quarta-feira, outubro 12, 2005

Rui Falcão de Campos

Violência
À memória de Onésimo
Redondo, vítima da F.A.I.

A violência é o que resta,
Quando nos roubaram de tudo.

Quando a voz falece
No fundo da garganta seca;
E quando na confidência da sombra
Se movem sombras inconfidentes;
E quando o cansaço se muda em raiva,
A tristeza se muda em amargura,
A ânsia em fúria,
Fúria em Força
Força Insurrecta...

E quando a justiça soluça
E Mariana calca aos pés as liberdades;
Quando, enfim, a gente se sente mais livre,
Quando se encarna o sobressalto,
Ao desprender-se da própria vida.
Os bosques se enchem de faunos,
E os vampiros rondam de madrugada,
E a suspeita viola a cidade...
Quando nos roubam de tudo,
A honra e a dignidade
Tomam a humana condição
Numa palavra só:
“Violência”.
Lisboa, 1980

1 comentário:

Anónimo disse...

Este Falcão de Campos é um grande poeta.