quarta-feira, março 15, 2006

Zé do Povo

No desenrolar do processo político que sucedeu ao PREC, foram envidados todos os esforços, umas vezes de forma subtil, outras com grande descaramento, para branquear os acontecimentos histórico-políticos que se sucederam ao 25 de Abril. A nomenklatura que então se assenhoreou do Poder fez sempre passar a mensagem (comunicação social, sistema educativo, etc.) de que, com o 25 de Novembro, se havia reposto a legalidade inerente a um Estado de Direito e que tal havia sido conseguido exclusivamente pela acção corajosa dos oficiais agrupados à volta do denominado Grupo dos 9. Num só passe de mágica, limpava o curriculum torcionário de oficiais como Pezarat Correia, atribuía ao PREC o qualificativo de excessos expectáveis numa revolução (ilibando de responsabilidades os seus principais actores) e atirava para o oblívio histórico o papel fundamental desempenhado pelas revoltas populares, mais ou menos enquadradas por patriotas atirados para a clandestinidade ou por alguns elementos do Clero. Basta ouvir as declarações do futuro Marechal Eanes nas comemorações do 25º aniversário do 25 de Novembro para perceber o que esconde a minimização do papel desempenhado por pessoas como o Cónego Melo ou por movimentos como o MDLP que, apesar de liderado pela figura emblemática do 25 de Abril, o Gen. Spínola, foi rapidamente classificado como de extrema direita e bombista. Francamente, de tanto papaguear o marxismo e o leninismo esqueceram-se do conteúdo das suas teses para apenas reterem os métodos de conquista do Poder. Cabe-nos a nós desmistificar o historial oficial e repor a verdade para memória das gerações futuras. É nesse sentido que resolvi continuar a postar mais músicas, sobretudo as que se enquadrem nos registos históricos dessa época. Vindos do baú do VL, eis quatro musiquitas, na altura, amplamente cantadas nas feiras do Norte e Centro do país por um cantador de intervenção (como então se dizia) intitulado Zé do Povo.


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Quem me arranja a cassette do Quim Barreiros, lançada durante o PREC?

4 comentários:

Flávio Santos disse...

Que delícia! As rimas estão um espectáculo.
Escusado dizer que não conhecia, afinal tinha 6 anos em 1975.

Jansenista disse...

Que maravilha! Sinceramente comoveu-me mais ainda do que o Jan Pallach porque de certo modo era esta a voz das trincheiras, a voz dos caceteiros que pelo país fora foram pondo o PC na ordem enquanto a capital hesitava...
Soube-me assim a uma madalena proustiana: de repente lembrei-me de coisas em que nunca mais tinha pensado - como na resistência popular, se calhar mais genuína do que a nossa, jovens burgueses demasiado impregnados de figurinos estrangeirados.
Que soirée me estou a oferecer a mim próprio com estas canções!

Inês disse...

Adorei estas canções. Não conhecia.
Onde posso arranjar estas pérolas?

poisbem disse...

e quem é que era o zé do povo? eu tenho esse disco, mas sem capa, nao encontro online, nem informação nenhuma. nem na net, nem no disco arranjo informação.
alguem me ajuda?

http://sphotos.ak.fbcdn.net/hphotos-ak-snc3/hs548.snc3/29996_401241286309_741191309_4154253_559947_n.jpg