terça-feira, março 07, 2006

Premonição

Muitos se têm perguntado quem era Fernando Tavares Rodrigues.
Não cabe aqui descrever o seu vasto curriculum. Apenas deixar um pequeno apontamento sobre a sua sôfrega poesia; deixemos para mais tarde uma análise crítica da sua obra literária... Do seu livro MEMÓRIAS DE CORPO INTEIRO, editado pela Cognitio, em 1983


SINTO

Sinto que sinto demais...
Se eu sentisse que morria,
Não morria.
Mas quero sentir que morro
porque entre estar morto
e não estar vivo
não há nada.




EPITÁFIO

Quando eu morrer para o mundo
quero que me enterrem fundo
para não ouvir mais passos
nem sentir falsos abraços.
Mas não tão fundo
que se esqueçam que vivi...

Embrulhem-me num lençol
e deixem-me dormir em paz
mesmo que esteja sol
que a mim já tanto me faz.

Se houver lágrimas, saudade
escrevam-me, então, um poema
mas que não seja eu o poema
nem fale da minha idade.

Senão deixem-me dormir,
que as flores hão-de florir
mesmo sem mim.
E, por fim,
afastem-se devagar
não vá de novo acordar.

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