
Um belo dia em que se cruzou sob uma palmeira com Ibrahim, deixou cair, como quem tem relutância em dizer tudo, que talvez fosse melhor o vizinho andar de olho em Hadad porque lhe tinham dito que este parecia andar a rondar a sua filha Aisha com propósitos inconfessáveis. Acrescentou, é claro, que, provavelmente, tudo não passaria de um boato de gente maledicente. Ibrahim espumou de raiva e, na primeira oportunidade, confrontou Hadad que lhe retorquiu incrédulo e mal-disposto que não estava para lhe aturar insolências e que o melhor era ele ver o que se passava com Mohamed, filho de Fareed. Instalada a intriga, as famílias rapidamente hiperbolizaram a desconfiança e as disputas e os confrontos verbais e físicos tornaram-se habituais. Jacó, com risinho misantrópico, mandou a mulher apresentar queixa na Polícia contra os vizinhos que estavam a tornar a sua vida insuportável. E queixou-se igualmente ao senhorio... Preocupado com a visibilidade que o assunto estava a dar ao prédio, Zacaria disse a Hadad que tinha que ir-se porque ele não tinha contratualmente o direito de sub-alugar. Mas antes que Zacaria visse a sua determinação executada, por denúncia de Jacó, já o senhorio estava ao corrente da situação e rescindiu o contrato com Zacaria dando-lhe ordem de despejo. Jacó, através da aproximação ao senhorio e prometendo-lhe uma renda maior, alugou o espaço devoluto e mandou vir o primo Ytzak e a família.
Passado algum tempo, também Ytzak apresentou queixa ao senhorio sobre o comportamento indesejável dos outros inquilinos. Com Jacó tu-cá-tu-lá com o senhorio, a quem prometia rendas mais elevadas se este lhe alugasse os outros apartamentos, o processo foi rápido e contou com a conivência e colaboração da Polícia que, pela força bruta, despejou do prédio os Fareed, os Abdullah e todos os seus parentes e amigos.
Revoltados, resolveram acampar em frente do prédio, inicialmente como forma de protesto. Como os recém chegados primos e amigos de Jacó tivessem tomado conta de toda a economia local, para sobreviver, muitas mulheres tiveram que ir trabalhar a dias paras as casas em que antes habitavam. Nas suas brincadeiras infantis, os seus filhos carregavam o ódio e aversão aos que haviam ocupado o prédio em que antes as suas famílias haviam vivido e, por vezes, apedrejavam os filhos dos actuais inquilinos que respondiam com tiros de caçadeira invocando o direito de resposta e de defesa. Mercê da vocação (e poder) empreendedor dos seus novos residentes o prédio havia adquirido um novo look, tornara-se mais apresentável e tinha mesmo um heliporto no telhado. Pela gestão de influências, pela firme e contundente forma como respondiam às invectivas dos anteriores residentes foram ficando. Invocando o usocapião, assumiram a posse efectiva de tal forma que o proprietário se viu obrigado a deixar-lhes o prédio em herança... Consolidados nessa posse, ainda hoje manifestam surpresa e indignação por terem de continuar a defender-se das pedradas dos filhos e netos de Abdullah e seus amigos.
sexta-feira, julho 28, 2006
terça-feira, julho 25, 2006
quinta-feira, julho 20, 2006
terça-feira, julho 18, 2006
segunda-feira, julho 17, 2006
Zapatea meu bem, zapatea... que não nos roubarás a História
Exactamente 70 anos atrás, são 16h23.
Chefiado pelo Sargento Joaquim Sousa Oliveira, um pequeno destacamento do Tercio, penetra no pátio da Alcazaba (onde tinha sede a Comissão Geográfica de Limites, em Melilha-a-velha) e tem na sua mira o Tenente Zaro, dos Serviços de Informação e Segurança, onze Guardias de Asalto e quatro polícias. Alertados por um bufo, tinham vindo proceder a um busca nas instalações, por ordem do delegado do Governo em Melilha. Aí se encontravam reunidos os T./Cor. Seguí, Bartomeu, Gazapo, Zanón, Medrano, dois capitães da Guardia Civil, vários tenentes e alguns falangistas. Um dos tenentes, o legionário, Júlio de la Torre, perante o aparecimento de Zaro, conseguiu escapulir-se sorrateiramente e, por telefone, ligou para o vizinho quartel da Legião, solicitando ajuda.
Seguí, tinha sido juntamente com Franco, em Tenerife, e Sanjurjo, em Lisboa, um dos destinatários do telegrama cifrado que, desde Bayonne, Félix Maíz, às ordens de Mola, El Director,tinha enviado às 7h15 da manhã do dia 17 a anunciar a sublevação para as 00h00 desse dia. Preventivamente, alguns tabores de Regulares haviam sido trazidos para os arredores de Melilha no dia anterior.
Às 16h32, os conjurados que sabem contar em Melilha com menos de uma centena de soldados de confiança convocam por telefone as guarnições da Legião e dos Regulares da região que rapidamente se lançam sobre a vila e a dominam.
Resistência só a houve na Base de hidroviões de Atalayón, onde cairam as primeiras vítimas da GCE, dois soldados de Regulares. A resistência cessou quando o tabor do Major Mohammed El Mizzian se incorporou no ataque e pelas 18h30 tudo estava terminado.
Os radiotelegrafistas de Marrocos quase todos afectos à Frente Popular rapidamente haviam difundido as notícias da sublevação vitoriosa. Em Madrid, apesar dos esforços de Casares Quiroga para esconder os factos e anestesiar a opinião pública, as células da maçónica UMRA tomam a iniciativa e posicionam-se nos pontos críticos do Poder militar. Da mesma forma procede a Generalitat, na posse de preciosa informação sobre os cabecilhas dos conjurados.
Tudo se prepara para o dia seguinte.
Às 21h00, Melilha está ocupada e tranquila e os sublevados são secundados em todo o lado pelas populações civis e pelas autoridades marroquinas.
Afinal, contrariamente ao que pensava La Pasionária,os carneiros não se resignavam a morrer em Holocausto...
Chefiado pelo Sargento Joaquim Sousa Oliveira, um pequeno destacamento do Tercio, penetra no pátio da Alcazaba (onde tinha sede a Comissão Geográfica de Limites, em Melilha-a-velha) e tem na sua mira o Tenente Zaro, dos Serviços de Informação e Segurança, onze Guardias de Asalto e quatro polícias. Alertados por um bufo, tinham vindo proceder a um busca nas instalações, por ordem do delegado do Governo em Melilha. Aí se encontravam reunidos os T./Cor. Seguí, Bartomeu, Gazapo, Zanón, Medrano, dois capitães da Guardia Civil, vários tenentes e alguns falangistas. Um dos tenentes, o legionário, Júlio de la Torre, perante o aparecimento de Zaro, conseguiu escapulir-se sorrateiramente e, por telefone, ligou para o vizinho quartel da Legião, solicitando ajuda.
Seguí, tinha sido juntamente com Franco, em Tenerife, e Sanjurjo, em Lisboa, um dos destinatários do telegrama cifrado que, desde Bayonne, Félix Maíz, às ordens de Mola, El Director,tinha enviado às 7h15 da manhã do dia 17 a anunciar a sublevação para as 00h00 desse dia. Preventivamente, alguns tabores de Regulares haviam sido trazidos para os arredores de Melilha no dia anterior.
Às 16h32, os conjurados que sabem contar em Melilha com menos de uma centena de soldados de confiança convocam por telefone as guarnições da Legião e dos Regulares da região que rapidamente se lançam sobre a vila e a dominam.
Resistência só a houve na Base de hidroviões de Atalayón, onde cairam as primeiras vítimas da GCE, dois soldados de Regulares. A resistência cessou quando o tabor do Major Mohammed El Mizzian se incorporou no ataque e pelas 18h30 tudo estava terminado.
Os radiotelegrafistas de Marrocos quase todos afectos à Frente Popular rapidamente haviam difundido as notícias da sublevação vitoriosa. Em Madrid, apesar dos esforços de Casares Quiroga para esconder os factos e anestesiar a opinião pública, as células da maçónica UMRA tomam a iniciativa e posicionam-se nos pontos críticos do Poder militar. Da mesma forma procede a Generalitat, na posse de preciosa informação sobre os cabecilhas dos conjurados.
Tudo se prepara para o dia seguinte.
Às 21h00, Melilha está ocupada e tranquila e os sublevados são secundados em todo o lado pelas populações civis e pelas autoridades marroquinas.
Afinal, contrariamente ao que pensava La Pasionária,os carneiros não se resignavam a morrer em Holocausto...
A indelével coerência do Ser...
Quand on ne vit pas comme on pense, on finit toujours par penser comme on vit...
Paul Bourget
Paul Bourget
quinta-feira, julho 13, 2006
segunda-feira, julho 10, 2006
L'arroseur arrosé ou Un chien...catalan
Gostei imenso da derrota da França. A arrogância e o desplante egocêntrico da sua equipa obrigaram-nos a morder a língua e a meter o dedo indicador com que tanto apontaram para a equipa portuguesa no sítio onde os galos põem ovos. Sobretudo o cínico catalão Domenech.
Tentaram o truque do espirro para meter medo com a gripe das aves (e não é que conseguiram um penalty!?) mas a força da MAFIA azzurra foi mais forte! Morte Alla Francia Italia Avanti como no tempo das grilhetas napoleónicas.
Tentaram o truque do espirro para meter medo com a gripe das aves (e não é que conseguiram um penalty!?) mas a força da MAFIA azzurra foi mais forte! Morte Alla Francia Italia Avanti como no tempo das grilhetas napoleónicas.
quinta-feira, julho 06, 2006
O quase... sempre o quase...
No refluxo do Sonho a constante amargura do Quase...
Na brilhante performance da nossa Equipa faltaram pernas para a ponta final e o Galo gabarola cantou mais alto.
Paciência e esperemos pela próxima organização do mafioso Blatter.
Na brilhante performance da nossa Equipa faltaram pernas para a ponta final e o Galo gabarola cantou mais alto.
Paciência e esperemos pela próxima organização do mafioso Blatter.
terça-feira, julho 04, 2006
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