Habituado a procurar ler nas entrelinhas a verdade dos factos, subjacente à tão costumada deturpação (umas vezes por inépcia e ignorância, outras, por má-fé) da nossa caseira comunicação social, tenho ficado desconfortavelmente abstruso em relação ao que me chega de Timor.
Muitos colocam a tónica num conflito entre Xanana+Ramos Horta e Marí Alkatiri+Fretilin radical. Muitos deles, contudo, não hesitam em dar ao conflito uma natureza de dicotomia étnica Loro Munu-Loro Sae, ou seja, em Português, Oeste-Leste.
E onde pára o incontornável vector de poder que é a Igreja Católica?
Bom, confesso-vos que, após alguma reflexão, tudo me cheira muito mal; aliás, cheira-me a gás... e a petróleo.
Como pôde a Austrália reagir tão rapidamente? Será coincidência o facto de as tropas que se revoltaram (inicialmente de forma individual mas rapidamente agregada) terem sido treinadas pelos australianos ao abrigo dos acordos de cooperação? Muitos deles, jovens, falam inglês como mais ninguém fala na Ilha. Será um simples acaso o facto do refractário Alfredo, comandante da Polícia Militar, ser desde há muito um elemento de confiança dos americanos e próximo dos círculos de convívio do Director da Rádio, um elemento tido por ser da CIA? A confusão aumenta quando se verifica que a pouco vigiada fronteira com a Indonésia tem permitido a livre circulação de antigos elementos das milícias pró-Jacarta, a modos como que para apontar uma falsa pista, ou uma manobra de diversão se se quiser.
Estranhamente, os interesses de Timor e dos timorenses (e também os de Portugal) estão com o governo de Alkatiri e não com os defensores do vector australiano/americano personalizado na mulher de Xanana, no candidato a S-G da ONU, Ramos Horta e em ... Jill Joliff (do you remember her?).
O Governo insiste em impôr a língua e a legislação de orientação portuguesa para insatisfação e incredulidade da Austrália que há muito pretende tornar Timor numa colónia sua. Alkatiri, no exercício pleno da soberania, tem vindo a negociar com os chineses a exploração do gás natural do território face às dificuldades que sentiu nas negociações com a Austrália sobre a exploração do petróleo no Mar de Timor. Camberra apelou para a solidariedade americana (é de notar que o relatório do Echelon falava do eixo Washington, Londres, Ottawa, Camberra)e conseguiu convencer os primos a darem-lhe o aval para avançar com o plano (em meu entender esta foi sempre a 2ª fase subsequente à desanexação de Timor à Indonésia e o preço a pagar por ela). Jill Joliff tem-se empenhado ultimamente em apresentar Alkatiri como um islamita convicto, para, de uma forma subliminar, acordar o boçal maniqueísmo de Washington, levando-o a ver fantasmas e esqueletos onde há apenas paisagem...
Desconsiderada e acossada pelo Governo, a Igreja, passada a simpatia inicial pelos revoltosos (o inimigo do meu inimigo meu amigo é), emendou a mão e remeteu-se para o seu papel crucial na ajuda aos refugiados, evitando tomar partido.
Os dados estão lançados; a GNR com um pequeníssimo contingente vai ser crucial para o processo mas não sei se vai estar preparada para lidar com o seu principal adversário- as forças australianas ou, logo de início, os seus sequazes. Não é por acaso que os australianos não têm desarmado os ditos oriundos de Loro Munu, tendo-o feito apenas com os militantes mais radicais da Fretilin, estupidamente armados às ordens do Ministro Lobato, um radical fretilinista.
Taúr Matan Rúak, na sua humilde condição de servidor do Povo ainda hoje se deve interrogar porque é que sacrificou tanto tempo no maquis...
segunda-feira, maio 29, 2006
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3 comentários:
Excelente relato mas falta uma menção honrosa: o que faz Portugal!?
Pergunta idêntica: o que não faz Portugal!?
Ah pois é, somos pobrezinhos, insignificantes, fados e guitarradas...e a contar com a Igreja Católica, claro. E aqui, a votar nos ateus, claro.
Mas porque é que eu nasci nesta terra de gente boçal e medrosa!
Serei um deles?
O Xanana deve ter costela portuguesa: afinal sempre esteve tudo bem com o Alkatiri! Bem , segredos tenebrosos devem os dois guardar bem guardados. Isso também explica muita coisa, não é só gaz e petróleo.
Cumprimentos e que me desculpe o excesso do comentário.
Uma belíssima e lúcida análise, embora em alguns pontos não concorde consigo na totalidade.
Ontem publiquei um post em que chamava a atenção para as aspirações hegemónicas da Austrália e a minha grande dúvida é se o povo Português alguma vez se aperceberá disso.
Cumprimentos.
O Velho da Montanha
http://ovelhodamontanha.blogs.sapo.pt
Excelente análise.
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