segunda-feira, abril 10, 2006

Até amanhã, em Jerusalém...

Meu caro Jans

Hesitei em escrever este postal, sobretudo para evitar contrariar os teus desejos de não voltar a mexer no assunto. Mas o sentido da Justiça e da Verdade está de tal maneira inculcado em mim que não pude resistir ao ímpeto.
*Sabes como ninguém que nunca fui, não sou, não quero ser (e tenho pó a quem o é) nacional-socialista. Não precisei, contudo, para assumir essa convicção de ser influenciado pelas revelações de genocídios provocados pelos alemães; bastava-me a ideologia apregoada, nomeadamente a sua essência e substância...
*Far-me-ás a justiça de acreditar de que tampouco sou anti-semita; sendo militantemente não racista e procurando fazer crescer no meu coração a semente que o Deus de Abraão, pela vida e paixão, do seu Ungido, lá me colocou só por pura miopia poderia ter uma posição contrária.
*Os genocídios provocados pela Guerra, tenham sido pelos alemães, russos, romenos, japoneses, ingleses ou americanos são factos históricos e só uma pequeníssima franja de historiadores (ou equiparados) os contesta (sobretudo no que diz respeito aos alemães e romenos porque quantos aos outros ninguém abre a boca). Parece-me normal se atendermos à chamada distribuição uniforme do tratamento da informação.
É natural que a indignação provocada pelo desequilíbrio ético na condenação de todos os fenómenos de repressão, segregação, humilhação, tortura e execução de seres humanos leve a atitudes exacerbadas que tocam o limiar do admissível.
*Lamento (como poderia ser de outra forma?) o assassínio de grande quantidade de judeus (os seis milhões não são mais do que um cliché como o é o milhão de mortos da GCE), como de ciganos, de católicos e sobretudo de eslavos que pereceram às mãos dos alemães. Como não posso deixar de lamentar os seres humanos que foram violados, torturados e assassinados por comunistas, por ingleses e por franceses. Na morte, não lhes destingo o sangue, a fé, a cor ou as razões.
Dito isto, como prœmio, e face ao manifesto exagero que tem havido na monopolização das vítimas dos genocídios como sendo eminentemente judaicas (como se a vida de um judeu valesse mais do que a de um não judeu) não posso deixar de manifestar a minha repulsa, em nome da Justiça e da Verdade pelo facto de terem transformado num crime a simples reflexão sobre se o genocídio dos judeus durante a Segunda Guerra mundial foi resultado das circunstâncias adversas da guerra e, obviamnete, dos vectores ideológicos que enformavam o regime nazi ou correspondeu de facto a uma sistematizada e projectada Solução Final para o chamado problema judaico do Centro da Europa. Para os mortos e seus familiares e para os sobreviventes a questão é porventura despicienda mas para o registo histórico honesto ela é importante. Impor dogmas em História é, à partida, permitir a mentira e o triunfo do Oblivion.
Porque é que se não pode perguntar porque é que que Rudolf Hess que praticamente não fez a guerra, foi condenado como criminoso de guerra? Ou terá sido por delito de opinião ?
Porque se fala à boca pequena de Katyn, de Trieste e da entrega dos exércitos de Vlasov? Dos criminosos bombardeamentos de Dresden e Hamburgo ? Da sistemática violação de mulheres alemãs, austríacas, polacas, romenas e húngaras pelos russos e pelos americanos (as francesas que o digam)? Justiça Væ Victis?
Muita dessa insistência na Shoa como essencialmente orientada para os Judeus acaba por se virar contra eles como muito bem percebeu Norman Finkelstein e o denunciou na Indústria do Holocausto.
E depois, pela empatia com as vítimas assinadas do genocídio nazi, se concluir que tudo lhes é devido e permitido, parece-me um disparate igualmente grave. Os palestinianos, igualmente semitas e seres humanos, têm o mesmo direito a existir que os judeus como estes o tinham em relação aos alemães.
Tenho-me (ponho de lado qualquer falsa modéstia) por ser um entendido curioso nas coisas judaicas que sempre me apaixonaram (provavelmente por ascendência de que muito me orgulho)e seria dos últimos a considerar-me anti-judaico. Mas não aceito racismos velados nem duplicidade de pesos e medidas.
E creio que nem tu nem o P.C.P. gostariam de estar na mesma fotografia que o caricato Rato mas por vezes o vosso raciocínio é demasiado maniqueista para o meu gosto.

Brevemente iniciarei a postagem de canções da diáspora judaica portuguesa...

3 comentários:

Paulo Cunha Porto disse...

Oh, Engenheiro, gostava de saber se o «P.C.P.» sou eu. Se sim, a resposta será diferente, necessariamente da que seria dada a outra correspondênciaà sigla.
Ab.

o engenheiro disse...

Claro que és tu!

Paulo Cunha Porto disse...

Caríssimo:
finalmente respondi-Te, no meu novo blogue, «Calma Penada».
Abraço, para lá das polémicas.